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Os impactos das mudanças climáticas não se tornaram motivo de atenção apenas para o setor de agricultura e as geradoras. A transmissão de energia também é um dos segmentos do setor elétrico que vem experimentando as consequências de eventos que antes não eram registrados. Estudo elaborado pela Associação Brasileira das Empresas de Transmissão de Energia mostra que na última década, houve forte aumento da média de torres de transmissão derrubadas pela ação de rajadas de vento. No início do século, eram 20 torres que caíam por ano devido a rajadas de vento. Entre 2006 e 2012, caíram 35 torres ao ano. Enquanto entre 2013 e 2016, esse número aumentou para 57 torres por ano, somando 465 torres em 11 anos.
De acordo com o presidente da associação, Mario Miranda, o mapa das ocorrências, que se iniciou no Paraná na década de 80 do século passado, foi passando para regiões do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Triângulo Mineiro, chegando até mesmo no Acre no ano passado. Apenas o Nordeste e o Meio Norte ainda não tiveram histórico de eventos climáticos desse tipo. “A mudança climática está cada vez mais tendo uma abrangência nacional. Se ela antes era bem centro sul do Brasil, está se expandindo”, explica Miranda. O prejuízo com a queda de uma torre varia entre R$ 100 mil e R$ 400 mil dependendo das condições do evento, o que leva a crer que o prejuízo anual médio com a queda de torres nos últimos anos fico em cerca de R$ 15 milhões.
A associação passou a ter mais atenção sobre o tema após ter colaborado com a realização do documentário Ameaças do Céu, produzido pelo Grupo Storm, com apoio do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O documentário é dirigido por Iara Cardoso e será exibido no canal History nos dia 27 de abril, às 18h15, 28 de abril, às 6h, dia 4 de maio, às 18h15 e no dia 5 de maio, às 6h. De acordo com o Elat/INPE, eventos climáticos severos custam hoje prejuízos ao setor elétrico que ultrapassam R$ 100 milhões por ano, e que deverão, em 2030, ultrapassar os R$200 milhões por ano.
Essa mudança no cenário acaba por trazer uma nova perspectiva para os custos da transmissão. Esse tipo de evento climático está enquadrado como risco do negócio da transmissora, não repassa para a tarifa. Segundo Miranda, o concessionário precisa ser dotado de uma forte logística para ter torres de transmissão reservas em determinados locais e uma equipe treinada, já que quando a torre cai, o sistema deve ser recomposto o mais rápido possível, a fim de evitar penalidades. Até os anos 2000, as torres eram projetadas para ventos de cerca de 112 km/h. O aumento da intensidade dos ventos nas estruturas fez com que nos projetos elas fossem suportadas para ventos de 150 km/h. O presidente da associação confidencia que há associadas que passaram a adotar critério de projeto com parâmetro de 180 km/h e mesmo assim houve queda de torre. “Estamos correndo atrás para entender o fenômeno, mas não sabemos o que vai ocorrer em qual região e em qual velocidade”, aponta.
Com isso, o setor também passa a ter que trabalhar com estruturas mais reforçadas em determinadas regiões, com projetos mais detalhados, o que acaba encarecendo o orçamento dos projetos desde a sua concepção. “Os próprios critérios dos editais de leilão de LTs já nos obrigam a fazer um cálculo estatístico da recorrência de um determinado período de observação dos ventos “, explica. Miranda lembra que não há um banco de dados de medições dessas ventanias que vem afetando as transmissoras. “Estamos em uma perspectiva de dificuldade de compreensão de ter informações”, pontua.