Para além da contrapartida ambiental com a redução nas emissões de gases poluentes a atmosfera, um estudo divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) aponta que os ônibus elétricos podem ser viáveis economicamente no país, ainda que essa atratividade dependa de variáveis como o preço do diesel, tarifa elétrica, rendimento esperado e indicadores financeiros, além de incentivos e garantias do governo que promovam a tecnologia no médio prazo.

Segundo a nota técnica, a manutenção desses veículos elétricos pode ser até 25% menor quando comparados aos similares a diesel (modelo P7), a partir de testes operacionais realizados na cidade de Salvador (BA), que identificaram o valor independentemente da recarga ser realizada no ponto de abastecimento ou ao longo da rota, conforme parâmetros utilizados pelo International Council on Clean Transportation (ICCT) com base em dados do California Air Resources Board (CARB).

Além dos custos recorrentes ao modelo tradicional, como troca de peças e consumo de óleo lubrificante, ainda que em menor escala, a manutenção dos VEs inclui a infraestrutura de recarga e o gasto com aluguel/ leasing de baterias, caso a empresa não a compre juntamente com a carroceria e o motor.

Na avaliação do fabricante dos veículos, a redução se deve à composição do motor com apenas três grandes peças que necessitam de manutenção periódica, com a operação sendo R$ 0,10/km mais onerosa para o modelo K9 de ônibus a diesel, que por sua vez possuem dezenas de peças com necessidade de reparos periódicos.

Já uma pesquisa feita em 2018 a partir de um case na Malásia também demonstra que os custos de peças e acessórios dos carros elétricos devem ser menores que de suas contrapartes a diesel, em virtude da menor presença de peças móveis e da não ocorrência de combustão interna dentro do motor, que sofre desgaste mais rapidamente.

Ao aplicar um desconto estimado em 24% ao custo de peças e componentes dos veículos a diesel, a EPE estimou em seu estudo valores entre R$ 0,37/km e R$ 0,42/km, destacando nesse mercado os fabricantes BYD, Eletrabus e Volvo.

Indicadores e Externalidades – A análise da substituição tecnológica baseia-se na modelagem bottom-up paramétrica e é apoiada em dados apresentados pelos principais agentes atuantes na temática, levando em consideração também pelo menos quatro indicadores financeiros de projetos: taxa interna de retorno (TIR), Payback, custo total de propriedade (Total Cost of Ownership – TCO) e valor presente líquido (VPL).

No caso o VLP indicou vantagem considerável do ônibus a diesel frente ao elétrico, sem ponderar questões ambientais ou de incentivos à tecnologia, como na condição em que o preço do diesel chega ao patamar de R$ 4,5/l. Para a EPE, eliminar imposto e reduzir o preço de aquisição desses VEs, aliado a algum crédito, tornaria a compra por concessionárias atrativa, podendo uma frota considerável viabilizar um mercado de veículos usados, e consequentemente o aumento do valor de revenda.

No entanto, mesmo com incentivos governamentais, a entidade admite que o ônibus a diesel pode voltar a ser mais atrativo economicamente caso haja declínio no preço do combustível. Nesta quinta-feira (24) o valor está em R$ 4,2/l.

Ao fim, o levantamento pondera que os resultados de políticas de incentivo à adoção de ônibus elétricos também precisam ser comparados com as externalidades positivas de outros investimentos, como a ampliação de modos de transporte metro-ferroviários, que também reduzem emissões de carbono, além de outros benefícios às cidades.

A EPE ainda salientou que os valores apresentados na nota não levaram em consideração os custos de meia vida dos ônibus, que são significativamente maiores para os tipos elétricos, devido à necessária troca de baterias usadas.