No próximo dia 24 de novembro o Portal CanalEnergia completa 20 anos de operação. Não posso dizer que passou rápido, e tampouco que não foi emocionante. A história dessa empresa que fundei com 25 anos de idade se mistura com a minha própria história. Se mistura também com a história do próprio setor elétrico nos últimos 20 anos, que foi contada pelo nosso jornalismo em cerca de 100 mil matérias e mais de 200 Fóruns, Congressos e Encontros setoriais que promovemos. Como dia 24 do próximo mês não estarei mais no CanalEnergia, resolvi escrever esse editorial e publicar hoje na data em que deixo definitivamente todas as minhas funções na empresa.
No ano 2000 o setor elétrico estava se transformando, vivíamos ali a euforia de um novo mercado com um horizonte de liberdade para o consumidor residencial já em 2006. Tínhamos uma nova governança com a Aneel, o ONS e na ocasião o MAE. Também tinham sido criadas recentemente as figuras do Produtor Independente de Energia e do Agente Comercializador, além das privatizações das distribuidoras. O CanalEnergia nasceu no meio disso tudo, nasceu, na verdade, junto com isso tudo, para atender a um novo mercado. Um mercado que precisaria de um elemento fundamental para se desenvolver: informação.
Não foi fácil, e logo após a criação do Portal bateu em nossa porta o racionamento de energia. O setor estava em foco! Imprensa nacional, presidência da república, a notícia do dia era o nosso setor. Foi difícil e desafiador. Contratamos uma correspondente em Brasília e passamos a acompanhar as notícias numa sessão especial do site chamada GCE. Quem viveu este momento conhece bem a sigla. A Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica dominou o noticiário. Fiquei sabendo que após o racionamento os principais veículos que fizeram a cobertura foram convidados pela cúpula da câmara de gestão da crise para uma homenagem pelo trabalho realizado. Não fomos lembrados! Tive que pagar um bom churrasco para o nosso time de jornalismo afogar as mágoas e acabamos dando risadas de algumas passagens desse momento complexo do nosso setor.
Seguimos nossa missão: fornecer jornalismo especializado, independente e plural, buscando com isso contribuir com o processo de formação de opinião da nossa qualificada audiência. Esse mantra foi seguido todos os dias pelo nosso time de Redação e tivemos realmente pessoas na liderança comprometidas com isso: Júlio Santos, Fabio Couto e Alexandre Canazio foram os nossos editores em vinte anos, a quem gostaria de agradecer em nome de todos os jornalistas que passaram ou estão hoje no time CanalEnergia.
Nesse tempo todo vimos muita coisa! Acompanhamos de perto o trabalho competente do ONS e vimos o SIN crescer 2,5 vezes de tamanho, saltando de aproximadamente 66 mil MW instalados e 62,6 mil Km de LT em 2000 para 165 mil MW e 145 mil Km de LT em 2020. Ou seja, 60% do SIN teve a cobertura completa do CanalEnergia com a divulgação ampla de absolutamente todos os leilões, a cobertura da realização e depois a repercussão entre os agentes envolvidos e especialistas, além do acompanhamento de obras e entrada em operação dos principais projetos.
Neste período de 20 anos o MAE virou a nossa CCEE saltando também de 58 agentes para mais de 10 mil em 2020. Vimos e cobrimos isso tudo, absolutamente todos os dias. As transformações no mercado, o Proinfa, o boom das PCH atraindo empreendedores novos para o setor, a criação da importante EPE que surgiu com um novo modelo setorial. Presenciamos toda a evolução regulatória do setor promovida de forma incansável pela Aneel e vimos e participamos ativamente ao lado da ABEEólica do surgimento na nossa matriz dessa fonte espetacular que é a eólica e a instalação da sua cadeia produtiva no país reunida anualmente no maior evento da fonte no hemisfério sul que é o espetacular Brazil Windpower, uma das minhas grandes alegrias e orgulho profissional. Vimos também crises de segurança energética, discutimos os Planos Decenais, trabalhamos por um mercado forte, estável, e tomamos sustos também como por exemplo com a MP 579, que balançou até o nosso negócio. Vimos saltar de 10 associações no primeiro Enase para 19 neste que encerramos no início de outubro, o que demonstra claramente a alta segmentação deste setor e os múltiplos interesses vezes conflitantes e por vezes coincidentes e materializados na importante figura do FASE. E, finalmente em 2017, vimos o renascimento de um ambiente de esperança e transformação do setor elétrico com a CP33, que moveu todo o mercado em torno de uma causa comum: um setor melhor, sob a batuta competente do Ministro Fernando Coelho Filho e seu dream team. Percebo hoje com muita expectativa que esse movimento está absolutamente vivo e evoluindo nas ações do Ministério e demais órgãos da governança setorial para modernização do mercado.
