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Um projeto de Pesquisa & Desenvolvimento capitaneado pela CTG Brasil pode culminar em uma solução para um dos maiores problemas das geradoras hidrelétricas: o mexilhão dourado. A infestação do molusco, que entope tubulações e turbinas das usinas, causa prejuízos milionários ao setor. O prejuízo anual pode chegar a R$ 400 milhões. A intenção do projeto é fazer uma manipulação genética do mexilhão de modo que se consiga conter a sua reprodução nos reservatórios. A conclusão da segunda fase do projeto atestou que não há diferenças nos genomas de mexilhões de reservatórios diferentes, o que dá chance para a solução ser efetiva em todos os reservatórios do país. A próxima fase deve contemplar mais a fase laboratorial, terminando em 2022.

De acordo com Carlos Nascimento, gerente de P&D da CTG Brasil, a empresa já vinha há anos com várias inciativas de combate ao mexilhão, mas nenhuma tinha ido até o cerne do problema. “Esse projeto tem o grande desafio de com biotecnologia tentar criar mexilhão dourado infértil, evitando seu crescimento desordenado, com a extinção nos reservatórios em que eles atuam”, afirma. O projeto, conduzido com verba do Programa de P&D da Agência Nacional de Energia Elétrica, vai ter investimentos de R$ 5 milhões da CTG. Spic Brasil e Tijoá, que também se aliaram ao projeto, vão investir R$ 2 milhões cada uma.

A Bio Bureau, que faz as pesquisas do mexilhão no projeto, já lida com o molusco há 15 anos. Mauro Rebelo, fundador e biólogo da Bio Bureau, conta que o início do projeto não foi fácil, pela própria complexidade do mapeamento, mas elogia a disposição da CTG em investir no projeto. A busca foi por algo novo, já que as estratégias de controle, como as soluções químicas, não eram suficientes. Segundo ele, a nova fase do projeto pretende fazer um mexilhão que ao se reproduzir vai gerar filhotes inférteis. “A gente modifica geneticamente o mexilhão, ele ainda se reproduz com os que estão no ambiente e a segunda geração é infértil”, revela. A empresa vai envolver 20 colaboradores no projeto. Nascimento espera que em 2025 uma carga grande de moluscos modificados esteja inserida nos reservatórios.

O mexilhão se reproduz em uma proporção grande e não tem predador natural. Com a criação de uma ferramenta, é possível manter sob controle a população para que ele não consiga alcançar as densidades que registra hoje. Ainda segundo Mauro, a empresa está trabalhando na fronteira do conhecimento e atualmente há cerca de dez projetos no mundo buscando tentando executar projetos similares para espécies diferentes. O biólogo lembra do desafio que é trabalhar para uma empresa de energia, um setor que não é próximo da biotecnologia. “Como vai falar com um engenheiro civil ou eletricista de modificação genética de mexilhão?”, indaga.

Nascimento, da CTG, não tem uma resposta sobre o motivo de até hoje não ter havido uma união dos players hidrelétricos no combate ao mexilhão, já que é algo que afeta a todos. Porém ele celebra a entrada das novas parceiras no projeto e prevê a entrada de outras. Ele também vê a agência reguladora sensível ao tema, com a possível sinalização de um P&D Estratégico. “Muitas empresas tentaram fazer iniciativas individuais. Muito se fez para conviver ter ou diminuir os efeitos, mas nada para combater totalmente, prova disso é que ele vem subindo e só vem crescendo e os problemas têm aumentado”, aponta. O mexilhão já vem subindo o rio da Prata e se dirige próximo da bacia amazônica. O maior desafio para Nascimento vai ser conseguir o mexilhão modificado no reservatório, produzindo a redução da proliferação.

A Hubz, outra empresa que participa do projeto, será responsável por desenvolver um método de medição da infestação nos reservatórios. De acordo com José Lavaquial, diretor da Hubz, a importância dessa tarefa vem que atualmente não existe nenhum método que faça esse trabalho. “De uma forma mais abrangente, quando a gente pensa o programa de desenvolvimento que vai além dessa etapa, o papel da Hubz é olhar para esses equipamentos que ainda não existem e precisam ser inventados”, avisa. O desafio da empresa nessa parte do projeto vai ser o de conseguir um método que seja aplicável nos vários tipos de reservatórios que existem no país. Segundo ele, são muitas variáveis que causam impacto nessa medição e nem todas essas variáveis são conhecidas e mesmo que fossem, a diversidade dos reservatórios no Brasil é muito grande.

Um intercâmbio sobre o tema com a China é possível, já que a biotecnologia é um assunto que vem sendo bastante forte no país da controladora da CTG Brasil. A possível parceria foi interrompida pela pandemia de Covid-19. As empresas ainda avaliam os possíveis impactos que o coronavírus pode trazer na execução do projeto.