Em 2019, 697 pessoas morreram por conta de acidentes causados por choques elétricos, contra 622 vítimas fatais em 2018. Os acidentes passaram de 832 para 909, revelando, em ambos os casos, um crescimento acima de 12% na comparação anual. Os incêndios por sobrecarga/curto-circuito subiram de 537 para 656, as mortes subiram de 61 para 74.

Os dados são do Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica, divulgado no início do deste mês pela Abracopel, a Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade.

Apesar dos números serem preocupantes, segundo Edson Martinho, diretor executivo da Abracopel, os dados divulgados são uma parcela dos acidentes no Brasil. As fatalidades devem ser ainda maiores, já que existem casos que não são reportados nem divulgados.

O estudo reúne ocorrências divulgadas na imprensa local/nacional, além de relatos que chegam por meio de profissionais e empresas vinculados à associação. Todas os acidentes são checados antes de serem computados no levantamento.

O estudo revela que o choque foi mais letal do que outros de origem elétrica como incêndios por sobrecarga/curtos-circuitos (74) e descargas atmosféricas (50), o que mais uma vez reforça a urgência de melhorias nas instalações domésticas brasileiras.

Dentre as fatalidades causadas por choques, a faixa etária mais atingida foi a de adultos entre 31 e 40 anos (195 mortes), o que abrange os próprios moradores na tentativa de fazer pequenos reparos sem a devida instrução e proteção.

Os motivos mais comuns foram fio partido em ambiente interno (85), eletrodomésticos (52), cerca eletrificada (36), adaptador/extensão/tomada (25) e o até então aparentemente inofensivo carregador de celular (15).

Segundo Martinho, as instalações elétricas no Brasil são caóticas, falta projeto elétrico e há aventureiros fazendo as instalações sem a devida segurança. “Ter informações ainda é bem difícil. Antigamente, tinha uma média de 250 mortes por ano, mas sabíamos que era pouco. Hoje estamos em mais de 600. Estamos conseguindo ter mais dados e isso é importante para informar as pessoas. Mas não sei se teremos um dia o número real. Tem muitos acidentes que somem no meio do caminho”.

A maioria dos casos contabilizados no levantamento aponta o ambiente doméstico como o lugar de maior perigo.
“O choque ocorre quando o cabeamento da casa ou de um aparelho perde o isolamento por falta de manutenção ou uso inadequado. Uma vez expostos, os condutores energizados podem entrar contato com nosso corpo mesmo que indiretamente, pois materiais como a água e os metais são excelentes condutores de eletricidade”, explica Ricardo Martuchi, especialista em produtos da STECK Indústria Elétrica.

Seja ao construir ou reformar, a primeira medida de prevenção é sempre contratar profissionais capacitados. Boa parte dos acidentes vitimam os próprios moradores ou profissionais como pedreiros e pintores por imperícia nos procedimentos de dimensionamento, aplicação e manutenção.

A prevenção também depende de mudanças de hábito: jamais use matérias elétricos ‘piratas’, que não possuem qualquer certificação como o selo do Inmetro. Dispense gambiarras, adaptadores e extensões que podem provocar sobrecarga e assim aquecer os cabos a ponto de derreter o isolamento. Além de choques, isso pode provocar curtos-circuitos e originar incêndios.

2020 inicia com dados assustadores

E o mês de janeiro nos trouxe uma realidade que não queremos ver: os dados de acidentes bateram novo recorde desde o início do trabalho de levantamento de dados: foram 181 ocorrências e 93 mortes somente no 1º mês do ano.  Os acidentes com choque elétrico, uma vez mais, se destacam, com 99 ocorrências e 83 mortes, os incêndios por sobrecarga, apesar de muitos: 70 ocorrências, resultaram felizmente em apenas 1 morte; e as descargas atmosféricas somaram em janeiro de 2020, 12 ocorrências com 09 mortes.

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