A redução de consumo de energia no mercado é um dos efeitos mais visíveis que se tem no setor elétrico. Segundo os dados mais recentes da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, a redução está na casa de 15% no SIN, sendo de 14% no ACR e de 19% no ACL. Com isso, somado ao nível de reservatórios do país, a tendência é de que o preço da energia no mercado livre fique em patamares mais baixos para 2020 e em 2021. Na avaliação de especialistas e agentes, essa pode ser uma boa oportunidade de migração e até mesmo de fechar novos contratos no mais longo prazo.
De acordo com Patrick Hansen, sócio da Dcide, o impacto na curva forward de preços foi forte. Os contratos, lembrou ele, saíram de um patamar de R$ 200/MWh no início do ano para algo como R$ 143/MWh agora em maio. Esses valores representam uma queda de quase 30%, índice que ele classificou como expressivo quando se pensa que em janeiro o PLD estava pressionado.
“Interpreto que temos a perspectiva de melhoria nas condições de armazenamento para o início de 2021, será melhor do que nos dois últimos anos com essa redução do consumo de 2020. Isso gera expectativa de preços de energia para o período de 2021 a 2024 impactados, claro que não na mesma medida. Em 2022 os preços estão acima de 2021 porque no longo prazo temos menos volatilidade”, acrescentou ele em sua participação no 5º webinar da edição especial do Agenda Setorial 2020, realizado pelo Grupo CanalEnergia-Informa Markets via internet em decorrência da pandemia de covid-19.
Hansen relatou que os valores para depois de 2022 estão mais elevados, mas mesmo assim, as variações estão em uma faixa de R$ 5 a R$ 10, uma diferença que ainda é significativa quando se pensa em contratos para daqui a três ou quatro anos. A dúvida sobre o potencial de queda, continuou ele, está quanto à situação do submercado Sul que está passando pelo pior ano do histórico de 90 anos em termos de afluências.
“Acho que este é um bom cenário para o consumidor, um bom momento para se contratar no longo prazo”, definiu ele. “Esse período de crise que estamos passando é ruim para todos, mas há oportunidades e uma dessas é a de que o consumidor pode encontrar preços competitivos de energia”, avaliou ele.
Essa análise é dividida pelo diretor da Ampere Consultoria, Bruno Soares. O executivo acrescentou ainda que não estamos livres de novas revisões extraordinárias. Ele destacou a incerteza acerca da duração da crise e da extensão. Até porque começa a se falar em bloqueios mais rígidos em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, que podem comprometer ainda mais o consumo de energia.
“Se chegarmos a um ponto de grandes centros comerciais decretarem o lockdown, um novo cenário precisará ser traçado e com impacto importante nesse sentido de previsão de carga”, ressaltou o executivo.
Essa perspectiva, inclusive, não parece estar afastada uma vez que a situação não parece estar melhorando. A pandemia, lembrou, está invadindo o interior do país com mais amplitude e, por isso, a situação não permite ter uma previsão certeira sobre os desdobramentos nas próximas semanas. Soares relatou ainda que a sobreoferta tem levado a efeitos nos preços no longo prazo, corroborando o que disse Hansen. “A situação no Sul do país é o fator de resistência que tem feito com que o preço não caia ainda mais”, apontou. Em sua análise essa situação de valores mais baixos deve gerar um incentivo para uma maior migração ao mercado livre.
Ainda na semana passada, no 4º webinário do Agenda Setorial 2020, essa análise foi feita por quem está diretamente ligado a negociações no ACL. O presidente da BC Energia, Alessandro de Brito Cunha, destacou que sempre é momento para essa mudança. E a questão se torna mais favorável para a migração em decorrência das perspectivas de impacto tarifário que se vislumbra nos próximos anos.
O sócio da Delta Energia, Ricardo Lisboa, reforçou que este também é o momento de recontratar energia no ACL. Apesar de indústrias e grandes consumidores em geral estarem com uma demanda mais reduzida no momento, os preços da energia no ACL estão mais baixos e, por isso, seria uma boa estratégia buscar acordos para o longo prazo, garantindo um preço mais baixo. “Cada um deve ter a sua estratégia nessa hora, é uma questão de caso a caso de acordo com a necessidade individual”, ressaltou.
Andrew Strofer, CEO da América Energia, lembra que os preços com a conta covid devem apresentar um impacto para o ACR. Mesmo com a taxa Selic ao menor nível da história do Brasil temos outros efeitos na tarifa que é decorrente da energia de Itaipu, em dólar. E ainda, do custo dos combustíveis, que formam a maior parcela da CDE. O que ajudaria a elevar os custos aos consumidores no mercado regulado, reforçando essa tendência de ampliação das diferenças entre os dois ambientes de contratação.