A demanda por energia voltou ao patamar de 2019, contudo, o trimestre de abril a junho não permitirá que seja verificado crescimento neste ano. É assim que o diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Luiz Carlos Ciocchi, encara os próximos três meses deste ano, ainda o primeiro de sua gestão à frente do órgão responsável por garantir o fornecimento de energia em todo o país. A retração foi equivalente ao desligamento das duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro.
“Comparando o mês a mês vemos que estamos bem junto de 2019. Esse patamar deverá se manter o mesmo até o final do ano. Temos a chegada do verão e a influência, obviamente, com a diminuição do isolamento social, que traz o consumo em comércio e serviços de volta e ainda vemos retomando no industrial, sem esquecer o consumo das famílias, que aumentou”, afirmou ele em entrevista à Agência CanalEnergia, na qual ele aborda seus primeiros quatro meses à frente da organização.
Apesar dessa perspectiva nos últimos meses do ano, somado ao resultado desde julho, quando a carga começou a sinalizar a sua retomada, o ano deverá apresentar um consumo consolidado nos 12 meses menor do que em 2019. Ciocchi destacou a retirada de 5 mil MW médios por conta da pandemia como o motivador dessa avaliação. “Neste ano a carga ficará abaixo de 2019”, ressaltou. “A pandemia levou à derrubada de 5 mil MW médios, é o equivalente a desligar São Paulo e Rio de Janeiro ao mesmo tempo”, dimensionou ele.
A pandemia levou à derrubada de 5 mil MW médios, é o equivalente a desligar São Paulo e Rio de Janeiro ao mesmo tempo”, Luiz Carlos Ciocchi, do ONS
Em termos de operação do sistema, comentou o diretor geral, a fotografia do momento é de que o ano de 2021 não deverá apresentar pressão. Em geral, a situação no Sistema Interligado Nacional apresenta um balanço entre reservatórios e carga em um patamar mais tranquilo para atendimento à demanda do que o verificado nesse mesmo período do ano passado. Mesmo com a perspectiva de um ligeiro atraso no início do período chuvoso que se vislumbra atualmente. A estimativa é de que as precipitações do final de setembro e início de outubro deverão chegar um pouco depois.
Apesar de ser verificado alguns reservatórios em condição mais desfavorável como em Serra da Mesa, citou ele, há outras bacias importantes como do Rio Grande que estão em melhor situação. No Norte, continuou ele, ainda há reflexos do mais recente período chuvoso, que foi classificado pelo executivo como excelente. E Sobradinho que mantém os níveis de armazenamento. Por outro lado, a Bacia do Paranapanema passa por um momento de estiagem forte. Itaipu opera na cota 217, nível que é o esperado para essa época do período seco do ano.
“Claramente o despacho térmico esse ano foi menor do que no ano passado”, apontou Ciocchi, como um dos parâmetros que indicam a melhoria do sistema.
No balanço dos primeiros quatro meses de gestão no ONS, que ocorreu em meio às ações de combate à pandemia, ele avaliou a resposta dada pelo ONS como positiva. Essa visão é confirmada tanto na operação do SIN como nas ações internas que o operador implementou para garantir a continuidade do fornecimento de energia ao país. Ele reforça a flexibilidade e o trabalho para manter o balanço no SIN mesmo em meio a uma situação em que as regras levavam a uma geração mais elevada do que a demanda em determinados momentos como na carga leve aos finais de semana.
“Tínhamos a geração compulsória, as térmicas inflexíveis, as vazões obrigatórias das hidrelétricas e somava isso nos levava a um volume mais elevado do que a demanda, o que nos levou a realizar manobras complexas”, relatou. “Felizmente, estamos acompanhando a carga e vemos que está subindo, está semelhante ao ano passado no mês a mês agora e crescerá até o final do ano”, reforçou.
Agora, o Operador começa a planejar a retomada das atividades no escritório nas atividades que não eram essenciais de serem desenvolvidas. Nesse período desde março 90% da força de trabalho ficaram trabalhando de forma remota e 10% nos centros da empresa que estão localizados além do Rio de Janeiro, em Florianópolis, Brasília e Recife. “Em nenhum houve problemas que nos forçaram a reorganizar o trabalho, tivemos um caso da doença, mas nada que nos forçou a mudar o esquema implantado. Mais importante, não houve vítimas”, reforçou.
A decisão ainda não foi tomada sobre como se dará a retomada. Mas, destacou que esse retorno será feito com todo o cuidado e seguindo os protocolos que os operadores e pessoal que passou esse período no escritório trabalhando, seguiram de forma bem sucedida.
Retomada das atividades no escritório será semelhante às medidas tomadas para garantir a segurança dos operadores que mantiveram o trabalho na quatro sedes do ONS
Enquanto o “martelo não é batido”, continua Ciocchi, o trabalho que vem sendo feito com reuniões diárias e interação virtual continua a ser feito. Tanto que dos projetos em andamento não houve paralisação, ao contrário, novas iniciativas foram tomadas. Ele citou entre essas ações que estão em curso de organização interna e o lançamento de diferentes formas de comunicação com os
stakeholders como o
portal com informações sobre o PMO e PLD e o
lançamento do aplicativo ONS Mais.
“Desde março estava com esse regime, quando cheguei encontrei a casa organizada em protocolos e operando em segurança”, descreveu o diretor geral, que ressaltou sua visão de que o desafio de sua gestão é o de “continuar fazendo o trabalho que é executado por excelência na instituição e melhorar aquilo que já é bem feito”. Por isso, ele cita que a meta é de manter o ritmo de trabalho no operador e ver onde melhorar dentro de uma organização que está muito bem estruturada.
Um dos pontos que ele ainda faz questão de citar como um exemplo de projeto para o ONS é a questão de sustentabilidade e do valor agregado que a instituição proporciona para o Brasil. Esse projeto, disse Ciocchi, já estava em andamento com o diretor de Operações, Sinval Gama, e atualmente está com duas frentes já avançadas e estão relacionadas a identificar e quantificar o benefício econômico do ONS como um todo. A previsão é de que em 2021 o projeto esteja em fase mais avançada e um piloto em andamento. A meta é apresentar à sociedade esses números, agregando valor à instituição e sua atuação para não somente o setor elétrico, onde já é reconhecidamente de excelência.