O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr, afirmou nesta quarta-feira (6) que a experiência com as crises anteriores do racionamento de 2001 e da subcontratação das distribuidoras em 2014 facilita uma solução mais rápida para os impactos da pandemia do coronavírus sobre o setor elétrico. O executivo acredita que o país não deve enfrentar o pior cenário apontado pela crise, e a boa notícia, segundo ele, é que o impacto financeiro que poderia criar um problema maior para o setor elétrico, está encaminhado.

“Existe experiência, e eu acredito que isso se resolva nesse mês”, afirmou, em referência às negociações com os bancos para um empréstimo às distribuidoras, por meio de uma nova Conta ACR, agora batizada de Conta Covid. Ferreira Jr participou de webinar promovido pela consultoria Bain&Company Brazil sobre os efeitos da Covid-19 no setor elétrico.

Para o executivo, diferentemente dos eventos anteriores, especialmente do racionamento de energia, quando houve uma imposição clara de mudança de comportamento à população, na situação atual a redução no consumo de energia será menor, até mesmo pela duração do evento. Ele avaliou que a inadimplência também já está menor, e embora admita que o efeito financeiro pode ficar entre os R$10 a R$ 11 bilhões do melhor cenário apontado pelos consultores, acredita que ela pode chegar aos R$ 15 bilhões.

Para o líder da prática de Utilities para a América do Sul da Bain, Antonio Farinha, a expectativa é de que a inadimplência nas distribuidoras alcance valores recorde durante a epidemia, chegando a 20%. Farinha apresentou três cenários de impacto elaborados pela consultoria, de acordo com a gravidade da crise do coronavírus.

No cenário 1, em que as medidas previstas serão suficientes para conter o contágio da Covid 19,o período mais severo é de três meses, com redução de consumo de até 8% e retorno à tendência do cenário pré- crise em 2021.A taxa de inadimplência teria aumento de oito a dez pontos percentuais e o impacto financeiro para o setor ficaria entre R$ 10 bilhões e R$ 11 bilhões.

No cenário 2, em que o Brasil passaria por um pico de contágio de quatro meses, com recuperação estável e muito longa, a redução do consumo ficaria entre 8% e 12% e o país levaria de três a quatro anos para recuperar os níveis anteriores à crise. A taxa de inadimplência ficaria entre 10% e 15% e o impacto financeiro para o setor seria de R$ 15 bilhões a R$ 22 bilhões.

No terceiro e pior cenário, as medidas atuais não teriam tanto efeito e o bloqueio total para conter a pandemia seguiria por mais tempo. O período mais severo seria superior a cinco meses, com redução de 15% a 20% no consumo e período de recuperação também entre três e quatro anos.A inadimplência ficaria entre 15% e 20% e o impacto financeiro seria maior que R$ 25 bilhões.

O executivo destacou que as empresas do setor tiveram desde o inicio do ano significativa redução de valor de mercado. Os impactos da Covid se verificam na redução de carga, na sobrecontratação generalizada, na redução da atratividade futura do setor e nos leilões de expansão. Ele mencionou inadimplência, perdas e “um conjunto grande de impactos tarifários”, além da redução da capacidade de financiamento e investimento do setor.