De acordo com levantamento estatístico da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado, o consumo das térmicas a gás registrou um crescimento de 23,6% no acumulado dos três meses iniciais de 2020 com o mesmo período de 2019. A alta é explicada, em grande parte, pela base de comparação de 2019 ser baixa, já que entre novembro e 2018 e o início de 2019 muitas térmicas haviam sido desligadas por determinação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico. Com o crescimento do despacho elétrico, na comparação anual, houve um crescimento de 2,8% no total geral frente o primeiro trimestre de 2019.

O consumo total de gás natural no País já sente os efeitos da pandemia de novo Corona vírus. No consumo apurado com concessionárias em todas as regiões do País, o consumo médio das indústrias no mês de março foi de 25,3 milhões de metros cúbicos/dia, menor volume registrado desde dezembro de 2017 — uma queda de 6,7% no primeiro trimestre do ano. De acordo com o presidente executivo da Abegás, Augusto Salomon, os dados de março já sinalizam uma queda que se acentuou. Segundo ele, em abril, foi observado de modo extraoficial, pelas informações de algumas distribuidoras, uma queda de 35% no segmento industrial quando comparado com o mesmo período de 2019. Ainda segundo ele, o segmento comercial chegou a registrar uma queda de 60%.

A demanda no segmento automotivo também sofreu redução de 8,5% no primeiro trimestre, capturando o início do distanciamento social — ainda de forma voluntária — na primeira quinzena de março, com a redução de movimento, inclusive em veículos usados profissionalmente por motoristas de táxi e aplicativos.  O segmento comercial também teve reflexos do início das políticas de isolamento social, que determinaram o fechamento de shoppings, bares e restaurantes, entre outros clientes. A queda foi de 1,9% no período.

Salomon conta que é uma crise sem precedentes, que também afeta a indústria de gás natural. Agora a preocupação do setor é com o aumento da inadimplência. Segundo ele, a cada R$ 100 que a distribuidora recebe na tarifa paga pelo consumidor, em média, apenas R$ 17 representam a remuneração bruta da distribuidoras, a partir da qual a concessionária faz seus investimentos em expansão de rede, mantém a integridade dos ativos e faz o pagamento de seus funcionários e fornecedores, enquanto os outros R$ 83, em média, são utilizados pagar o transporte, o fornecedor da molécula de gás e os impostos ao governos federal e estaduais.

O presidente da Abegás pede condições de buscar empréstimos. Para ele, o problema hoje é fluxo de caixa em curto e médio prazo. “Temos grandes dificuldades de tomar empréstimos bancários. Precisamos do apoio do governo para a resolução de alguns entraves”, conclui o presidente executivo da Abegás.

Por outro lado, o consumo residencial teve um salto de 18%, motivado não só pelo fato de grande parte dos clientes passarem a ficar em casa na totalidade do tempo, ampliando a cocção e o uso de chuveiro com aquecedor a gás, mas também pela adição de mais de 160 mil novos clientes em 12 meses. Em março, o número de unidades consumidoras de gás natural chega a 3,690 milhões — número de medidores nas indústrias, comércios e residências e outros pontos de consumo.