Sempre vimos e cobrimos isso tudo com isenção, imparcialidade nas nossas matérias, reportagens e eventos, visando o bom e construtivo debate. Mas isso nunca me furtou de dizer com todas as letras: o CanalEnergia sempre trabalhou por um setor elétrico estável, seguro para os investimentos e com respeito aos contratos. Apoiamos totalmente a economia de baixo carbono, impulsionamos e destacamos o protagonismo das renováveis, mas também valorizamos e entendemos muito bem o papel fundamental de outras fontes para o desenvolvimento de uma matriz sustentável com segurança energética e eficiência econômica. Somos a favor do mercado livre acessível por todos os cidadãos brasileiros. Trabalhamos junto com muitos colegas todos esses anos por isso. Acho que o que eu mais acredito, de fato, é num mercado livre de energia no Brasil e quando isso de fato acontecer para todos acho que terei cumprido, junto com muitos outros colegas, a minha missão no setor elétrico nacional. Temos para isso liderado muitas iniciativas esses anos todos e tenho muito orgulho de ter recebido ainda em 2010 a medalha Mercado Livre 10 anos representando a imprensa nacional e como uma das cinco pessoas que mais contribuíram naquele período para o desenvolvimento do ACL no país, concedida pela nossa parceira de sempre, a Abraceel. Depois disso lideramos a campanha 2012 o Ano do Mercado Livre, promovemos anualmente o Encontro Anual do Mercado Livre e o Encontro Nacional de Consumidores Livres, atualmente parte do Energy Solutions Show.
Hoje estou particularmente atento com o segmento de distribuição de energia no país. Acho que a legislação e a regulação precisam trabalhar juntas para que o mais rapidamente possível este segmento vital do mercado possa encontrar e assumir com estabilidade o seu novo papel neste novo setor. Um papel de conectar como um hub as tecnologias emergentes de geração, gestão de demanda e armazenamento e de fato ajudar a criar a figura do prossumidor de energia sem limites regulatórios mas apenas limites impostos pela fronteira da permanente evolução tecnológica pela qual o nosso setor passa hoje e continuará a passar nos próximos muitos anos.
Me preocupa muito, dentro deste importante debate, a confusão criada por discursos que não contribuem com a discussão no setor simplesmente porque são discursos vazios de verdade e que chegam às mais altas esferas do governo. Acho que o setor deveria lutar junto contra isso todos os dias.
Fui criado dentro da Eletrobrás dos anos 70 e 80 numa época em que os alicerces deste setor foram construídos por engenheiros que tinham o objetivo de entregar para a sociedade brasileira o melhor setor possível, com excelência na engenharia e com o idealismo de patriotas. Acho sinceramente que este deveria ser o sentimento e motivação de todos os que constroem o nosso setor ainda hoje. Evidente que defender interesses de segmentos é legítimo e desejável, por isso demos sempre tanto foco nas associações, mas acho, pessoalmente, que estes interesses nunca devem se sobrepor ao interesse maior que é o do desenvolvimento sustentável e equilibrado do setor elétrico nacional.
