O potencial de ganhos embutidos em dados gerados nos processos de energia é enorme e deve ter ainda mais relevância no futuro. Mas esse futuro já chegou para vários agentes desse setor, beneficiados em termos de produtividade, transparência e eficiência energética, sejam empresas distribuidoras de energia, grandes consumidores, provedores de soluções e órgãos reguladores. Para falar desse tema, o Canal Energia promoveu um webinar dentro da série “Energy Tech Talks”, patrocinado pela Siemens, reunindo representantes desses setores.
O evento teve como convidados o gerente de Aplicação Digital da área de Digital Grid da Siemens, Paulo Antunes, o gerente executivo de Estratégia e Inovação do ONS, Fábio Reis Cortes, o coordenador divisional de Instalações Industriais / Departamento de Novas Implantações da Gestamp Mercosul, Juan Manuel Chantada, o coordenador de Comissionamento e Proteção da ISA-CTEEP, Daniel Nascimento Barbin, e a mediação do diretor-técnico da PSR, Bernardo Bezerra.
Para contextualizar o panorama atual e os desafios do segmento, Bernardo abriu o seminário com uma apresentação na qual abordou temas como a descarbonização e descentralização de energia, que estão remodelando o sistema. “Estamos diante de um futuro mais complexo e incerto para o consumidor, no qual as inovações serão cada vez mais necessárias, por exemplo, para acomodar fontes renováveis no sistema elétrico e garantir disponibilidade em um cenário de geração distribuída”, apontou o diretor-técnico da PSR. “Entre as inovações de maior potencial, a maioria delas será fortemente beneficiada por recursos de digitalização, como Internet das Coisas, Inteligência Artificial e Big Data”, completou Bernardo.
Paulo Antunes, da Siemens, comentou que a incorporação de recursos digitais é uma forma de extrair valor dos processos. “A digitalização é a fronteira seguinte da automação: hoje, muitos processos já são capazes de gerar enormes quantidades de dados. O que fazer com esses dados, acessando o potencial escondido nessa expressiva quantidade de informações, é a próxima fronteira de ganhos de eficiência e produtividade”, acrescentou o gerente da Siemens.
Avaliando o tema sob a perspectiva do operador do sistema elétrico nacional, Fábio Reis Cortes, do ONS, afirmou que “digitalização é um assunto de longo prazo, uma jornada”, explicando que, na entidade, o tema é abordado em tópicos, como dados e analytics, interação dos usuários, segurança cibernética. “O passo seguinte é a inteligência artificial”, acrescentou Fábio. Do ponto de vista de um grande consumidor de energia, Juan Manuel Chantada, da Gestamp, afirmou que a digitalização é uma grande oportunidade de utilizar dados e tomar decisões a partir deles, gerando maior eficiência e produtividade nos processos. “A digitalização também nos permite obter conhecimentos mais detalhados dos nossos próprios processos, por exemplo, com a avaliação das plantas em função de sua eficiência energética”, explicou o coordenador.
Daniel Barbin, da ISA-CTEEP, chamou a atenção para uma visão ainda recorrente no setor. “Em muitos casos, o profissional da área ainda carrega conceitos do passado, como a simples substituição de tecnologias. Digitalização vai além desse conceito, permitindo a utilização de dados e melhorando as tomadas de decisão, efetivamente agregando valor aos processos”, apontou Daniel.
Entre os principais benefícios da digitalização para empresas, Paulo Antunes citou mudanças de paradigmas, por exemplo, na manutenção de equipamentos, baseada não mais em períodos pré-determinados, mas no real estado desses equipamentos. “É possível passar a realizar uma gestão de ativos com base no ciclo de vida, categorizando riscos e entendendo momentos certos de manutenção, para garantir melhor utilização de recursos, o que se traduz em melhorias para o negócio e para a sociedade, de forma geral, evitando desperdícios gerais”, comentou Paulo.
Outra vantagem trazida pela incorporação tecnológica com foco em digitalização, segundo Paulo, são os investimentos que se pagam pelo uso da própria tecnologia. “É o que acontece com as perdas não técnicas, por exemplo. Ao eliminar gargalos que fazem a empresa perder receita, a tecnologia em si já representa um ganho para o negócio”, observa o gerente da Siemens.
