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A taxa básica de juros no Brasil, conhecida como Selic, nunca esteve em um patamar tão baixo em sua história, dos mais de 45% no final dos anos 1990, agora está em 2,25%. Nesse patamar a renda fixa se torna pouco atrativa e abre a perspectiva de que setores de infraestrutura tornem-se o caminho de migração para investidores ao passo que há liquidez no mercado. Entre os segmentos, o de energia tem potencial de ser impulsionado por meio da adoção de ativos financeiros seja para a sua expansão, bem como em fusões e aquisições.

Esse potencial é enorme por aqui, avalia a consultora e gestora de investimentos em Energia, Rachel Andalaft, da REA Consult. Ela toma como exemplo o que já vem ocorrendo em outras regiões do planeta que vivenciaram essa experiência, como a Europa, onde a taxa de juros está em um patamar reduzido a pelo menos uma década e tem incentivado a expansão.

“Os dois principais desdobramentos colocam o setor elétrico no centro dessa estratégia. O primeiro desdobramento é a conjunção de 3 fatores: expansão do ACL, a entrada do PLD horário e a criação de derivativos. O segundo são os fundos de investimentos. Esses pontos apoiados na taxa de juros baixos, atrai maior liquidez e vai resultar no aumento de negócios, mais projetos e na expansão”, define.

Na lista de ativos financeiros que podem atribuir mais liquidez ao mercado estão, além das já presentes debêntures, os derivativos, bolsa para o setor, hedging, Fundos de Investimentos em Energia Renovável, PPAs, day ahead e Intraday.

Ela explica que alguns desses já fazem parte do setor como as recentes iniciativas da BBCE que deverá operar em breve os derivativos e, mais recentemente a B3 anunciou a entrada no setor. As debêntures de infraestrutura que estão se tornando cada vez mais frequentes por aqui. E ainda cita o potencial do aumento do volume de fundos de investimento específicos para a geração de energia que podem ser acessados por qualquer investidor, além de novos produtos relacionados ao mercado livre e à introdução do PLD Horário a partir de janeiro de 2021 no âmbito da comercialização de energia.

“Essa queda da taxa de juros aumenta o capital disponível para investimentos, inclusive para os chamados ativos reais”, destaca a executiva que ressalta ainda que o desenvolvimento de novas operações no mercado financeiro sempre dependeu basicamente de dois elementos, os juros baixos e a desregulamentação, dois fenômenos que estão presentes no Brasil. Por isso, o foco na expansão em ativos reais e mais direcionados ao mercado livre é natural, ainda mais que muitos investidores que deixam a renda fixa não têm apetite ao risco da bolsa de valores.

E o mercado nacional está subutilizado nessa questão dos fundos. “Segundo dados da Anbima [Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais], há 960 fundos de investimentos e participação. Desses, apenas 5% se classificam como fundos para infraestrutura, e menos ainda, 3% do total são dedicados em energia, ou seja, ainda é baixo esse volume”, avalia Rachel, reforçando a perspectiva do potencial de crescimento nessa modalidade de investimentos.

Os fundos de pensão também acabam sendo uma alternativa à imagem do que ocorreu na Europa. Por lá, conta, esses fundos tiveram que mudar seu perfil para investir em ativos reais porque precisam ter rendimento que com a renda fixa, por conta de juros baixos, não estava sendo alcançado. Mas alerta que a composição de portfólio e alocação física do risco é importante para a tomada de decisão. É necessário, em sua análise, melhorar a relação de transparência nos veículos de investimentos que atendam às regras estabelecidas pelos fundos quando comparado aos padrões internacionais. Apesar de reconhecer que há exceções no Brasil com perfil moderno de aportes alternando entre ativos de geração e de transmissão.

E há outras formas de ativos financeiros que podem ganhar relevância ao passo que o mercado livre avança. O instrumento mais notório destes é o PLD Horário que poderá elevar a categoria dos consumidores de meros clientes a ativos para as comercializadoras, que deverão ter um papel mais estratégico ao poder ofertar uma série de novos serviços e opções que muda a forma dessas empresas atuarem.

Dentre as opções estão o day trade e a atuação por meio de derivativos. Em sua avaliação, é possível aproveitar a complementaridade das fontes por aqui, característica que é considerada uma grande vantagem quando se compara o mercado nacional a outros países, reduzindo o risco, consequentemente o prêmio e custo. “Podem ser criados modelos de negócios interessantes nesse segmento do setor”, avalia.

Em sua opinião essa perspectiva de novo patamar de capital disponível para investimento em ativos deverá se estender. Até porque não se sabe por quanto tempo a taxa de juros deverá ficar nesse nível mais baixo. Ela relata, por exemplo, que na Europa não há no momento incentivos para elevar os juros. E não vê que essa situação seja diferente por aqui.

“Essa deverá ser a nova realidade não somente na Europa, ou Brasil, mas no mundo como um todo”, comenta.  “Esse cenário vem uma liberalização maior da economia que traz seus altos e baixos, mas com uma relativa estabilização financeira que vemos hoje, associada à competitividade internacional”, acrescenta.