O destaque em termos de volume de lotes ficou com o Grupo MEZ, que tem origem na construtora Eztec e possui outros quatro projetos no segmento. Por outro lado, os maiores empreendimentos em termos de investimento foram arrematados por empresas tradicionais do segmento de transmissão.
O maior deles é o lote 2, localizado em três estados, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo, que soma linhas de transmissão com mais de 1 mil quilômetros de extensão e aporte na casa de R$ 2 bilhões. O empreendimento ficou com a Neoenergia. A empresa destacou que o ativo arrematado apresenta sinergias durante o período de construção com outros projetos na Bahia e Espírito Santo. Até porque já possui outros empreendimentos na região.
A companhia lembrou que 90% do Capex se encontra nos estados, sendo 70% na Bahia, “o que contribuiu no estudo detalhado elaborado pela empresa previamente ao leilão”. A Neoenergia é a controladora da Coelba, a concessionária de distribuição local. Além disso, acrescentou, o lote também apresentará sinergias durante a operação, aproveitando a infraestrutura existente nessa região de mais de 479 kms de LTs em 230 kV.
A empresa informou ainda que já possui ofertas vinculantes dos principais fornecedores para execução do Capex, e que foi efetuado hedge para proteção de variações de moedas ou commodities. Apontou que o projeto contará com desconto aproximado de 10% a 15% em relação ao capex total previsto pela Aneel, distribuído da seguinte forma: 10% em 2021, 20% em 2022 e 70% em 2023. E ainda considera uma antecipação de cerca de 24 meses em relação ao prazo máximo estipulado pelo regulador que é de 60 meses, ou março de 2026. E irá pleitear incentivos fiscais regionais e contará com linhas de financiamento junto a bancos de fomento.
O segundo maior investimento estimado pela Aneel no certame ficou com a Cteep. O lote 7 consiste na implementação de 63 km de linhas de transmissão e de 800 MVA de potência para suprir as cargas das regiões Norte, Sul e Leste do município de São Paulo e região do ABC com ativos serão subterrâneos. De acordo com a transmissora, os recursos para a implantação serão obtidos com o caixa próprio e o apoio financeiro do mercado de capitais por meio de Debêntures de Infraestrutura e demais fontes de financiamento disponíveis.
Em entrevista coletiva o CEO da companhia, Rui Chammas, destacou que a empresa ficou satisfeita com o resultado. E que a empresa procura aumentar seu portfólio de projetos de forma a gerar valor pela empresa, fato que levou a não arrematar todos os lotes dos quais participou.
Um dos destaques desse certame não foi um vencedor de lote, mas sim o retorno da Eletrobras à disputa, um fato que não ocorria há seis anos. A estatal apresentou ofertas por cinco dos 11 lotes por meio da subsidiárias Furnas, CGT Eletrosul e Amazonas GT.
Em comunicado, o CEO da estatal, Wilson Ferreira Júnior destacou, “avaliamos como positiva nossa participação em cinco lotes, assim como a dedicação de nossos dirigentes e empregados para obter projetos e propostas competitivas. Temos a certeza de que venceu a disciplina de capital, respeitando o custo do capital próprio da companhia”. Ele acrescentou ainda que o leilão evidenciou a atratividade do setor para investidores nacionais e estrangeiros.
A empresa adotou como premissa para participação no leilão a sinergia com ativos já existentes em diferentes pontos do país, com a presença das controladas para cada região.
Um dos lotes que a empresa disputou era o 11, no Amazonas, que pertenciam à Amazonas GT que não renovou contrato em 2016. Nesse caso venceu a Energisa após uma intensa disputa viva voz. A proposta vencedora foi dada 10 segundos antes de terminar o prazo dado pelo leiloeiro.
Com isso, a empresa assume o empreendimento situado no Amazonas por uma RAP de R$ 63 milhões. Do investimento estimado pela Aneel de R$ 882,2 milhões, uma parcela de R$ 257 milhões serão desembolsados para pagamento da base de ativos da Amazonas-GT, atual empresa designada de serviço de transmissão.
A Energisa afirma que a chegada ao Amazonas fortalece a presença nacional do Grupo Energisa, que passa a atuar em 23 estados brasileiros através de suas subsidiárias. Este é o quinto lote de transmissão da Energisa adquirido desde abril de 2017. Dois deles, no Pará e em Goiás, começaram a operar este ano. Com este empreendimento arrematado no leilão passa a deter 1.343 km de extensão de linhas de transmissão e capacidade de transformação de 4.294 MVA em cinco estados.
Equação financeira
Na análise da Genial Investimentos o leilão foi marcado por forte concorrência e levou ao segundo maior desconto médio de RAP desde outubro de 2016, quando o modelo para leilões foi ajustado. A relação RAP/capex implícita foi de de 5,6%, contra 6% de um ano antes.
“De acordo com nossas estimativas, a TIR [taxa interna de retorno] média variou de 3,4% a 8,9% considerando uma economia de capex de 30 a 50% sobre os números regulatórios e entrega um ano antes do cronograma oficial”, apontou.
Na avaliação da corretora, o resultado obtido pela Neoenergia, que conseguiu o maior bloco do leilão com o menor desconto deve trazer retornos interessantes para o projeto. Já para a Cteep com o segundo maior valor de Capex, a “leitura inicial, potenciais sinergias no estado de São Paulo devem permitir que a Cteep ainda entregue retornos interessantes, apesar da forte oferta”.
A Genial apontou em relatório que as economias obtidas com a redução do valor investido e entregas antecipadas, provavelmente melhorarão os retornos gerais. “É importante lembrar que as propostas são baseadas nas suposições internas das empresas sobre como elas podem melhorar os retornos. Assim, como vimos no leilão anterior, estimar o retorno do projeto e a geração de valor usando as informações regulatórias não é a forma mais precisa de fazer isso, nos levando a publicar nossas estimativas de TIR e VPL para cada bloco considerando economias de capex que variam de 30% a 50%. Após muitas discussões com participantes do setor e participação em várias audiências públicas, esperamos que a economia real fique em torno de 30 a 40%”, apontou.