A privatização da Eletrobras, que ainda depende de aval do Congresso Nacional para ser iniciada, representará uma mudança no setor, assim como as que estão sendo deflagradas com a modernização do setor. De acordo com o General Manager na Siemens Energy, André Clark, a operação de capitalização vai levar ao fortalecimento financeiro de um player que já é um dos maiores do mundo em geração renovável. “Isso muda o jogo significativamente, uma empresa super bem capitalizada voltando a investir”, observa Clark, que que participou de painel virtual sobre Transformação Energética no Brazil Windpower nesta terça-feira, 27 de outubro.

Ainda de acordo com Clark, o hidrogênio verde, colocado como nova fronteira energética, pode ter um futuro diferenciado e mais exitoso ainda no Brasil. Enquanto no exterior o insumo é usado como storage de larga capacidade, no Brasil, o hidrogênio é apenas uma dessas alternativas de uso. “O Brasil tem aplicações para hidrogênio excepcionais na indústria de muita competitividade e que as deixam verdes. As aplicações são distintas do ponto de vista estratégico”, afirma. Para ele, o hidrogênio é complementar ao biogás, podendo enriquecer e estabilizar o seu poder calorífico.

Para Clark, o setor elétrico brasileiro sobreviveu bem no curto prazo durante a pandemia, já que forneceu energia todo o tempo, não entrou em colapso financeiro e manteve a integridade. No futuro, Clark vê predominância das renováveis, que mostraram força durante a pandemia, se consolidando no ACL, no atendimento da demanda e na digitalização. Porém o presidente da Siemens alertou que o movimento de digitalização vai demandar investimentos em segurança cibernética, uma vez que os ataques aumentaram durante a pandemia.

Para Fernando De Lapuerta, CEO da Statkraft no Brasil, embora ainda seja difícil avaliar os impactos da Covid, o país se saiu melhor que vizinhos da América Latina. Assim como Clark, ele também destacou a resiliência das renováveis e a sua expansão no médio e longo prazo, baseada em quedas de custos e abundancias de recursos. De Lapuerta também citou no painel o aumento da eletrificação com a mobilidade elétrica e revela que cresce a demanda de consumidores pelas renováveis. “Os próprios consumidores pedem energia limpa, já uma sociedade mais conscientizada”, aponta.

A velocidade da transição energética não deverá acontecer na rapidez esperada, segundo Adriano Pires, diretor do CBIE. Para ele, o debate está ganhando tons emocionais e adquire tons de populismo ambiental. Pires vê no médio prazo uma matriz, mas limpa, o que já era uma tradição do país. Com a forte inserção de eólicas e solares, ele vê espaço para térmicas a gás na base, que poderiam também evitar a volatilidade do PLD. Ainda segundo ele, deve haver uma preocupação para que todos os consumidores possam pagar a conta de luz já que no mundo há pessoas mais pobres que ricas. “No médio prazo, a transição deve ser mais rápida do que foi a da lenha para o carvão, porém mais lenta do que os otimistas pensam”, avisa.