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A competição resultante de um processo tecnicamente bem conduzido explica o sucesso do leilão da CEB Distribuição, que foi privatizada nesta sexta-feira, 4 de dezembro, por R$ 2,51 bilhões. A avaliação é da gerente de Regulação e Tarifas da Thymos Energia, Ana Carolina Silva, que atribui o resultado vitorioso ao fato de os relatórios técnicos elaborados pela consultoria terem mostrado aos competidores que a distribuidora do Distrito Federal era um bom ativo.
“Tem alguns problemas a serem resolvidos, mas é um ativo que tem grande potencial, além de estar em Brasília, uma região estratégica politicamente falando”, disse a técnica. A estatal teve uma disputa acirrada, com lances em viva voz dos grupos Neoenergia e CPFL. O resultado foi um ágio de 76,63% em relação ao preço mínimo de R$ 1,4 bilhão. A diferença entre as concorrentes ficou próxima, com a CPFL Energia apresentando lance de R$ 2,50 bilhões (76,14%).
A gerente da Thymos afirmou que o desfecho da venda de estatal deixou a equipe esperançosa quanto ao próximo processo de privatização na qual a empresa está envolvida, que é o da CEEE Distribuição, do Rio Grande do Sul. A expectativa é de que a companhia gaúcha seja leiloada já no início de 2021.
A CEB e CEEE têm em comum problemas de descumprimento dos indicadores de qualidade e de gestão econômico-financeira que poderiam levar à abertura do processo de caducidade da concessão pela Agência Nacional de Energia Elétrica no ano que vem. Em relação à CEB, a gerente da Thymos é otimista quanto ao tempo de recuperação da empresa, que terá de investir R$ 5 bilhões em cinco anos.
Ana Carolina acredita que com bons investimentos a companhia tem condições de em um ou dois anos reverter a situação. “Quem comprou é um grupo que tem outras distribuidoras e já tem um conhecimento, o que facilita muito.”
Otimismo
A análise otimista da representante da Thymos é compartilhada por dois especialistas reconhecidos do setor elétrico. Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, considerou que o leilão foi um sucesso sob todos os aspectos.
Primeiro, porque teve a participação de três grupos experientes e com grandes investimentos no segmento de distribuição. Além de Neoenergia e CPFL, a Equatorial Energia também disputou a CEB, mas não apresentou lance na fase de viva voz.
O segundo ponto foi a competição pelo ativo, e o terceiro aspecto, segundo Sales, o compromisso de investimentos para que a empresa possa se tornar eficiente do ponto de vista da performance e da qualidade do serviço, além de melhorar a rentabilidade. “Só notícia boa que se pode depreender disso, mostrando que o caminho da privatização é um caminho virtuoso, que eu espero que seja acelerado aqui no país, notadamente no setor de energia elétrica”, disse.
O coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, Nivalde de Castro, viu o resultado do leilão como uma confirmação de que o setor elétrico brasileiro é atrativo a novos investimentos e muito competitivo. “Os últimos leiloes tem indicado sempre isso.”
Para o economista, independentemente da situação econômica que o país atravessa, a atratividade é grande porque trata-se de um investimento de longo prazo, e o potencial de crescimento da economia brasileira fica evidente para os investidores. Ele também destacou “o grande diferencial do setor elétrico”, que é um marco regulatório com risco baixíssimo em relação aos contratos.
Castro apontou, porém, outro fator que em sua opinião explicaria o ágio elevado na venda da CEB D, que é a desvalorização do real. Ele pondera que esse é um fator de atratividade maior para grupos estrangeiros. “Em euro, esses ativos estão bem mais baratos.”
Destaca-se também no processo o não interesse de grupos Enel, EDP, Energisa e até a própria Equatorial, que participou, mas não disputou o lance decisivo. Para o professor da UFRJ, isso aconteceu porque esse grupos já fizeram grandes compras no passado ou, no caso da EDP, há uma reestruturação mundial do grupo em andamento.