Primeiro foi a Agência Internacional de Energia, depois veio a Agência Internacional de Energias Renováveis, ainda temos cientistas premiados internacionalmente e agora a DNV GL, esses são alguns dos agentes que já afirmaram que seguindo os investimentos atuais e o ritmo atual de implementação de energias renováveis, o mundo não conseguirá alcançar as metas firmadas no Acordo de Paris para 2030. No caso da consultoria, a afirmação vem como uma das conclusões de seu estudo Energy Transition Outlook 2019, lançado este mês.
De acordo com a empresa, as temperaturas mundiais aumentarão 2,4 graus Celsius até o final do século caso sejam mantidos os investimentos. Isso porque vemos o avanço cada vez maior da transição energética que requer a multiplicação em mais de 10 vezes a energia solar e 5 vezes a energia eólica, e isso, em combinação com outras medidas tecnológicas para limitar o aquecimento global bem abaixo de 2 °C. No relatório Perspectivas de transição energética: fornecimento e consumo de energia da DNV GL, é apontado que a transição está progredindo a uma taxa mais rápida do que o esperado, embora ainda seja muito lento para limitar o aumento global de temperaturas.
Assim como apontado por cientistas durante a Russian Energy Week 2019, a empresa afirma que a tecnologia já existe para limitar suficientemente as emissões para atingir o objetivo climático. O que é necessário para garantir isso são decisões políticas profundas. Para isso, a DNV GL recomenda a adoção de medidas para diminuir o déficit de emissão.

Essa combinação de medidas inclui aumentar a potência da solar para 5 TW e eólica para 3 TW até 2030, o que serviria para atender 50% do consumo anual de eletricidade do mundo. Além disso, multiplicar por 50 a produção de baterias para os 50 milhões de veículos elétricos necessários a cada ano até 2030, juntamente com investimentos em novas tecnologias para armazenar energia e soluções elétricas em excesso, de modo que nossas redes elétricas assimilem o crescente fluxo de energia solar e eólica devido a sua intermitência natural.

 Outro destaque dado é a necessidade de investir anualmente mais de US$ 1,5 trilhão na expansão e reforço de redes de energia elétrica até 2030, que inclui redes de ultraalta tensão e soluções amplas para se adaptar à demanda para equilibrar a quantidade variável das renováveis. Buscar aumento da eficiência energética global em 3,5% anualmente na próxima década, entre outras.
A DNV GL destaca que a pesquisa mostra que a tecnologia pode fechar a lacuna de emissão e criar um futuro de energia limpa, mas o tempo é exíguo. Segundo a empresa, essas medidas tecnológicas só podem ter sucesso se forem apoiadas por medidas políticas extraordinárias. “Apelamos a políticas públicas para expandir e adaptar as redes de eletricidade para combater o aumento de energias renováveis, aplicar medidas para estimular a eficiência energética e empreender uma reforma regulatória para acelerar a eletrificação dos transportes”, aponta a empresa.
Apesar desses dados, o gerente geral da empresa para Energia no Brasil, Tchiarles Coutinho, considera que o Brasil está em uma situação mais favorável no balanço energético uma vez que a matriz elétrica é predominantemente renovável com as hidrelétricas, usinas a biomassa e o potencial do vento e do sol. Com esse potencial todo ele afirma que temos capacidade para contribuir com a redução das emissões.
“Ainda temos um excelente recurso eólico e solar para ser aproveitado em diversas regiões do país. No entanto, para que os objetivos de Paris sejam cumpridos, a transição terá que ser mais rápida aqui também, e será necessário investimentos em infraestrutura, em armazenamento de energia, programas de eficiência energética e em novas tecnologias que permitam o aumento da penetração de renováveis na matriz elétrica e o uso de fontes menos poluentes”, afirmou ele.
No futuro, aponta Coutinho, a previsão do estudo da DNV GL é de que o mix energético, aí considerando a energia primária, é de que o avanço das renováveis passem de uma participação que hoje é de 20% ante 80% dos combustíveis fósseis, para 44% de renováveis e 56% de derivados de combustíveis fósseis tanto para geração quanto transportes. Ele destaca ainda a necessidade e maiores investimentos em armazenamento e em redes inteligentes como forma de gerenciar toda a complexidade que está por vir com o avanço das tecnologias disruptivas, em alguns países de forma mais intensiva que outros em decorrência do atraso em sua implementação, como no Brasil.
O estudo da DNV GL está disponível para download, clique aqui para ter acesso ao material, disponível em inglês.