O novo mercado de gás natural no Brasil, apesar de promissor, ainda vai demandar desafios para que ele atinja um ponto de amadurecimento e deslanche. Em painel sobre a abertura do mercado de gás realizada nesta terça-feira, 1º de dezembro, durante a Rio Oil & Gas, Ieda Gomes, Senior Visiting Research Fellow no Oxford Institute for Energy Studies, lembrou que a demanda no Brasil está bastante atrelada a indústria, já que o consumo residencial e comercial são pequenos e ainda não se intensificaram. “Nossa demanda não chega perto da argentina, que é muito maior”, explica.  A área de energia, que se apresenta como uma espécie de âncora da demanda do gás, pode se beneficiar do incremento das renováveis, mas luta com a flexibilidade das usinas.

Ainda de acordo com ela, há um desafio duplo para a indústria do insumo no país, que é o da aceleração da transição da mudança climática e as barreiras domésticas. O Brasil responde por apenas 1% da demanda mundial de gás e é 1,3% das emissões de CO2. Ieda Gomes projeto que a demanda pode duplicar até 2029, mas que a regulação terá que sofrer alterações que possibilite esse cenário. Há a necessidade de expansão do gasodutos, por ser provável que a malha atual esteja saturada em 2025. Sobre o tempo do gás natural do país, a pesquisadora lembrou que os impactos da liberalização não deverão ser imediatos, uma vez que na Europa e no Reino Unido levou de 12 a 20 anos. Durante o painel, ela salientou que o insumo também deverá lidar com o processo de descarbonização e com o aumento de veículos elétricos no mundo. Ela vê o GNL com papel preponderante para o setor elétrico, além de destaque para o gás boliviano e o gás doméstico produzido pela Petrobras no Sudeste.

Classificando o gás natural com a ‘reserva estratégica’ do setor elétrico brasileiro, Lazslo Varro, Economista-Chefe da IEA, alertou para desafios que o ambiente regulatório vai trazer ao setor. Segundo Varro, refletir a complexidade geográfica do país no desenho das tarifas de gasodutos, a alocação de capacidade com uma demanda bastante incerta e interações entre a  segurança energética e as políticas estruturantes do gás deverão estar em observação.

O secretário-executivo adjunto do Ministério de Minas e Energia, Bruno Eustáquio, que também participou do painel na Rio Oil & Gas, lembrou que o governo vem buscando tornar o mercado de gás mais plural e  competitivo. A Petrobras tinha amplo domínio de várias etapas da cadeia e as distribuidoras são na sua maioria estatais estaduais. Eustáquio também citou a malha de infraestrutura insuficiente e a concentração na oferta e na demanda, que faz o país passar por um desafio. Ele aposta no gás da camada pré-sal para trazer mais competitividade ao mercado.

A lei que institui o novo mercado do gás foi aprovada na Câmara dos  Deputados, mas ainda precisa de aprovação do Senado.