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O projeto que deixará um novo shopping na Bahia independente da rede de distribuição nos horários de pico entra em sua reta final. A previsão é de que ainda em fevereiro o centro coloque em operação o microgrid que opera com energia solar e baterias. O sistema tem potência de 1,5 MWh está sob responsabilidade da Micropower-Comerc que já possui outros três sistemas semelhantes a este no chamado ‘behind the meter’ e ainda outros 100 MWh no pipeline. A história e o objetivo por trás dessa iniciativa vem com o slogan impresso nas camisetas que o fundador e CEO da empresa, Marco Krapels, ostenta, o de ser um diesel killer. E o alvo central não está nesse segmento de mercado, mas em dois dos mais importantes para a economia brasileira, mineração e agricultura.
Atualmente a companhia tem como sócios ainda a Comerc e a Siemens e de seu escritório, o norte-americano, toma como base estudos da Empresa de Pesquisa Energética, de que há no país cerca de 7 GW de energia que são gerados todos os dias por meio do diesel nas cidades durante o período em que o custo da energia é mais elevado. “Nascemos nesse mercado mas as maiores oportunidades para o microgrid no país estão na indústria de mineração, sistemas isolados e agricultura”, revelou ele em entrevista à Agência CanalEnergia.
As maiores oportunidades para o microgrid no país estão na indústria de mineração, sistemas isolados e agricultura. Marco Krapels, CEO da Micropower-Comerc
Ele não estimou qual pode ser a dimensão desse mercado, mas uma das palavras mais utilizadas pelo executivo que já passou pela Tesla e Rabobank, é oportunidade. “Nossa prioridade número está na mineração, é possível reduzir os custos em 20% ao substituir a incerteza e volatilidade do custo do óleo diesel com o uso do microgrid associado a baterias”, afirma ele.
Krapels argumenta que em função desse segmento da economia trabalhar com uma commodity de baixo valor agregado, o fato de ter a previsibilidade de custos por longo prazo ajuda na sua competitividade. Além disso, aponta que a solução da companhia que comanda reduz a pegada de carbono ao substituir o combustível fóssil. A estimativa é de poder diminuir o consumo em 65% e ao mesmo tempo tem um custo 20% menor. “É uma grande oportunidade porque o sol é de graça e renovável. Há muitos fundos de pensão que buscam investimentos de olho em atividades que são sustentáveis para aplicar esses recursos”, acrescenta ele ao apontar que no foco estão novas instalações de mineração e não as já existentes.
Já na agricultura, a empresa vem desenvolvendo um projeto piloto a ser implementado em algum ponto na divisa entre os estados de Minas Gerais e Bahia. Ele não revela o local exato. Ali a empresa conduz uma solução para irrigação. Krapels explica que naquela área estão concentrados os elementos para esse piloto, terra improdutiva, seca, sem conexão com a rede básica e com disponibilidade hídrica no subsolo.
Ao lado da mineração, lembra Krapels, a agricultura é outra atividade que representa uma importante parcela da economia brasileira e da formação do PIB nacional. Para atuar nesse segmento o piloto em desenvolvimento prevê um microgrid com 2 MWh em baterias. A perspectiva é de aplicar a ideia em regiões que estão degradadas e improdutivas como forma de recuperar essas áreas para a expansão da atividade agrícola, um fator fundamental para a continuidade do crescimento do setor primário local e sem a necessidade de avanço rumo à Amazônia.
“Por ser uma região seca  temos uma perspectiva de geração solar e quando não gera durante o dia é porque, em geral, está chovendo, e logicamente, não é necessário que seja irrigada”, analisa. “Há uma grande oportunidade nesses dois segmentos em alguns anos”, define.
Outro vetor de crescimento é o atendimento a áreas isoladas no país. A proposta da Micropower-Comerc é a de trazer perspectiva de reduzir a dependência da região do diesel. São, segundo seus cálculos, 455 MW em potência instalada por ali que poderiam utilizar a solução da empresa. A meta, continua, não é a de concorrer com os atuais geradores que operam na região, mas oferecer a solução substituindo o diesel. Ele conta que é possível reduzir o custo com o combustível e aumentar os ganhos ao mesmo tempo que se proporciona a geração de energia mais limpa para aquela região. Como consequência, acrescenta, é possível alcançar a redução dos custos com a tarifa de energia uma vez que a maior parcela da CDE está justamente no financiamento do combustível para essas regiões, a CCC.

Instalação de microgrid em restaurante na cidade de São Paulo

O orçamento da CDE para 2020 será de R$ 21,912 bilhões, e a conta dos subsídios a ser paga pelos consumidores no ano que vem ficará em R$ 20,1 bilhões. As despesas da CDE tiveram aumento de 8% (R$ 1,7 bilhão), em consequência, principalmente, do aumento dos gastos de combustível para geração de energia em Boa Vista (RR), após a interrupção no fornecimento de energia elétrica pela Venezuela. A CCC somará neste ano R$ 7,489 bilhões em despesas a serem custeadas por consumidores cativos e livres.

Apesar das prioridades elencadas, Krapels afirma que o microgrid nas cidades continua a ser um bom negócio. A questão é que em grandes projetos um contrato apenas pode significar algo como R$ 100 milhões, enquanto na cidade os valores podem girar na casa de R$ 5 milhões, ou seja, o esforço comercial acaba sendo muito maior para atuar em centros urbanos no behind the meter. Mas, continua, não despreza esse mercado por ser representar um grande potencial, como apontado pela EPE.
O entusiasmo do executivo é lastreado nas estimativas de que os preços das baterias estão em queda e continuarão a cair. Ele cita estudos da BloombergNEF datados de dezembro de 2019 que estimam a continuidade da redução dos valores desses dispositivos. Enquanto em 2010 a pesquisa apontava um valor para as baterias de íons de lítio de cerca de US$ 1,2 mil/kWh, esse valor recuou a US$ 156/kWh. E a curva descendente tende a continuar, em 2024 para US$ 93 e 2030 em US$ 61/kWh.
Ao mesmo tempo a curva de novos projetos em desenvolvimento segue o caminho inverso. Segundo a BloombergNEF, em 2015, o volume de projetos que combinam sistema behind the meter com a rede somaram 834 unidades, avançaram em 3.511 em 2018, 6.506 ano passado e em 2022 podem alcançar cerca de 20 mil sistemas, adicionados globalmente. E conforme aumenta o volume o capex declina, de US$ 338/kWh em 2019 para um valor estimado em US$ 168/kWh em 2030.
Apesar do otimismo, ele vê ainda como um problema à competitividade o atual nível de tributação sobre as baterias. Ele calcula em algo próximo a 65% do preço total do dispositivo no país. Um nível considerado demasiadamente alto e que ajuda a desacelerar a demanda. Ele conta que a solução poderia ser muito mais barata se não fosse a tributação que além de alíquotas elevadas estão em cascata. Outro ponto que ele vê com atenção é a volatilidade do dólar que ultimamente vem alcançando níveis elevados. Para mitigar esse fator é necessário recorrer a instrumentos financeiros como o hedge para proteção da empresa. Para Krapels, uma moeda estável ao nível de R$ 3,50 a cada dólar seria adequado.