A agência de classificação de risco Fitch Ratings avalia que não deverá atuar para rebaixar as notas atribuídas às empresas do setor elétrico no momento. Apesar da crise atual, decorrente da pandemia de covid-19, a avaliação é de que o risco de liquidez é de baixo a moderado entre as empresas que a companhia atribui nota. Captações ocorridas ao longo do segundo trimestre do ano acima de R$ 4 bilhões fortaleceram as empresas e a perspectiva dos grupos que atuam no setor é de que devem manter acesso a linhas de crédito. A conta covid é avaliada como de fundamental importância para o setor como um todo. Ainda assim, calcula uma queda média de 7% no ebitda das empresas este ano e crescimento de 12% em 2021.
De acordo com o analista Wellington Senter, em apresentação feita via internet, a maior diversificação de atuação deve favorecer as empresas. Aquelas que estão mais concentradas em distribuição acabam sendo naturalmente mais impactadas, daí a importância da medida. Nesse sentido aponta que Equatorial, Energisa e Celesc estariam em uma posição mais delicada, uma vez que a representatividade da distribuição em relação ao resultado operacional consolidado é mais elevada, em 95%, 92% e 86%, respectivamente.
Segundo a Fitch, atuação em geração pode diluir os riscos, mas a possível redução de volumes vendidos a clientes livres pode também impactar outras empresas. Nesse sentido, as empresas que mais possuem atuação proporcional na classe residencial acabaram se saindo menos impactada, pois é nessa classe de consumo que o mercado se mostra mais resiliente, apontou o analista. A Fitch espera ainda que os recursos cheguem às distribuidoras ainda este mês.
A conta covid, analisa a Fitch, reduz a pressão de liquidez neste ano. Considera que os recursos são fundamentais para as distribuidoras. E lembra que o reequilíbrio dos contratos ainda será tratado. Contudo, aponta a importância dessa medida. As empresas acompanhadas pela agência de rating somam R$ 13,3 bilhões dos R$ 16,1 bilhões da conta covid.
Na análise da agência, uma questão que será afetada é a receita operacional das empresas referente aos custos gerenciáveis, uma vez que a relação com a redução do volume de consumo afeta esse indicador diretamente. A Fitch aponta que sem cobertura para a parcela B, o resultado ebitda sofrerá impactos. As perdas estimadas são classificadas como moderadas neste e no ano que vem. As maiores são esperadas para a Light e Cemig devido à grande exposição de vendas no ACL, ambiente sem proteção e que pode ter uma redução no volume de vendas, bem como de preços.
Em sua apresentação o impacto na Light deve chegar a 12,9%, ou R$ 226 milhões a menos no ebitda de 2020. Na Cemig esse montante é mais elevado, de R$ 483 milhões, que representa 12,6%. Em seguida está a EDP com 12% ou R$ 313 milhões. No consolidado de 2021 o ponto mais elevado é menor do que neste ano e as empresas são diferentes. O maior impacto está esperado para a CPFL com 8,7% ou R$ 577 milhões de redução, seguida de Celesc com 8,1%, ou R$ 164 milhões, logo depois, com o mesmo percentual está a Equatorial e R$ 350 milhões.
Para 2021 está sendo considerado crescimento de 3,5%. Por isso, na comparação entre 2020 e 2021 a expectativa é de crescimento do ebitda consolidado para todas as empresas a quem a Fitch atribuiu nota. Os índices vão desde 28% para a Equatorial e 25% para a EDP e 20% para a Energisa na ponta mais elevada a 1% para a Celesc, 2% na Copel e 3% para a CPFL. Quando se coloca na balança os índices esperados este ano ante 2019 o resultado é bem diferente, quedas em quase todas as empresas, sendo a maior de 20% para a Cemig, mas seguida de perto pela Copel com redução de 19% e pela EDP com 18%.
O ebitda agregado deve ser reduzido em R$ 5,6 bilhões até 2021. Somente este ano a expectativa é de que fique em R$ 3,2 bilhões. Contudo, sem o reequilíbrio financeiro dos contratos, a agência calcula que o efeito adicional poderia ficar em até R$ 9,7 bilhões até 2021.
A alavancagem deverá ter duas empresas mais pressionadas a Energisa e a Light, onde os níveis estão mais elevados do que o limite de sensibilidade negativa. Mas no geral a avaliação é de que a maioria dos emissores avaliados conseguem reduzir o endividamento em 2021 com a recuperação do resultado ebitda.