A pesquisa de opinião pública 2020, realizada pelo Ibope e pela Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), sobre o que o brasileiro pensa e quer em relação ao setor elétrico, apontou que 90% dos entrevistados gostaria de criar sua eletricidade por meio de painel solar, eólica ou outra fonte renovável. Em 2014, 77% apoiava a iniciativa.
O estudo ainda mostra que a faixa etária entre 25 a 34 anos é a que mais defende esta ideia (95%), sendo 14 pontos percentuais superior do que os entrevistados com mais 55 anos (81%). Ainda traçando um perfil, a Abraceel destaca que a defesa por este tipo de geração energética cresce até 15% conforme sobe o grau de escolaridade, sendo o menor índice (80%) para cidadãos com até o quarto ano do ensino fundamental completo.
“Além de mostrar uma preocupação crescente com a conscientização ambiental, a pesquisa mostra que o brasileiro está cansado do modelo atual e sabe que paga caro pela conta de luz”, destaca o presidente da Abraceel, Reginaldo Medeiros, em notá à imprensa.
A procura por uma eletricidade mais limpa ficou em segundo lugar na pesquisa que procurava saber qual motivo faria o brasileiro trocar de fornecedora de energia – caso o mercado livre fosse instaurado, com 17%. Este quesito só ficou atrás do preço, com 64% das respostas, mas está à frente da qualidade do atendimento, com 15%.
“Ou seja, podemos afirmar que o brasileiro quer uma energia mais barata, quer ter a possibilidade de escolher uma opção mais limpa e quer ser mais bem atendido”, resume Medeiros.
Por fim, o estudo mostra que 57% disse não estar disposto a pagar mais pela luz para incentivar a geração de energia limpa. O sentimento, porém, varia bastante entre as faixas etárias – dados apontam variação de 30 pontos percentuais – sendo 67% na faixa acima de 55 anos e 37% nos mais jovens – entre 16 e 24 anos – que não estariam dispostos.
Para Medeiros, o resultado confirma que o consumidor não está satisfeito com o atual modelo empregado pelo serviço do setor elétrico. “A pesquisa mostra claramente que as pessoas gostariam de escolher sua empresa fornecedora de energia. Eram 66% dos brasileiros há 7 anos; agora são 80%, um recorde. Ou seja, a cada 10 pessoas, 8 querem mudanças na sua conta de luz. Isso também mostra que as pessoas estão mais atentas a seus direitos e que este debate sobre o mercado livre de energia precisa continuar”, destaca o presidente da Abraceel.
Nordestino é o mais insatisfeito
A pesquisa apontou que 82% dos entrevistados da região Nordeste considera a energia elétrica cara ou muito cara. A média nacional ficou em 80%. A região Sul foi a que apresentou menos adesão, com 76%. O levantamento ainda mostra que, quando analisada a renda familiar, o sentimento em todo o país é que a energia é muito cara para 37% que recebe cinco salários mínimos e 49% quando a renda é de um salário mínimo.
Impostos altos e falta de concorrência foram apontadas como as principais causas para a eletricidade ser considerada cara independentemente da faixa etária, nível de escolaridade, região do país, porte do município ou renda. Apesar de ser a grande maioria, o estudo mostra ainda que os maiores índices de adesão ao mercado livre de energia estão entre as pessoas com maior nível de escolaridade e renda familiar.
“A Abraceel entende que se faz necessário popularizar o entendimento do mercado livre de energia. Para muitos, compreender o sistema ainda é uma barreira e é pouco divulgado. Isso fica claro nesta pesquisa. Quando analisamos um país com uma desigualdade social tão grande. Ainda que a maioria seja favorável a portabilidade, mesmo entre quem possui menos estudo”, diz Medeiros, lembrando que o levantamento aponta que 63% dos entrevistados com até o quarto ano do ensino fundamental completo apoiam a oportunidade de poder escolher seu fornecedor de energia, porém, quando considerado o público com ensino superior completo, o número chega a 87%.
Em todas as regiões, o preço é o principal atrativo para a mudança na fornecedora de energia. No Sudeste e Sul, em segundo lugar ficou a busca por energias mais limpas, nas demais, a qualidade do atendimento. No centro-oeste estão os entrevistados que mais gostariam de criar sua própria eletricidade, com 94%, já no Sul e Nordeste o número é 6 pontos percentuais menor.
Medeiros acredita que são necessárias mudanças estruturais no setor para alcançar um preço menor para ambos – consumidor e empresário – e, assim, também trair mais investidores. “Hoje, quem paga a conta desse atraso do setor é o trabalhador. Uma vez que o PLS 232/16 for aprovado, todos os consumidores de eletricidade se beneficiarão com a liberdade de escolha e preços baixos proporcionados pelos mais de 2 mil geradores e comercializadores de energia elétrica que existem no país. O benefício esperado não é só a economia mensal na conta de luz em 80 milhões de lares, mas a geração de muito mais empregos nas 4 milhões de fábricas, estabelecimentos comerciais, prestadores de serviços e no agronegócio”.
Atualmente, o mercado livre é responsável por 30% de toda a energia consumida do país e está presente em 85% das indústrias. Nos últimos 12 meses, o segmento cresceu 23% no número de consumidores. “O mundo pós-Covid-19 vai cobrar muito mais eficiência do setor elétrico. Tem que aprovar a reforma do setor. A energia barata só será obtida por meio da eficiência; o modelo atual é indutor de ineficiência e a insatisfação do contribuinte está explícita nesta pesquisa que realizamos”, finaliza Medeiros.
O Ibope ouviu uma amostra representativa de 2 mil pessoas no Brasil, entre os dias 24 de março e 01 de abril. A amostra aconteceu nas regiões Sudeste, Sul, Nordeste, Norte e Centro Oeste do Brasil. Foi questionado sexo, faixa etária, escolaridade, renda familiar e porte do município.