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Mesmo em meio à pandemia, o Instituto Lactec vem avançando no desenvolvimento de seis projetos de mobilidade elétrica oriundos da Chamada Pública do P&D Estratégico nº 22 da Aneel. Desses, quatro já estão com os contratos firmados e estudos em andamento para a execução de alternativas em infraestrutura de recarga de veículos e modelos de negócios associados a comercialização da energia, além da inserção da eletromobilidade nas rotinas operacionais e de manutenção das concessionárias do setor elétrico.
“A eletrificação da mobilidade nos centros urbanos é uma tendência já consolidada em vários países e certamente alcançará o Brasil, que precisa de mais estruturas de recarga e serviços de apoio aos usuários”, afirma o presidente do Lactec, Luiz Fernando Vianna, destacando a importância dos investimentos em projetos de P&D na área para a adequação tecnológica do país a esse novo cenário, bem como para embasar a regulamentação de serviços relacionados ao tema. Nesse caso os aportes somam mais de R$ 78 milhões, incluindo a contrapartida dos parceiros industriais.
O executivo avalia que a expansão da mobilidade elétrica pode ser ainda uma oportunidade do Brasil atrair investimentos para a instalação de novos segmentos industriais que ajudem a gerar empregos e a reaquecer a economia. Outro ponto avaliado é o estímulo ao crescimento da eletromobilidade como uma forma do país se ajustar também à agenda global de sustentabilidade, que tem priorizado a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) – boa parte resultante da combustão no transporte – e a transição energética.
Para o diretor de Operações Tecnológicas do Lactec, Lauro Elias Neto, os projetos que vem avançando tem papel fundamental na expansão tecnológica e para preparar o mercado brasileiro para uma nova realidade, por meio da execução de pilotos, testagem de modelos de regulação, startups e novas empresas idealizadas para o segmento, com o incentivo para que equipamentos nacionais sejam desenvolvidos, entre outras possibilidades.
“Os veículos elétricos mudarão o comportamento do consumidor e novos modelos e soluções de gestão de energia permitirão a criação de novos negócios, com a entrada de prestadores de serviços para garantirem uma boa gestão dos sistemas de abastecimento integrados em condomínios, estacionamentos, supermercados e shoppings”, avalia.
Lactec desenvolve novos carregadores rápidos para postos na eletrovia que liga o litoral paranaense a região sudoeste do estado (Copel)
Novos modelos de negócio – Nas recentes pesquisas, os colaboradores do Lactec estudam a formatação de modelos de negócio que ofereçam às concessionárias do setor elétrico novas fontes de receita, como a possibilidade de comercializar energia, ao mesmo tempo que controlam a demanda em pontos de recarga para os VEs.
O pesquisador da área de Eletrônica do Lactec, Carlos Gabriel Bianchin, explica que além da segurança de oferta de estruturas adequadas de abastecimento para os usuários dos veículos elétricos ou híbridos, há a preocupação do ponto de vista técnico de se evitar sobrecargas nos sistemas elétricos. Um condomínio residencial que quiser ter uma ou mais estações poderia contratar esse serviço sem ter que investir na adequação de suas instalações elétricas, por exemplo.
“A partir do controle automatizado pelo gestor do negócio, os pontos de carregamento poderiam ser ajustados para operar com as potências reduzidas nos períodos de pico de consumo, ou nem operar para não haver risco de sobrecargas e desligamentos”, explica, afirmando haver outras variáveis, como a autoprodução de energia em sistemas fotovoltaicos de geração distribuída, que também serão consideradas nos estudos do modelo de negócio proposto.
Em um projeto contratado pela Copel Distribuição nesse ano e que tem como parceiras as empresas Eidee e Xpert, está sendo desenvolvido um sistema virtual de bilhetagem para eletropostos, que poderá funcionar com distintos sistemas de pagamento e gerar informações úteis aos usuários através de um aplicativo, como a própria localização dos pontos de recarga.
