O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) defendeu publicamente a revisão extraordinária da carga de energia elétrica em função da queda “brutal” do consumo do país desde que se iniciou as medidas de isolamento social para o combate ao Covid-19. A previsão de carga é revisada a cada quatro meses, com o objetivo de sinalizar a projeção de crescimento para o próximo quinquênio. A última revisão ordinária foi divulgada no final de março.
Diante do cenário de grande de incerteza instaurado pela pandemia do novo coronavírus, as entidades responsáveis pela elaboração do documento estimaram uma queda de 0,9% na carga em 2020 na comparação com 2019, tomando como base uma variação nula do PIB neste ano.
“Agora o que estamos vivenciando é algo completamente diferente e muito mais grave. Nas projeções mais otimistas, nós estamos falando em uma retração do PIB de 5%”, disse nesta quinta-feira, 30 de abril, o diretor-geral do ONS, Luiz Eduardo Barata, durante participação no segundo webinar Agenda Setorial, realizado pelo Grupo CanalEnergia | Informa Markets.
“Lógico que a gente não pode rever isso a cada hora, por isso que o procedimento estabelece revisões quadrimestrais. Mas a gente tem que compreender que muitas vezes temos que adotar medidas extraordinárias. No nosso entendimento, alinhado com a EPE e ouso dizer que com a CCEE também, a gente precisa rever, caso contrário vamos ficar com estudos distanciados da realidade”, alertou Barata.
De acordo com Rui Altieri, presidente do conselho de administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), até o dia 17 de abril o mercado tinha reduzido 18% desde o início das medidas de isolamento social. Mas atualmente a queda está entorno de 15%. “Acreditamos que chegamos a um patamar de estabilização dessa redução de mercado”, disse o executivo.
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Thiago Barral, disse que houve uma piora nas perspectivas econômicas do país desde a última revisão da carga. “Hoje a nossa visão está muito mais próxima de alguns pontos percentuais negativos no PIB; nos parece mais aderente ao que estamos monitorando em termos econômicos.”
A previsão vigente prevê queda de 3,6 GW médios em relação à carga de 2019 (67.835 MW médios). “A perspectiva é que se consolide um panorama pior do que esse em 2020, com uma recuperação gradual a partir do segundo semestre entrando em 2021, de forma que a gente possa retomar o nível de atividade no próximo ano”, avaliou Barral. A revisão extraordinária, no entanto, da precisa de autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).