Em uma década a fonte eólica foi alçada à segunda maior do país, mas ainda assim um problema crônico ainda afeta toda a indústria, o custo-Brasil. Esse fator ainda limita a expansão da produção brasileira das turbinas eólicas. Por isso, o mercado internacional não é considerado uma alternativa para a manutenção da atividade fabril em períodos de menor volume de pedidos para projetos no país.
Segundo representantes dos maiores produtores de aerogeradores que possuem fabricação local, há apenas componentes isolados com nível de competitividade que podem chegar a outros mercados. Contudo, pensar em exportação de grandes equipamentos já prontos não é um negócio viável para as unidades fabris que operam em território nacional. O tema foi debatido no primeiro painel desta quinta-feira, 29 de outubro, do Brazil Windpower 2020, evento realizado pelo Grupo CanalEnergia-Informa Markets, em parceira com o GWEC e ABEEólica.
Segundo Brian Pitel, diretor de Supply Chain para Onshore Wind na América Latina da GE, a operação das indústrias é competitiva e o produto nacional seria mais competitivo com a desvalorização cambial que temos visto do real ante o dólar. Mas as fabricantes possuem outros custos adicionais como o repasse de impostos de importação de insumos que são repassados ao preço final do produto e cita ainda a necessidade de investimentos em outras áreas como a abertura de estradas.
Julio Cesar Pinheiro Goes, diretor de Supply Chain da Siemens Gamesa, destacou que o custo-Brasil impede a competitividade para que o país se torne um hub de exportação. Ele destaca que essa condição seria ótima para reduzir a volatilidade de atividade industrial, como ocorreu em 2016 e 2017.
“Nos últimos 30 anos perdemos a capacidade de brigar com o mercado externo. Possuíamos um segmento de metalurgia que competia com mundo todo. Hoje não há mais essa capacidade, por isso precisamos de conjunto de políticas que permitam ao Brasil ser competitivo novamente”, defendeu ele em sua participação.
Entre os custos mais elevados estão o da matéria prima, mais tempo para a produção de um bem que lá fora é menor. “A exportação é algo que precisa ser trabalhado”, acrescentou.
O diretor de Vendas da Vestas, Eric Rodrigues, concordou e disse ainda que a variabilidade de mercado é um desafio. Atualmente a demanda local ocupa toda a capacidade produtiva local e que encontrar um ponto de equilíbrio entre mercado local e externo é um desafio.
“Estamos com um pico de demanda e o desafio atual é o de atender a esses pedidos no mercado interno que está em nível mais elevado e atender a exportação seria complexo, mas em momentos de baixa de mercado, como tivemos entre 2016 e 2017 é uma alternativa para manter a capacidade fabril mínima aos fabricantes”, pontuou.
O diretor de Compras da Nordex Acciona, Marcelo Costa, destacou que o custo Brasil traz ineficiência para o produto brasileiro. Outro fator ainda que ele jogou luz é a questão da cadeia de fornecimento que também sente a insegurança para atender ao volume requisitado.
“Em muitos casos o próprio fornecedor não acredita em um volume mais elevado quando recebe pedidos de todos os fabricantes. O mercado está sofrendo para atender a demanda por projetos”, revelou ele. “E há muito mais a vir para os dois próximos anos”, acrescentou o executivo.
Pelo lado da WEG, João Paulo Silva, diretor superintendente da divisão de Energia da multinacional brasileira, corroborou que o mercado está aquecido nesse momento. Mas alertou que se a economia não retomar o crescimento, daqui uns três anos é possível que o segmento possa se ver diante de novo período de pedidos em baixa.
“Talvez a MP 998 que prevê o fim da TUST e da TUSD para a fonte incentivada possa adiar um pouco esse momento por promover uma corrida de pedidos, mas se a economia não se recuperar poderemos ver de novo fábricas sem pedidos”, ponderou.