A multinacional ABB colocou em operação a sua segunda subestação digital no país. Pela primeira vez em 500 kV de corrente alternada no mundo, está na planta solar São Gonçalo, de 475 MW da Enel Green Power, localizada em São Gonçalo do Gurgueia, Piauí, que teve a operação antecipada em um ano pela geradora italiana. A empresa está otimista com esse modelo de subestação e, apesar de não revelar números, é a aposta para o desenvolvimento do setor nos próximos anos.
De acordo com o diretor geral da divisão de Power Grid da ABB no Brasil, José Paiva, essa é a primeira etapa desse projeto da EGP, que prevê uma capacidade instalada total de 1,2 GW e que a geradora destaca ser a maior planta dessa fonte na América do Sul. Nesse sentido, há perspectiva de aumento da capacidade para a subestação fornecida pela companhia.
Apesar de ser apenas a segunda iniciativa dessa natureza no Brasil, o executivo diz que a aposta da empresa está centrada nessa modalidade de ativo. Entre os benefícios ele lista a facilidade e maior agilidade de instalação, o menor uso de espaço e menor custo para implantação. Isso se dá porque a subestação digital trata da substituição de cabos de cobre tradicionalmente utilizados por apenas um de fibra óptica. Além dessa troca, o novo meio promove a possibilidade de agregar serviços e informações aos equipamentos da subestação.
“A fibra óptica realiza a comunicação entre os equipamentos do pátio com a sala de controle. Anteriormente precisava de um cabo de cobre para corrente, tensão, óleo e outros dados. Com essa solução é possível ter as informações em apenas uma estrutura e há um grande número de sensores, assim pode-se medir variáveis diversas com mais facilidade e em pontos diferentes”, explicou Paiva.
O gerente de Tecnologia em Grid Automation, Júlio Oliveira, comentou que a resposta com o uso da fibra é mais rápida, mas esse ganho de velocidade não acaba sendo tão expressiva. O grande benefício é realmente aumentar serviços e dados em uma única mídia, a fibra óptica.
Segundo a ABB, essa vantagem acaba sendo mais perceptível quanto mais elevada a tensão da subestação por substituir uma grande quantidade de cabos que precisam ser instalados. Mas, mesmo em subestações da rede de distribuição até 13,8 kV já é possível extrair ganhos. “Principalmente em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro onde é cada vez mais difícil encontrar novos espaços para esse tipo de instalação”, acrescentou ele.
Oliveira destacou ainda o custo de manutenção reduzido com o uso da fibra para a subestação. E lembra ainda que a segurança de dados também foi uma das preocupações da empresa, uma vez que esse tipo de ativo acaba sendo mais um dispositivo conectado e com capacidade de comunicação, e por ser estratégico precisa de um capítulo à parte nas preocupações das empresas, para que cenas de filmes no cinema não passem para a vida real.
Paiva disse que a empresa acredita que esse tipo de subestação será importante, ainda mais com uma perspectiva de retomada de investimentos na renovação de ativos de transmissão que já estão obsoletos. Não há uma estimativa precisa de quanto será necessário para essa medida e nem em quanto tempo deverá ser tomada. Mas, lembrou, são bilhões de reais envolvidos em função da idade mais avançada de uma parte do sistema de transmissão nacional e que precisará ser modernizado para prover mais assertividade na operação do sistema, ainda mais com o avanço das fontes renováveis não controláveis.
Ele não aponta qual deve ser a dimensão desse mercado que a ABB poderá atender ou pretende alcançar, mas se mostra otimista com essas perspectivas. “Com o tempo essa tecnologia nas subestações será algo normal de vermos no país e até mais à frente obrigatório”, destacou.