Um dia depois de avaliar o cenário para os segmentos de distribuição e transmissão de energia, a agência de classificação de risco Moody’s publicou novo relatório, dessa vez para a geração. Nesse caso a perspectiva mudou de positiva para estável. Entre os motivos, apesar da deterioração da dinâmica dos negócios que aumenta os riscos de contraparte para o setor de geração de energia no Brasil, aponta que no geral, os contratos de compra e venda de energia (PPAs) regulamentados de longo prazo protegem as empresas e os projetos de geração de energia, compensando os riscos de redução da demanda e reprecificação no curto prazo.
Assim como indicado no relatório anterior, a Moody’s lembra que as políticas de distanciamento social e bloqueio de negócios estão enfraquecendo a demanda de eletricidade. Embora os contratos de geração de energia tenham preços fixos e sejam determinados quanto à capacidade, e não ao volume, é provável que os compradores se tornem supercontratados.
“Prevemos maior pressão dos clientes livres para renegociar contratos existentes e pressionar por cancelamentos anteriores”, avalia. “Mas também prevemos baixa exposição direta a riscos de volume de produção e melhoria das condições de hidrologia”, acrescenta.
Esses menores riscos de hidrologia, estima a Moody’s, reduzirão os custos, ajudando as margens operacionais a permanecer entre 40% e 50%, até meados de 2021. Os preços no mercado spot cairão com base em um declínio acentuado na demanda e nos níveis dos reservatórios se recuperando às médias históricas de longo prazo, lembrando que a CCEE, em seu último InfoPLD, prevê que o mercado à vista apresente valores entre R$ 117 a R$ 132/MWh, o que é equivalente a US$ 22 a US$ 25/MWh neste ano. Esse valor se confirmado representa um patamar 43% abaixo da previsão inicial de R$ 220/MWh estimada pela agência.
Contudo, destaca que independentemente do coronavírus a análise já indicava uma queda nos preços em decorrência de menores custos de desenvolvimento do setor, principalmente para as energias renováveis.
Uma das premissas da Moody’s para a geração é de que os cronogramas adequados de caixa e vencimento prolongado da dívida suavizam os riscos de liquidez do setor. Em sua análise, os emissores possuem ampla liquidez para suportar uma retração temporária do mercado.
“Esperamos que os bancos públicos e de desenvolvimento ampliem seus empréstimos a emissores de infraestrutura em caso de necessidade. As empresas de geração de energia também podem cortar dividendos para melhorar a retenção de caixa no curto prazo, se necessário”, sugere.
Para finalizar, a Moody’s lembra que a perspectiva poderá ser alterada novamente para positiva se as interrupções do mercado durarem pouco e as condições comerciais melhorarem consistentemente o suficiente para que as margens operacionais médias ponderadas permaneçam consistentemente acima de 50%. Por outro lado, indica que pode ser alterada para negativa se as margens operacionais médias ponderadas mudem para abaixo de 40%, com base no agravamento das condições de hidrologia ou em decisões políticas ou regulamentares adversas que pesem na dinâmica de negócios do setor.