A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia e responsável por planejar o sistema elétrico nacional, publicou na última segunda-feira, 14, a versão preliminar do Plano Decenal de Expansão 2030 (PDE 2030), documento oficinal do governo federal que serve como bússola sobre como o governo aposta que caminhará o mercado de energia na próxima década. Até 13 de janeiro 2021, os agentes poderão acessar no site do MME e da EPE, acessar a documentação da consulta pública nº 101/2020, e contribuir para o aprimoramentos dos dados.
A EPE reforça a mensagem para o mercado de que a expansão da matriz elétrica será pautada respeitando os requisitos (condições necessárias) do sistema elétrico nacional. Ou seja, a escolha para contratação de nova capacidade de geração ocorrerá de acordo com a fonte que tem o melhor atributo (características técnicas) para atender a demanda.
No cenário mais otimista, haverá uma expansão de 55 GW de potencia instalada até 2030. No pior cenário, apenas 11 GW. Para período de 2026 e 2030, espera-se uma expansão de aproximadamente 37 GW, com média de 7,5 GW/ano de nova capacidade instalada a ser incorporada ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
Em maio de 2020, o SIN contava com capacidade instalada de cerca de 171 GW, com a participação das diversas fontes de geração, sendo a hidrelétrica continua ainda majoritária.
Segundo a EPE, os leilões realizados até abril de 2020 e a perspectiva de entrada de empreendimentos viabilizados através do mercado livre (dos quais aproximadamente 60% será de fontes renováveis – solar e eólica) resultam em acréscimo de aproximadamente 15.600 MW de capacidade instalada no horizonte decenal até 2030.
“[..] Identifica-se crescimento relevante das fontes eólica e solar fotovoltaica centralizada que, juntas, correspondem a aumento de 4%, ao acrescentarem em torno de 6 GW na capacidade instalada já em implantação, de dezembro de 2020 até o final de 2030”, destaca a EPE.
“Importantes constatações podem ser feitas com esses resultados. A primeira diz respeito ao requisito de capacidade do sistema. Mesmo para a menor trajetória de crescimento, o SIN precisará de tecnologias que aumentem sua capacidade de potência, agregando pouca ou nenhuma energia. A segunda constatação diz respeito ao perfil renovável da matriz, que mantém sua predominância mesmo para o maior crescimento de demanda”, explica a EPE em outro momento do texto.
No período de 2021 a 2030, a estimativa de crescimento médio do PIB brasileiro varia entre 1,7% ao ano e, no melhor cenário, 2,9% ao ano; enquanto a demanda elétrica, no primeiro caso, pode variar 2,9%, em média/ano, a até 3,6% no cenário superior.
Investimentos em transmissão
Segundo a EPE, a malha de transmissão de 158.892 km de linhas (agosto de 2020) deverá saltar para 200.154 km em dezembro de 2030. A capacidade de transformação (subestações) passaria de 383.680 MVA (ago. de 2020) para 525.115 MVA (dez. de 2030).
Como pode ser observado, o cenário otimista preserva as informações do planejamento original, envolvendo investimento total de R$ 108,7 bilhões até o horizonte de 2030. No entanto, os cenários de referência e pessimista envolvem investimentos inferiores, em torno de R$ 89,6 bilhões e R$ 59,2 bilhões (este número representa o total já outorgado nos demais cenários).
Considerando o cenário com maior possibilidade de ocorrer (R$ 89,6 bilhões), R$ 62,5 bilhões são para linhas de transmissão e R$ 27,1 bilhões em subestações. “Salienta-se que, do investimento total previsto, cerca de R$ 59,2 bilhões já foram outorgados, enquanto R$ 30,4 bilhões ainda não possuem outorga”, destaca a EPE.
Carga
Devido às incertezas econômicas impostas pela pandemia de Covid-19, a EPE trabalha com três cenário de projeção da carga nacional de eletricidade, que no seu limite superior salta de 67.8 GW médios em 2019 para 100,4 GW médio em 2030; e no seu limite inferior, chegaria apenas a 84,4 GW médios. O cenário de referência considera o consumo de 93,8 GW médios em 2030, crescimento de 3% no período decenal.
O cenário inferior, explicou a EPE, indica crise de saúde intensa e prolongada, com a presença de segunda onda de contágio pelo coronavírus. As dificuldades na aprovação de reformas econômicas e setoriais e o maior nível de desemprego no país e menor renda levam a um crescimento da carga de energia aquém do observado no histórico, com taxa anual média de 2,9%. Tal crescimento pauta-se em baixo dinamismo em todas as classes de consumo, sobretudo as indústrias e residências.
Consumo
A tendência mundial é de eletrificação da economia, o que explica a taxa média de crescimento do consumo de eletricidade de 2,1% entre 2019 e 2030. “Projeta-se um aumento da intensidade energética até 2022, influenciada por um ganho de participação de indústrias energointensivas, seguida de redução gradual até 2030, pela incidência de ganhos de eficiência energética bem como pela mudança na participação dos setores no consumo de energia, resultando em uma queda de 0,6% no período”, destaca a EPE ao se referir a projeção de demanda elétrica nacional conforme indicação de planejamento.
“No período 2019-2030, o consumo de energia per capita cresce a 1,5% a.a. no país. Ainda assim, estará longe de atingir em 2030 os patamares observados em países desenvolvidos”, escreve a EPE.
O consumo residencial cresce a partir do resultado do aumento do número de consumidores residenciais (1,6% a.a.), que alcança o total de 87 milhões em 2030, e também pelo incremento do consumo médio residencial (1,8% anuais), atingindo 197 kWh/mês ao final de 2030. O consumo por consumidor no primeiro quinquênio supera o nível máximo histórico em 1998 (179 kWh/mês), disse a EPE.
GD
Para micro e mini geração distribuída foram elaborados dois cenários. No cenário Verão, adotado como referência, considera-se a manutenção de política de grande incentivo para a MMGD, fazendo mudanças sutis na regulamentação. Nesse cenário, a indicação é de cerca de 3 milhões de adotantes, totalizando 25 GW, que irão contribuir com 4,6% da carga total de energia em 2030.