Antes de encerrar não poderia deixar de agradecer ao Mario Veiga e ao meu querido amigo e parceiro de muitos anos, Luiz Augusto Barroso, pela parceria com a PSR, uma empresa de excelência e pessoas geniais. Agradecer ao meu grande amigo João Carlos Mello que esteve sempre conosco e em nome dele agradecer a todos os palestrantes dos nossos eventos; a todos os agentes comercializadores de energia que sempre nos apoiaram, na pessoa do meu professor Reginaldo Medeiros, sempre com uma visão diferenciada e experiente; ao setor eólico que vimos crescer com o nosso Brazil Windpower na pessoa da amiga Elbia “Prafrentex” Gannoum sempre de olho e construindo o futuro. Agradecer obviamente pelo apoio de todas as associações copromotoras do Enase na pessoa do ex-presidente da Abradee, Luiz Carlos Guimarães, primeiro a aderir e assinar a participação neste encontro anual que virou o principal evento do setor elétrico nacional. Da mesma forma agradecer ao grande Mario Menel, e aos amigos da Abiape e do Fase, pelas tantas cartas e mensagens assinadas e endereçadas ao mercado e divulgadas em nossos eventos; a todos os nossos patrocinadores nas pessoas dos meus queridos amigos José Amorim e Claudio Monteiro, da Coomex, e posteriormente pela manutenção do apoio master de tantos Enase e Encontros Anuais do Mercado Livre pelo BTG Pactual ao Oderval Duarte e Manoel Gorito. Da mesma forma, agradecer à Apine nas pessoas do Luiz Fernando Vianna e do genial Guilherme Velho por tantos Fóruns conjuntos e também ao amigo Newton Duarte que sempre nos apoiou na Cogen e na Siemens; e também ao Claudio Sales por tantos Fóruns em conjunto com a antiga CBIEE. Agradecer de forma especial ao meu padrinho querido de batismo e de coração Xisto Vieira Filho pelo incondicional apoio em toda a vida, e também aos meus tios de consideração Hermes Chipp e Mario Santos que à frente do ONS sempre nos prestigiaram. Agradecer também ao Flavio Neiva da Abrage pelo apoio bem no início deste projeto, ao Paulo Pedrosa e Maurício Corrêa pela criação conosco do Encontro Anual do Mercado Livre, e ao querido Paulo Ludmer, da Abrace, primeira associação com a qual tivemos de fato uma parceria efetiva. Quero agradecer ainda aos amigos Ricardo Pigatto e Charles Lenzi e a todos os amigos da Abragel e do mundo das PCH, no qual tivemos o CNDPCH em parceria com o amigo José Sergio Oliveira Andrade e nosso mestre Firmino Sampaio, a quem quero agradecer também. Não poderia deixar de destacar a importante interlocução que sempre tivemos junto à governança setorial e, portanto, quero agradecer à Aneel, em nome do amigo André Pepitone, à CCEE, em nome do Rui Altieri, ao ONS, nas pessoas do Luiz Carlos Ciocchi e Luiz Eduardo Barata, ao Thiago Barral e todos da EPE, além, é claro, de agradecer a todos do Ministério de Minas e Energia na pessoa do Ministro Bento Albuquerque, por quem tenho grande respeito e consideração pela postura sempre franca, positiva e respeitosa com o nosso setor.
Dentro do CanalEnergia, além do time de jornalismo já mencionado, quero agradecer muito à Isabela Filgueiras, Rafael Lammeren, Henrique Cesar Guedes e Deny Tenenblat e em nome deles agradecer a todos que construíram a história do CanalEnergia, além do professor Sidnei Martini primeiro coordenador dos cursos CTEE. De forma muito especial ao meu irmão, parceiro de sempre, sócio e fundador da empresa, Ricardo Ferreira que teve por todos os anos um papel fundamental no desenvolvimento do CanalEnergia sempre com boas ideias e seu design gráfico afiado e de muito bom gosto, denotando profissionalismo e cuidado em todas as nossas ações. Por fim, dedico os 20 primeiros anos do Grupo CanalEnergia ao meu pai, Celso Ferreira, maior incentivador deste projeto e que foi sempre o meu exemplo de conduta ética e profissional.
Finalmente me despeço hoje do Grupo CanalEnergia após 20 anos sentado nesta cadeira que muito me orgulha. Mas quero dizer aos meus amigos, parceiros, leitores e clientes de tanto tempo que vou seguir buscando caminhos para contribuir com a comunicação de qualidade e a integração entre as pessoas do setor elétrico nacional. Muito obrigado pelo apoio e audiência esses anos todos e nos vemos em breve!
Rodrigo Ferreira é jornalista especializado em energia elétrica desde o ano 2000 e fundador, com seu irmão Ricardo Ferreira, do Grupo CanalEnergia onde permaneceu como Publisher até o dia 13 de outubro de 2020.