Em consequência à crise provocada pela pandemia da Covid-19 dentro setor elétrico, a fabricante Weg tem concentrado seus esforços em oportunidades para complementar sua estratégia de negócios digitais, como o lançamento de uma plataforma baseada em IoT, onde os clientes podem desenvolver customizações simples e complexas, possibilitando a criação de sistemas criativos e cocriações para ferramentas tecnológicas e de ganho de eficiência. Em teleconferência aos acionistas nessa quinta-feira, 30 de abril, diretores da companhia falaram um pouco sobre as principais ações e perspectivas que vem trabalhando para os próximos trimestres.

O diretor financeiro da Weg, André Rodrigues, disse que por mais que a área de negócios avalie novas oportunidades, a tomada de decisão atual da diretoria é de que não é o momento de ser mais agressivo no mercado. Ele lembra que há um processo importante em análise no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), da fábrica de transformadores em Betim (MG) e que o que pode acontecer num curto prazo são pequenas aquisições, imateriais em termos de valores, para seguir com seu mote em produtos digitais.

O momento também é de avaliar as particularidades com os clientes sobre as necessidades reais de postergação dos contratos, levando em conta a diligência dos agentes quanto a possibilidades como as linhas de financiamento e medidas lançadas pelo governo. Dentro dessa demanda, o diretor de Finanças e RI, Paulo Polesi, destaca que a empresa conseguiu atender a cerca de R$ 62,5 milhões em pedidos de prorrogação entre março e abril, representando metade das solicitações, que seguem em análise.

“Tivemos uma experiência de demanda maior no Brasil, sentindo mais esse efeito do que no exterior. Aqueles que nos procuraram foram clientes de equipamentos de ciclo curto, e para cada caso tratamos dentro de um procedimento, em geral com uma prorrogação de prazo, avaliando cada caso com critérios técnicos”, salientou.

Sobre as cláusulas de força maior, André Rodrigues afirma que a questão ainda não foi abordada nessas negociações e que é natural que haja atrasos decorrentes da pandemia e que isso tenha que ser discutido. Mas nada que preocupe. “É bom lembrar que essa é uma crise sem precedentes em que temos que tirar fotografias diárias da situação, mas hoje é isso”, pontua.

Adequação das fábricas

Perguntado sobre como anda a carteira para equipamentos de ciclo longo, Rodrigues explicou que parte de um processo de backlog foi construído antes da crise, e que assim, tanto no Brasil quanto no exterior essas produções no curto prazo de um ano seguem em bons níveis. “Hoje podemos dizer que nossa carteira de ciclo longo continua normal em termos de produção ao longo desse ano e avançando também para 2021”, comenta, lembrando que há somente unidades de fabricação fora da normalidade por conta de algumas regiões, como nos EUA, onde funcionários declaram ser de grupo de risco e não vão trabalhar, ou por aqui, pela suspensão e restrição de alguns transportes.

O gerente de Relação com Investidores, André Salgueiro, disse que o processo de retomada econômica será diferente do visto pela China, em detrimento das diferenças de estágio e medidas tomadas para evitar o avanço do vírus, como o lockdown que fez com que a receita da companhia praticamente zerasse naquele período, voltando à normalidade após o término das restrições. “Estamos passando por impactos em operações aqui e a retomada vai ser diferente de como foi por lá”, crava.

Fábrica em Jaraguá do Sul (SC) tem produzido respiradores pulmonares para atendimento a pacientes com Covid (foto Weg)

Segundo ele, o nível de utilização das fábricas mudou bastante, a depender dos países, citando o isolamento social total na África do Sul, Argentina e Índia, ainda que não com números tão relevantes quanto à queda de produção. Já na terra natal da multinacional catarinense, um decreto estadual que solicitou a redução em 50% na capacidade de produção fez com que a fabricante criasse um terceiro turno de produção em algumas áreas de eletroeletrônicos industriais, visando elevar a capacidade em torno de 70%.

Salgueiro contou que ao considerar a questão do absenteísmo, dependendo do segmento, há alguns casos entre 80% e 90% de equipamentos de ciclo longo, o que não é crítico numa situação dessas. Já o segmento de máquinas industriais vem um pouco abaixo, o que está condicionado também ao comportamento do nível das carteiras no futuro, já que o ciclo curto é de três meses.

“Estamos ajustando mais a capacidade para os motores comerciais e appliance, onde a situação de fechamento de muitas lojas e comércios levaram muito dos nossos clientes a entrarem em férias coletivas e reduções de jornada”, conta o gerente, informando que serão feitos ajustes entre 25 a 35% de redução de jornada para a próxima semana.

GD e leilões

Quanto às perspectivas para geração distribuída, o consenso é de dificuldades para os próximos meses, dada a natureza de ciclo curto da modalidade e o câmbio internacional mais elevado trazer uma questão de preço e a sobra de energia do mercado, que pode apresentar uma volatilidade à frente. “Temos que ficar atentos a alguns pontos e nosso balanço pode nos ajudar a passar por esse período para depois seguir com esse bom momento da fonte solar no mercado brasileiro”, comenta.

O primeiro ponto seria a cadeia de fornecedores, que ainda não representou impacto relevante da China. Já em abril foi observada uma certa pausa nos pedidos e as dificuldades para instalações com as medidas de isolamento social.

Com relação aos leilões, o gerente de RI ressaltou que serão menos oportunidades num médio e longo prazo para geração e transmissão, e que a carteira de pedidos P&D da empresa está robusta pois é atrelada atualmente a esses projetos, inclusive com uma série de iniciativas eólicas e fotovoltaicas que ainda não tiveram os fornecedores definidos e devem acontecer em algum momento dentro do prazo regulatório.