“O mundo fez a escolha pelas renováveis, anteriormente veio pela questão ambiental e hoje se dá por razões econômicas. A energia renovável seja ela centralizada ou distribuída, deixou de ser apenas bonitinha para também ser barata, hoje se compra eólica ou solar por algo entre US$ 20 a US$ 25 o MWh, é um processo irreversível e vem alterando o mix em todo o mundo, trazendo para um mesmo ponto de equilíbrio países que eram essencialmente híbridos como o Brasil e Canadá e os térmicos como a Europa tradicional e os Estados Unidos”, disse ele, durante sua apresentação no painel de Energia do Informa Meeting 2020, evento realizado nesta quarta-feira, 12 de fevereiro, em São Paulo, pela Informa Markets-Grupo CanalEnergia.
Na esteira desse processo, comentou ele, o armazenamento tem ganhado espaço ao passo que os preços das baterias recuam. Com esse cenário é necessário que haja a modernização dos mercados para que consiga acomodar esses novos caminhos e ao mesmo tempo os legados, ou seja, aqueles que estão em vigor. Ao mesmo tempo, acrescentou ele, tem que ser algo que gere inovação e possamos abrir o caminho para o crescimento de um ambiente mais moderno, sustentável e competitivo que é visto com a chegada da eletrificação do sistema.
“Ao passo que temos essa possibilidade passamos a ter outros itens no setor como a mobilidade elétrica, resposta da demanda, negociação de energia entre consumidores, e outros, levando a uma transformação energética”, apontou ele. “As palavras chave para o Brasil são integração, flexibilidade e adaptabilidade, além disso, a mudança de mindset das empresas para se prepararem para um futuro que não sabemos muito bem como está vindo, mas será inevitável”, acrescentou.
O painel apresentado no evento trouxe a experiência e a visão de atores ativos nesse processo, com casos concretos do que vem acontecendo no país atualmente. Na agenda das empresas o tema inovação começa a tomar espaço e esforços para modelar esses negócios do futuro. Dentre os caminhos está o programa de P&D da Aneel que pode ser usado para posicionar produtos para atender a essas novas necessidades. Outra forma é a aceleração de startups que são mais ágeis e possuem estrutura de tomada de decisões menos densas e lentas do que grandes corporações, que apesar dessa característica intrínseca a suas responsabilidades estão se movimentando em busca desse novo mercado.
No caso da Siemens, comentou Paulo Antunes, líder do Mindsphere Application Center da multinacional alemã, o futuro passa pelo ambiente de construção de solução customizada para os clientes. Em sua análise, é necessário entender o que o cliente precisa quando se fala em transformação do setor elétrico. “Vem se falando que dados é o novo petróleo do mundo, e análise correta é fundamental para transformar negócios e este serem melhores”, comentou. Por este motivo, a empresa colocou em operação a unidade de colaboração com seus clientes que está localizada em Jundiaí (SP) há cerca de sete meses.
Lívia Brando, diretora de Inovação e Venture da EDP no Brasil, lembra que o setor vive um momento interessante e que retrata a dimensão das mudanças. “Nos últimos cinco a 10 anos passamos por mais inovação do que nos últimos 50 anos”, apontou. Segundo ela, a empresa vem usando de sua experiência em mercados onde a aplicação de novas tecnologias estão mais avançadas do que por aqui. Assim, a empresa procura traduzir as mega tendências e utilizá-las localmente.
“Um movimento grande para a inovação cria o ambiente favorável e traduz a mudança no comportamento do consumidor”, definiu. Nesse sentido, lembrou, a empresa vem desenvolvendo um projeto de mobilidade elétrica com grandes montadoras para o estabelecimento de uma rede de carregamento de veículos elétricos. No total a empresa teve aprovados na chamada da Aneel projetos que somam R$ 50 milhões.
Segundo Marcel Serafim, gerente geral no segmento de eletrificação na ABB, há uma mudança de comportamento que as empresas devem perseguir e atender com inovações. E esse caminho, que está mais presente no B2B, vem se aproximando do B2C ao passo que os preços dos dispositivos vêm recuando no mercado em geral. Em sua avaliação, todo esse conjunto equipamentos e facilidades vão levar a uma melhoria da performance do setor elétrico.
Fabiana Avellar, diretora de Regulação Estratégica, Marketing e Inteligência de Mercado na CPFL Energia, avalia que para esse novo ambiente chegar é necessário que a regulação avance. Ela lembra que um dos pilares é o incentivo à continuidade dos investimentos na rede com seu devido reconhecimento tarifário. “Precisamos nos adiantar à tecnologia e a regulação deve ser usada para que o país tenha as oportunidades de crescimento”, pontuou Fabiana que acrescentou ainda que o futuro não está tão distante quanto parece.
Para Luiz Barroso, da PSR, o futuro pode chegar em um horizonte de oito a 10 anos. Em sua avaliação são cinco anos para o estabelecimento do marco e mais outro período semelhante para que a tecnologia e seus usos alcancem a lógica econômica. “Mas o bom é que já começamos a discutir esses temas”, ponderou ele, que lembrou o caso da Califórnia onde há um grande volume de baterias instalado, situação esta que veio depois dos reguladores exigirem que o mercado disponibilizasse esses dispositivos por lá.
Com tudo isso, acrescenta Barroso, a discussão acerca de uma campanha de desinformação sobre taxar o sol se torna irrelevante, pois o processo de modernização pode permitir ao consumidor deixar a rede em decorrência das perspectivas que o mercado abre. Seja com a formação de uma comunidade que negocia a energia entre si como existe na Alemanha ou com o sistema de baterias (incluindo o veículo elétrico) onde o detentor de um sistema de geração distribuída pode armazenar sua produção excedente e se desconectar da rede.
Inclusive, lembrou que a tecnologia do blockchain, tema da Reportagem Especial desta semana, é um dos vetores que servirão de plataforma que viabilizará a transação entre essas comunidades. Inclusive, os avanços estão fazendo com que empresas procurem se reposicionar no mercado.