Ainda que os impactos da pandemia tenham afetado minimamente suas operações e a inadimplência esteja abaixo da média nacional, a Copel provisionou R$ 13 milhões em possibilidades de perdas com os impactos advindos com o efeito Covid-19 no mercado regulado, informou o CEO da companhia, Daniel Slaviero, em teleconferência nessa sexta-feira, 15 de maio.

Slaviero listou alguns motivos que julga terem contribuído para que a empresa não sentisse tanto os efeitos da crise pela disseminação do coronavírus, como uma quarentena “não tão intensa” no Paraná, a despeito de outros estados que tiveram medidas mais restritivas, elencando também o segmento de clientes do agronegócio, cujo peso é relevante no estado e que não pararam suas atividades.

“Vimos a carga cair no final de março, mas sendo superada ao longo de abril, chegando a 14% e 15%, valor baixo quando comparado com a média antes do período da crise”, salientou o executivo, lembrando que a média do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) chega a 18% e dizendo sentir um leve sinal de retomada no início de maio. O presidente da Copel GeT, Moacir Bertol, afirmou inclusive que a demanda dos consumidores livres em abril foi maior do que constava nos contratos.

Em relação a discussão no setor entre energia contratada e a demanda, Daniel comentou que para a grande maioria dos clientes tem sido exigido o cumprimento do que está no contrato, e que ações judiciais no sentido contrário foram derrubadas em segunda instância no Tribunal de Justiça. “Estamos esperando a manifestação da Aneel, que o diretor-geral André Pepitone está em vistas para avaliar. Nossa expectativa é pela permanência do acordado, até porque é uma das espinhas dorsais do setor elétrico, podendo haver um efeito cascata em caso de alteração”, completa.

O executivo também contou que as renegociações no mercado livre foram iniciadas, “com um ou dois casos de judicialização” por parte de segmentos mais afetados, como shoppings e hotéis, mas que a carteira da companhia é bem diversificada entre as atividades econômicas, não estando exposta a nenhum efeito de maior magnitude. “O que recebemos foram cláusulas por força-maior, mas solicitamos ao manifestante primeiro levantar todos os pontos e prejuízos relevantes para essa situação, quantificando-os, o que não foi feito ainda por nenhum”, explica.

Perguntado sobre um rumor na imprensa, em que as distribuidoras precisariam assinar um compromisso de renúncia à aplicação do pleito de recomposição do equilíbrio financeiro das empresas no futuro, após a conta Covid, o CEO associou a exigência ao sindicato dos bancos, admitindo desconforto com o ofício, mas afirmando que a cláusula pode ser aprimorada.

“A Aneel e o MME terão essa sensibilidade, até porque já que estamos fatiando o problema de maneira correta, com parte financeira e econômica, não temos também ainda a dimensão real que a crise vai ter, sendo esse um raciocínio lógico e correto”, ponderou, reafirmando o entendimento de que a conta é a maneira mais pratica e eficiente para endereçar o problema financeiro. “Nós não fomos convidados a assinar esse ofício e não assinaríamos nesses termos e condições”, crava.

Crise hídrica e perspectivas

O CEO avaliou que com a antecipação da revisão de carga para junho, a tendência é de um PLD no mínimo por mais alguns meses e que a companhia sentirá os efeitos por ter uma sobra de energia contratada, mas que por outro lado será beneficiada no segundo semestre por comprar energia para liquidar no preço mínimo ou próximo a isso. “Nós temos por política de manter um head natural para o GSF de 18 a 20% e em 2020 não temos nenhuma energia contratada além disso, o que acontece é a revisão da carga com impactos no PLD”, pontua.

Para Moacir Bertol, essa perspectiva de preço também está sendo desafiadora pela questão da crise hídrica no Sul do país, que vem acometendo o rio Baixo Iguaçu e seus reservatórios, que se encontram abaixo de 15% para uma região onde o suprimento é basicamente atendido pelo intercambio regional com o sudeste e pouca geração local. Com isso, térmicas como a Araucária voltam ao despacho de energia num curto prazo.

“Pedimos homologação à Aneel e um novo CVU de R$ 475/MWh foi definido para a UTE Araucária e será comunicado à ONS, então temos uma expectativa muito boa da usina em função da seca mais severa nos últimos 90 anos”, revelou o presidente da Copel GeT, referindo-se a um contrato indexador que permite a geração térmica fora da ordem de mérito, a despeito da queda do gás natural no mercado internacional e um Custo Variável Unitário de R$ 681/MWh em abril.

Consultoria contratada

Já no intuito de identificar novas oportunidades de negócios, em especial de gestão, a Copel anunciou na teleconferência a contratação da consultoria BGC para trabalhar na revisão da estrutura de alocação de capital da companhia, avaliando a contínua redução da alavancagem e em como gerar valor nesse modelo, o que pode passar por uma análise da política de dividendos e de promoção à projetos de eficiência e geração distribuída.