O Cepel está trabalhando para disponibilizar um novo ambiente computacional aos modelos energéticos utilizados oficialmente nos estudos de planejamento da expansão e operação do sistema elétrico brasileiro. As atividades a serem implementadas foram definidas em acordo com Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a Câmara de Comercialização de Energia (CCEE), assinado no final de abril, e estão relacionadas ao projeto LIBS, criado em 2017 para concepção de nova arquitetura modular mais flexível voltada para a integração desses modelos energéticos em um único sistema, com previsão de entrega para 2022.

O diretor-geral do Cepel, Amilcar Guerreiro, classificou como “realizadora e auspiciosa” a parceria com as entidades, consideradas pilares do setor, ao tempo que propiciará a modernização das ferramentas utilizadas no planejamento da operação e na comercialização de energia, “indo ao encontro do desejo e da necessidade dos agentes setoriais, que há muito têm por ela reclamado”, ressalta.

Segundo o ex-diretor de P&D+I, Raul Balbi Sollero, que acompanhou o desenvolvimento do novo ambiente, a iniciativa suporta um viés perfeitamente alinhado à missão e expertise do Centro de inovar com produtos desenvolvidos com o estado da arte da tecnologia e que sejam relevantes para o setor. “São ferramentas efetivamente utilizadas para funções-chave, tais como o planejamento da operação e despacho energético, numa plataforma de software única, moderna e eficiente”, comentou.

O atual diretor de P&D+I do Cepel, Maurício Barreto Lisboa, destacou também a presença de muitos jovens pesquisadores liderando a missão, “o que representa mais uma marca deste espírito de renovação constante e um sinal de alento para o desenvolvimento científico e tecnológico no país”.

Para o gerente na área de Metodologias e Modelos Energéticos da Diretoria de Planejamento do ONS, Vitor Silva Duarte, a plataforma LIBS deve agilizar muito as implementações de evoluções nos modelos matemáticos. “Este sistema também deve dar ao usuário maior flexibilidade de uso, permitindo, por exemplo, a escolha de uma determinada biblioteca de otimização ou a escolha de quais funcionalidades serão usadas”, complementa.

Já Rodrigo Sacchi, gerente Executivo de Preços, Modelos e Estudos Energéticos da CCEE, explicou que a instituição irá integrar a ferramenta num único ambiente junto aos seus modelos computacionais já utilizados, criando um meio mais “amigável” que irá facilitar a vida de seus usuários através da otimização dos seus processos e das demais instituições setoriais e dos próprios agentes do mercado de energia.

Outro ponto levantado por Sacchi é o desenvolvimento modular facilitar e agilizar a implementação de novas funcionalidades com vistas ao aperfeiçoamento da representação matemática do problema de planejamento, operação e formação de preço.

DECOMP já contará com atualizações

Embora a conclusão do sistema só esteja prevista para 2022, os desenvolvimentos que forem sendo feitos já poderão ser integrados nos modelos, mesmo em seu formato atual, como no caso do DECOMP, que está sendo utilizado como laboratório para esta iniciativa. A versão 30.3 foi enviada no dia 29 de abril ao ONS e à CCEE, e conta com aprimoramentos metodológicos importantes referentes à geração das hidrelétricas, que foram desenvolvidos no novo ambiente Libs, adicionando uma biblioteca ao modelo.

A pesquisadora Lílian Brandão, gerente do DECOMP e que participa da coordenação e do desenvolvimento do módulo de cálculo das Libs, explica que além de receber a nova funcionalidade, o programa também passou a contar com vários aprimoramentos em modelagens já existentes nas Libs. “Contamos com um código-fonte integrado, que pode ser compartilhado com os outros modelos”, revela.

 

 

Novas funcionalidades em bibliotecas simultâneas

Segundo o gerente do projeto LIBS e chefe do Departamento de Otimização Energética e Meio Ambiente do Cepel, pesquisador André Diniz, o novo ambiente traz uma série de vantagens para os desenvolvedores do Cepel, principalmente em termos de aumento de produtividade. “Atualmente, muitas funcionalidades estão disponíveis nos modelos NEWAVE, DECOMP e DESSEM, principalmente com a entrega, no final de 2017, de uma versão que permite a modelagem individualizada das hidrelétricas no modelo NEWAVE”, salientou.

No entanto, o pesquisador avalia que as implementações têm sido historicamente realizadas de forma independente nos modelos, causando dificuldades na uniformização e na velocidade das manutenções corretivas e evolutivas dessas funcionalidades. A ideia do projeto, portanto, é que estas funcionalidades sejam desenvolvidas sempre em bibliotecas (daí o nome “LIBs”), em código único, para serem acopladas a todos os modelos simultaneamente.

O novo sistema traz diversas inovações em relação aos atuais modelos do ponto de vista do ferramental de uso e implementação. Na parte de tratamento de dados, as especificações estão sendo feitas em planilhas, a partir das quais são gerados códigos-fonte de forma automática, utilizando scripts e programas, minimizando, assim, a ocorrência de erros e agilizando a atividade de implementação. Os scripts e programas para automatização permitirão que os pesquisadores tenham mais tempo para concentrar esforços nas concepções metodológicas das funcionalidades, e não nos procedimentos de entrada de dados e impressão de resultados.

Tudo isso é viabilizado por um módulo denominado “lib IO”, responsável por fazer todo o tratamento dos dados de entrada e saída, e cujo desenvolvimento é coordenado pelo pesquisador Felipe Dias,  que enfatiza a importância deste desenvolvimento modular para crescimento da rede de forma ordenada e flexível, além de diminuir a manutenção de código-fonte pelo reaproveitamento de código.

Já a interface XLibs está sendo desenvolvida em ambiente WEB, em um padrão mais atraente para o usuário e voltada à utilização não só em desktops mas, também, em dispositivos móveis, como tablet e telefones celulares. Valk Castellani, que coordena o desenvolvimento da plataforma, comentou que “o novo ambiente integrado será um grande avanço na interface dos programas, à medida que manipula os arquivos de entrada e saída com as mesmas API’s (Application Programming Interface) utilizadas pelos modelos”.