A retração do consumo de energia causado pela pandemia do novo coronavírus tem alcançado uma importante parcela da indústria no país. A queda no mercado livre está em cerca de 20% do consumo e em termos financeiros chega à casa de R$ 5 bilhões. Nem mesmo o cálculo que coloca um prêmio normalmente usados nos contratos está compensando a desaceleração da demanda nesse momento e o setor também tem registrado perdas. Diante dessa situação, comercializadoras vem negociando com clientes alternativas para mitigar as perdas e conseguirem encontrar uma saída para ambas as partes.
No caso da Delta Energia, afirmou o sócio Ricardo Lisboa, a empresa está sensível ao que ocorre com os clientes e afirmou que a empresa aceita discutir os contratos no caso a caso. Entre as opções que ele citou estão a redução temporária e financiamentos para o cliente pagar no momento seguinte. “Não temos como assumir a perda toda do consumidor até porque na separação de riscos dos contratos isso não era atribuição nossa, mas somos sensíveis para a atual situação”, destacou ele.
Lisboa lembrou que há diversas formas de contratos disponíveis no mercado com cláusulas de flexibilidade. Há desde opções sem esse mecanismo passando por 10%, 30% a até 100% de flexibilidade nos volumes contratados.
“Quanto mais flexível, mais eu cobro pelo produto”, definiu. “Então, assim a gente trata a distribuição de riscos dentro do contrato no mercado livre”, acrescentou ele durante o 4º webinar da edição especial do Agenda Setorial 2020, realizado pelo Grupo CanalEnergia-Informa Markets via internet em decorrência da pandemia de covid-19.
Esse mesmo comportamento foi relatado pelo presidente da BC Energia, Alessandro de Brito Cunha. O executivo que esteve nesse mesmo painel do evento afirmou que a empresa já realizou mais de 20 renegociações atendendo a pedido de clientes. A empresa trabalha com até 20% de flexibilidade em seus contratos. A partir desse patamar, comentou, a perda acaba sendo do cliente.
“Tem que imperar o bom senso nesse momento, entender as atividades que estão afetadas ou paralisadas e aqueles setores em que há reflexos econômicos em suas atividades”, explicou ele. “Nessa crise não há quem esteja ganhando, todos estão perdendo, se colocar força maior para um, isso valerá para todos e podemos ter o risco de insegurança jurídica generalizada tanto no ambiente livre quanto no regulado”, alertou.
Essa questão da instabilidade é um ponto central para o setor, argumentou o presidente da América Energia, Andrew Storfer. Em sua opinião é importante a manutenção de regras e dos compromissos porque o setor elétrico é intensivo em capital para a sua expansão e de maturação no longo prazo, por isso, se não há estabilidade é natural que haja sobrepreços para a energia.