Além da avaliação dos consultores contratados pelo BNDES, uma variável conjuntural importante terá de ser considerada pelos acionistas da Companhia Energética de Brasília, na decisão sobre o processo de privatização da CEB D. Eles deverão levar em conta os impactos da pandemia do coronavírus sobre o caixa da empresa, avaliando questões como valor de mercado e interesse de eventuais compradores. A distribuidora teria como interessados grupos importantes no segmento de distribuição, como a Enel, que já opera em Goiás.
A previsão de fechamento da chamada valuation da CEB D é final de abril. Paralelo a esse processo, a empresa monitora o comportamento do mercado consumidor durante o isolamento social da Covid-19, em razão não apenas da redução esperada do consumo comercial e industrial, mas também da expectativa de aumento da inadimplência no período em que perdurar a proibição de corte de consumidores com contas em atraso.
A medida aprovada pela Agência Nacional de Energia Elétrica na semana passada será aplicada nos próximos 90 dias a residências urbanas e rurais, que representam 43% da receita da distribuidora, e aos serviços essenciais. “Nós não temos ainda números concretos, mas com certeza os acionistas deverão se valer desses números todos na decisão que tomarão”, acredita o presidente da holding e diretor-geral da CEB Distribuição, Edison Garcia.
A deliberação sobre o destino da empresa será feita pelos acionistas, em assembleia geral extraordinária a ser convocada. Todos os dados levantados pelos consultores e as informações sobre os efeitos da conjuntura e como ela repercute no processo servirão com um balizador para a decisão do Governo do Distrito Federal de prosseguir com a venda do controle ou adiar o momento em que ela será feita.
O GDF planeja vender 51% do capital da companhia até o fim do ano, permanecendo com 49%. A avaliação é de que será necessário atrair um parceiro privado, capaz de realizar os investimentos necessários na empresa, estimados entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões por ano.
“Tivemos um volume de investimentos em 2019 menor. Nós investimos menos exatamente como estratégia de retenção de caixa. Fizemos um ajuste fiscal, um ajuste econômico e financeiro na companhia por que? Nosso grande problema era uma quebra no segundo ano da sustentabilidade econômico-financeira que levaria a um processo de caducidade pela Aneel, e aí deixaria de see opcional e se tornaria compulsória uma medida de alienação de controle antes do processo de abertura de caducidade”, explicou Garcia.
Inadimplência
Há uma expectativa entre os dirigentes da CEB de que a suspensão do corte no fornecimento de energia elétrica durante a crise do coronavírus vai levar ao aumento da inadimplência de consumidores. A empresa já havia se antecipado à medida da Aneel e não vinha fazendo o corte há cerca de três semanas, quando o governo do DF decretou as primeiras medidas de restrição para evitar a disseminação do vírus.
Quando a proibição do corte foi determinada pela agência as empresas de distribuição passaram a se preocupar com os efeitos colaterais. “A gente tem visto nas rede sociais ‘ah, liberou geral. Não vai precisar pagar a conta de luz.’ Isso vai gerar uma situação de bastante dificuldade. Primeiro, porque a suspensão foi do corte por inadimplência, mas o dever de pagar pelo fornecimento não foi suspenso”, disse o executivo, ao apresentar na sexta-feira passada (27 de março) o resultado consolidado do Grupo CEB em 2019.
Garcia repetiu recomendação feita pela própria Aneel de que quem puder pagar não deve deixar contas em aberto, porque elas poderão ser cobradas depois. Assim como outras distribuidoras, a CEB D continua a incluir o nome de consumidores inadimplentes nos cadastros dos serviços de proteção ao crédito.
Para Garcia, o cenário atual traz uma certeza, que é o impacto relevante do coronavírus em todos os agentes econômicos do país. A incerteza é qual será esse impacto nas distribuidoras e como isso pode gerar efeito cascata para a geração e a transmissão.