As iniciativas terão o respaldo de uma pesquisa aplicada pela área de Desenvolvimento de Softwares e Experiência do Usuário do Instituto junto a donos e usuários de VEs no país, com a intenção de identificar as expectativas e necessidades quanto à oferta de estruturas de recarga e aplicativos e serviços que tornem a experiência de uso do carro elétrico mais agradável.
Rotinas do setor – A adoção da mobilidade elétrica pelas empresas do setor de energia também é objeto de estudo, com uma das frentes pesquisando a implantação de uma rota com a instalação de pelo menos 18 pontos de recarga para uso de funcionários da CTG Brasil em deslocamento entre hidrelétricas nos rios Paranapanema e Paraná, além da sede da empresa em São Paulo, com acessibilidade à população. O projeto começou em janeiro desse ano numa parceria com a Incharge e deve durar mais dois anos, com a implantação do piloto para julho de 2021.
A coordenadora da área de Sistemas Elétricos do Lactec, Ana Paula Oening, reforça que a eletrovia irá subsidiar estudos para se desenvolver um modelo de comercialização e possibilitar a aproximação da população às novas tecnologias. “O uso de tecnologia inovadora para deslocamento entre as usinas e pontos estratégicos é uma excelente oportunidade para engajamento com a comunidade e para levar conhecimento na área de mobilidade elétrica às novas gerações”, complementou a pesquisadora, referindo-se à vertente educativa do projeto.
Em outra frente, é estudado a implementação de um caminhão elétrico com cesto aéreo eletro-hidráulico, para uso em manutenções de redes de distribuição de energia da Elektro no final do ano que vem. O escopo contempla também a definição de procedimentos seguros e eficientes para carregamento do veículo na própria rede de baixa tensão da concessionária, além de um sistema inteligente para o gerenciamento de sua recarga, junto a BYD e a PLE.
Ônibus 100% elétrico circula em São Paulo; Licenciamento de VEs esse ano já representa metade de 2019 (BYD Brasil)
Entraves e desafios – Fora da Chamada nº 22, o Instituto segue participando junto à Copel no desenvolvimento de um carregador rápido para postos de recarga até julho de 2021, numa iniciativa que resultou na implantação da maior eletrovia do país, com 12 eletropostos ao longo de cerca de 700 quilômetros de extensão, ligando Paranaguá a Foz do Iguaçu, entre o litoral a região Sudoeste do Paraná.
Quanto aos entraves para expansão da mobilidade, Lauro Elias Neto reafirma a questão do alto preço das baterias, que ainda tornam caras essas tecnologias para o mercado brasileiro. “A utilização das baterias após o término de sua vida útil veicular será amplamente explorada, e sua destinação final, uma questão de ampla discussão e de muitos estudos”, salienta.
Para atrair investimentos nessa área, o executivo pondera sobre o estabelecimento de políticas de incentivo temporárias, sinalizando claramente para o mercado qual a intenção do país em relação à transformação de sua frota. Outro ponto levantado é uma maior transparência junto aos investidores.
“Antecipando a regulação são maiores as chances de novos players investirem no Brasil”, conclui, lembrando os exemplos da Europa, Japão, China e Estados Unidos – alguns estabelecendo políticas de isenção e divulgando compromissos de zerar emissões no setor de transporte durante os próximos anos.
Por aqui a frota ainda é inexpressiva. Ao final de 2019, havia pouco mais de 22,5 mil unidades rodando pelo país. No entanto, a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) projeta um crescimento de 300% a 500%, nos próximos cinco anos. No ano passado foram licenciados 11.858 veículos elétricos no Brasil, o que representou um aumento de quase 200% em comparação a 2018, quando foram registrados 3.970 licenciamentos, segundo levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Este ano, até abril, o número de VEs habilitados chegou a 5.633, representando quase metade do montante do ano passado.