A proximidade da liquidação do mercado de curto prazo das operações de março acendeu o alerta para a situação do segmento de distribuição ante a crise causada pelo novo coronavírus. Sem uma definição ainda quanto a ajuda financeira, este será o primeiro evento de impacto de liquidez nas empresas como efeito da inadimplência e da redução de mercado que está na casa de 20%. A não existência de uma ajuda pode pressionar não somente este segmento, mas a cadeia toda por conta do papel de arrecadador das concessionárias.
Por esse motivo CEOs de empresas veem a necessidade que o governo possa acelerar as ações para que o prazo não seja extrapolado. Seria uma ação inicial sem uma preocupação com o valor exato do tamanho que a chamada conta-covid terá, mas uma primeira tranche para poder trazer o alívio ao setor. E, ao modelo realizado na primeira versão do mecanismo, a conta-ACR, permitiria fazer novos aportes com o tempo.
O CEO da Copel, Daniel Slaviero , lembrou durante uma live realizada pela XP Investimentos, que na conta ACR houve três tranches para se chegar aos cerca de R$ 20 bilhões. E que isso poderia ser feito agora para garantir a manutenção das obrigações com a cadeia do setor. Ele comentou que com 40 dias de crise não é possível definir o tamanho da conta covid que será necessária. E que por isso seria adequada a divisão em partes assim como feito no passado, ressaltando que o custo da operação hoje é bem mais baixo do que naquela ocasião.
Miguel Setas, CEO da EDP, concordou e avaliou que para solucionar o problema não há uma medida única e sim a construção com várias peças no arcabouço regulatório. Mas que no curto prazo é importante que haja ações mais práticas no sentido de trazer liquidez. “Não importa o valor agora, mas sim que existe um montante para os próximos meses”, destacou ele. “O calendário começa a apertar”, alertou.
O executivo da EDP lembrou ainda que a estimativa vista como consenso do mercado é de que nos três meses mais críticos da crise o impacto seria da ordem de R$ 4 bilhões. O montante ficaria menor com o passar do tempo ao passo que os impactos são mais reduzidos com a retomada da demanda ao longo do ano.
Luiz Barroso, CEO da PSR, que moderou o debate, destacou que em paralelo à MP 950 que permitiu a chamada conta-covid e o auxílio à baixa renda, está a sinalização por meio da NT no. 01/2020-GMSE da Aneel com eventuais medidas, de curto e médio prazo, para o enfrentamento da crise, que também podem ajudar nesse balanço. E citou ainda um possível avanço do PL 3975, que traz a solução do GSF e está pronto para ser votado no plenário do Senado Federal com esse mesmo grau de importância. Pouco antes Slaviero da Copel disse que o senador Marcos Rogério (DEM-RO) entregou ofício ao presidente da casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP) no qual justifica a necessidade de votar o tema por trazer liquidez ao setor elétrico em meio à pandemia.
“São essas discussões que irão dizer se a conta-covid será uma conta fit ou uma conta fat“, comentou ele em referência ao tamanho, ainda indefinido dessa ajuda que as distribuidoras receberão.
Gustavo Estrella, da CPFL Energia, acrescentou que independente do tamanho, se é de R$ 17 bilhões, um montante mais elevado ou de menor volume, o importante é que as distribuidoras estão na expectativa de viver esse efeito caixa. “Acho que a conta-covid antecipa a liquidez e preserva a cadeia”, aponta.
O CEO da Engie Brasil Energia, Eduardo Sattamini, ressaltou ainda ver a necessidade da instituição de um instrumento de emergência sim para ajudar o setor, no que classificou como uma primeira onda. E depois da Aneel é que deverá vir a solução de fonte de recursos para uma segunda onda, inclusive com a participação do setor em ações voluntárias e não compulsórias para retirar o ônus excessivo do consumidor. E lembra que a questão dos subsídios deve ser atacada em um âmbito mais estrutural, bem como outros temas que fazem parte do PLS 232, com toda a modernização do setor elétrico.