A velocidade dos avanços tecnológicos
Diante da quantidade crescente de inovações, um dos desafios do setor é adaptar seus processos à luz das regulamentações vigentes no País. Daniel Barbin, da ISA-CTEEP, destacou um aspecto desse cenário. “A tecnologia invariavelmente é mais rápida que a mudança de regulação. Os agentes do setor habitualmente se mantêm muito sintonizados com essas mudanças. Provedores de energia e usuários precisam sempre sinalizar suas demandas e discutí-las com órgãos reguladores, como é o caso da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)”, afirmou Daniel.
Instigados pelo mediador, os debatedores também abordaram como a digitalização tem aprimorado a operação e manutenção dos ativos em seus negócios. Juan Manuel Chantada, da Gestamp, avaliou que esses recursos representam uma ferramenta muito útil por possibilitarem o cruzamento das informações de gastos energéticos com dados de produção. “Com isso, podemos antecipar possíveis paradas, cujos custos podem ter valor muito significativo. Com a digitalização, também podemos identificar as áreas do processo produtivo nas quais podemos fazer a gestão de energia de forma otimizada”, afirmou.
No caso da ISA-CTEEP, Daniel Barbin informou que a empresa já trabalha na digitalização de processos há algum tempo. Entre os exemplos, ele citou processos de inspeção em subestações e em linhas de distribuição, utilizando recursos como tablets e drones. “Também já utilizamos sistemas digitais para minimizar falhas de operação. Interfaces homem-máquina facilitam operação e inspeção e também dispomos de mapas de criticidade por instalação”, afirmou Daniel.
“Também já utilizamos o SCADA e outros recursos que permitem tomadas de decisão mais rápida. Atualmente, estamos trabalhando em parceria com algumas empresas, entre elas a Siemens, para a utilização mais ampla dos dados por meio de analytics. No foco, ações para maior dinamismo em manutenção, por exemplo. Custo, risco e desempenho são critérios usados na avaliação da implementação de novos processos”, acrescentou Daniel
Paulo Antunes, da Siemens, apontou uma mudança de abordagem do setor em relação a novas tecnologias. “Historicamente, o setor absorve tecnologias mais consolidadas. Nos últimos anos, parece haver uma aceleração dessa incorporação de tecnologias digitais no setor elétrico, principalmente pela evidência de benefícios da incorporação dessas tecnologias”, relatou. “Isso tende a se intensificar pela necessidade de reduzir custos operacionais, principalmente pós-pandemia. As consultas de clientes nesse período, com esse enfoque, têm aumentado: como posso extrair mais produtividade dos dados? É uma onda que está crescendo de forma acentuada”, observou Paulo.
Investimentos precisam gerar valor
Ao propor o tema de pesquisa e desenvolvimento no setor, Bernardo questionou os participantes sobre os principais critérios levados em conta para a adoção de novos programas tecnológicos em suas respectivas instituições. Daniel Barbin, da ISA-CTEEP comentou que a gestão de inovação da empresa preconiza que os novos projetos de pesquisa e desenvolvimento estejam sempre alinhados aos macroprojetos estratégicos da empresa. “O foco é sempre em algo que vai melhorar a prestação de serviços”, explicou Daniel. Paulo Antunes, da Siemens, registrou que parece claro, para o setor, o desejo da agência reguladora de que projetos de pesquisa e desenvolvimento estejam focados em agregação de valor, beneficiando o próprio setor e, sobretudo, os consumidores.
Já com o olhar no futuro, o seminário também propôs uma análise sobre a introdução do 5G e sua influência sobre o mercado de energia. “Acreditamos muito no uso de 5G em redes privadas para otimizar o uso desses dados gerados pelo setor elétrico”, opinou Paulo Antunes. “É uma mudança significativa, com potencial de habilitar a competitividade em vários setores, gerando grandes benefícios para o Brasil de maneira geral”, apontou.
Em linha com esse mesmo tema, os especialistas também abordaram a questão da segurança cibernética no setor elétrico. Fábio Cortes, do ONS, avaliou o tópico sob duas vertentes. “Como empresa, estamos fazendo investimentos no modelo de gestão de segurança (desdobrado em normas, procedimentos etc.), partindo do princípio que, assim como a tecnologia é mais rápida que a regulação, também os hackers também são mais rápidos que o desenvolvimento de mecanismos de segurança”, assegurou Fábio, acrescentando o outro viés do ONS nesse tema, como operador. “Estamos nos posicionando como um hub de informações, entendendo que essa questão demanda discussão coletiva”, afirmou. Para Paulo Antunes, da Siemens, “segurança cibernética é fundamental para a digitalização, porque, sem confiança, os recursos de digitalização não irão gerar ganhos de escala.”
(Nota da redação: conteúdo patrocinado produzido pela equipe da Siemens)