A energia elétrica começou a voltar a Macapá, capital do Amapá, na madrugada de sábado, 6 de novembro, cinco dias após o acidente com um transformador que provocou um apagão e desconectou o estado do Sistema Interligado Nacional. No fim de semana, foram restabelecidos cerca de 65% da carga, segundo o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que prevê a normalização do abastecimento de energia em dez dias.
Com a recomposição parcial do sistema, o fornecimento está sendo feito em um sistema de rodízio com duração de seis horas, mas há denúncias de que a energia não tem chegado aos bairros mais pobres que ficam na periferia. Uma decisão da Justiça Federal do Amapá em ação popular movida pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) deu prazo de três dias para o restabelecimento da energia no estado, com multa de R$ 15 milhões em caso de descumprimento. A justiça também determinou o abertura de inquérito pela Polícia Federal,
Em entrevista no sábado, Albuquerque destacou que o racionamento é resultante “de uma condição excepcional.” “O que ocorreu aqui foi fruto, a princípio, de um fenômeno natural, um momento que não se tinha conhecimento no estado do Amapá”, disse durante visita à subestação rebaixadora de carga de Macapá.
O ministro garantiu que quando os três transformadores estiverem instalados na subestação haverá um equipamento reserva, e que serão apuradas as responsabilidades pela ocorrência. Também anunciou um estudo de planejamento energético para que situações semelhantes à do apagão no Amapá não venham a se repetir.
O governo ainda não divulgou qual será o custo total da operação de restabelecimento da energia, que mobilizou nos últimos dias equipamentos e pessoal da Eletronorte e de instituições como as Forças Armadas. A estatal foi autorizada a contratar imediatamente 40 MW de geração de energia térmica a partir de geradores a diesel para reforçar a segurança do abastecimento.
A contratação “de forma célere, excepcional e temporária” para atender a capital Macapá pode chegar a 150 MW por até 180 dias, conforme portaria publicada na noite de sexta-feira, 6, em edição extra do Diário Oficial da União. Os custos fixos e variáveis associados a essa geração serão cobertos por meio de encargo a ser pago por todos os consumidores do SIN, para cobrir os custos do despacho fora da ordem de mérito por restrição de operação.
O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico é que vai determinar o montante a ser contratado. O local de instalação dos geradores será definido pela Companhia de Eletricidade do Amapá, com o apoio do Operador Nacional do Sistema Elétrico e da Eletronorte. A portaria determina que, excepcionalmente, a geração termelétrica emergencial não estará sujeita ao rateio de inadimplência no Mercado de Curto Prazo, resultante do processo de contabilização realizado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica.
Mobilização
O blecaute que deixou grande parte da população amapaense no escuro foi provocado pela explosão seguida de incêndio de um transformador na subestação Macapá, da Isolux. O acidente ocorrido na terça-feira passada danificou o segundo transformador em operação, e o terceiro equipamento, que deveria funcionar como reserva, estava indisponível desde dezembro de 2019, para o trabalho de manutenção.
O uso político do acidente pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, vem sendo criticado por adversários políticos e pela população do estado. Desde a semana passada, Alcolumbre tem se reunido com Albuquerque e autoridades do setor para discutir as ações de apoio do governo federal. O ministro esteve duas vezes no Amapá, uma delas no sábado, quando visitou a SE Macapá ao lado do presidente do Senado e do governador Waldez Goes.
O MME instalou um gabinete de crise para coordenar as ações. Além do ministério, o esforço para o restabelecimento da energia tem envolvido diretamente o ONS a Agência Nacional de Energia Elétrica, a Eletronorte, a CEA e a concessionária Linhas de Macapá Transmissora de Energia.
Mesmo não tendo qualquer participação no empreendimento, a estatal do grupo Eletrobras tem trabalhado desde o início na recuperação do transformador que restabeleceu parte da carga no estado, deslocando máquinas de purificação de óleo e fornecendo um segundo transformador instalado em Boa Vista. Um terceiro equipamento também será transportado de Laranjal do Jari (AP) para Macapá.
O trabalho de apoio logístico envolve também as Forças Armadas, que mobilizaram três navios e um helicóptero da Marinha, duas aeronaves da Força Aérea e tropas do Exército e dos Fuzileiros Navais no Amapá. Além do transporte de equipamentos, foi feito o carregamento de gêneros alimentícios, medicamentos e combustível.