Os investimentos em fontes limpas, desconsiderando hidrelétricas, atingiram US$$ 133 bilhões em 2018, contra US$ 169 bilhões em 2017, de acordo com o Climatescope, pesquisa anual envolvendo 104 mercados emergentes realizada pela Bloomberg New Energy Finance (BNEF), divulgada nesta segunda-feira, 25 de novembro. O resultado global reflete a desaceleração dos investimentos em renováveis na China, que somaram US$ 86 bilhões em 2018 ante US$ 122 bilhões em 2017.
Segundo a BNEF, esses resultados sugerem que nações em desenvolvimento estão adotando a geração mais limpa de energia elétrica, mas não a um passo suficientemente rápido para limitar as emissões de CO2 globais ou as consequências das mudanças climáticas. Por exemplo, a maior parte da nova capacidade de geração de energia agregada em países em desenvolvimento em 2018 é proveniente da energia eólica e solar. Mas, a maior parte da produção de energia das usinas adicionadas em 2018 virá de fontes de combustíveis fósseis e emitirá CO2. Isto acontece porque a produção de projetos de energia solar e eólica depende da disponibilidade de recursos naturais, enquanto usinas movidas a petróleo, carvão e gás podem produzir 24h.
Além disso, o volume real de consumo e geração de energia pela queima de carvão em países em desenvolvimento saltou de 6,4 mil TWh em 2017 para 6,9 mil em 2018. O aumento de aproximadamente 500 TWh na geração de carvão é praticamente equivalente à eletricidade consumida no Texas em um ano normal. Ao todo, nos 104 mercados emergentes analisados no Climatescope, o carvão representou 47% de toda a geração de energia.
A China, a maior emissora de CO2 do mundo e o maior mercado consumidor de energia limpa, desempenhou um papel fundamental nessa história. Investimentos em novos projetos de energia eólica, solar e outros projetos menores de energia renovável hidrelétrica no país caíram de US$122 bilhões em 2017 para US$86 bilhões em 2018. Essa redução líquida refletiu a queda de US$36 bilhões nos valores de investimento em energia limpa nos mercados emergentes, a maior monitorada até o momento pelo Climatescope.
No entanto, essa queda não se limitou à China. Fluxos para projetos de energia limpa na Índia e no Brasil diminuíram US$2,4 bilhões e US$2,7 bilhões, respectivamente, em relação ao ano anterior. Investimentos caíram para US$133 bilhões em 2018 em todos os mercados emergentes analisados, ficando abaixo não apenas do valor total de 2017, mas também de 2015. Em geral, a redução nos custos de construção de plantas de energia solar e eólica foi um fator importante na queda do número total de investimento em economias emergentes.
“Os resultados da pesquisa Climatescope deste ano são decepcionantes”, disse Luiza Demôro, gerente do projeto na BloombergNEF. “No entanto, com exceção dos grandes países, observamos alguns desenvolvimentos importantes e positivos em termos de novas políticas, investimento e implementação de novos projetos.”
Excluindo a China, Índia e Brasil, os investimentos em energia limpa aumentaram de US$30 bilhões em 2017 para US$34 bilhões em 2018. Destacadamente, o Vietnã, África do Sul, México e Marrocos lideraram os rankings com um total de investimento de US$16 bilhões em 2018. Excluindo apenas a China, novas instalações de energia limpa em mercados emergentes cresceram 21% e bateram um novo recorde, aumentando de 30 GW comissionados em 2017 para 36 GW em 2018. Isto representa o dobro da capacidade de energia limpa adicionada em 2015 e o triplo da capacidade instalada em 2013.
Apesar do aumento na geração a partir da queima de carvão, o ritmo da nova capacidade de carvão adicionada às redes elétricas de países em desenvolvimento está diminuindo, de acordo com o Climatescope. Novas construções de usinas de energia movidas a carvão caíram em 2018 para o nível mais baixo em uma década. Depois de atingir o pico de 84 GW de nova capacidade adicionada em 2015, em 2018 esse número despencou e foram comissionados apenas 39 GW de usinas movidas a carvão. A China foi responsável por aproximadamente dois terços desse declínio.
“A transição do carvão para fontes mais limpas de energia em países em desenvolvimento está acontecendo”, disse Ethan Zindler, diretor das Américas na BNEF. “Mas, assim como tentar manobrar um grande petroleiro, isso leva tempo.”
Os resultados do Climatescope antecedem as negociações climáticas apoiadas pelas Nações Unidas em Madrid. Sob o Acordo de Paris de 2015 da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), mais de 190 países concordaram em reduzir substancialmente suas emissões de CO2 para evitar os piores efeitos das mudanças climáticas. Além disso, no âmbito do pacto, países mais ricos se comprometeram em fornecer US$100 bilhões em financiamento “norte-sul” para auxiliar no crescimento sustentável de países em desenvolvimento.
Os resultados do Climatescope deste ano sugerem que, apesar dos progressos, será necessário esforços substancialmente maiores para cumprir com esse compromisso. Do total de US$133 bilhões em financiamento de ativos captado para apoiar o desenvolvimento de novos projetos de energia limpa nos mercados de países em desenvolvimento, apenas US$24,4 bilhões ou 18% foi originado de fontes externas. Deste total, a maioria veio de fontes de capital privadas, tais como desenvolvedores de projetos internacionais, bancos comerciais e fundos de private equity. Os investimentos provenientes de bancos de desenvolvimento financiados em grande parte com fundos públicos da OCDE aumentaram para um recorde de US$6,5 bilhões em 2018. No entanto, há pouca evidência para sugerir que a meta global de US$100 bilhões por ano em suporte para uma variedade de atividades relacionadas ao clima serão cumpridas no curto prazo.
Além de apresentar as tendências macro de energia limpa em países em desenvolvimento, o Climatescope pontua e classifica mercados individuais de acordo com o seu potencial geral de desenvolver projetos de energia limpa. Pela primeira vez, desde a inclusão do país na pesquisa em 2014, a Índia foi o país com o score mais alto devido a vários fatores, incluindo políticas de apoio. Os outros países nos top cinco incluem Chile, Brasil, China e Quênia, nesta ordem.
O Climatescope é um recurso público que visa ajudar investidores e empreendedores a selecionar oportunidades, autoridades a compreender regulamentos em todo o mundo e pesquisadores a acessar dados recentes de difícil obtenção. A pesquisa Climatescope completa, com dados referentes a todos os 104 mercados emergentes, está disponível em www.global-climatescope.org.