Os profissionais da Divisão de Reservatório da Itaipu atingiram, na última sexta-feira, 18 de dezembro, um marco na campanha de marcação e soltura de peixes. Em um só dia, foram soltos mil exemplares de peixes adultos da espécie pacu no corpo principal do reservatório da usina, no Rio Paraná. Foi a maior soltura de uma só vez desde que a binacional começou, em 1997, a pesquisa sobre o comportamento das espécies migratórias. O diretor de Coordenação da binacional, general Luiz Felipe Carbonell, participou da atividade.

De acordo com ele, a ação traz entendimento sobre a efetividade do Canal da Piracema e também permite um conhecimento mais adequado de toda a ictiofauna que compõe o sistema. A soltura foi feita no corpo principal do reservatório, a dois quilômetros da Barragem de Itaipu e a seis quilômetros da margem, no Portinho do Refúgio Biológico Bela Vista, de onde saíram os barcos. Foram três embarcações para levar dois tanques, com 500 peixes adultos cada, além da equipe de profissionais da Itaipu.

Segundo o engenheiro de Pesca Mauricio Adames, da Divisão de Reservatório, é a primeira vez que a soltura é feita no corpo principal, tão longe da margem. Segundo ele, um dos focos da pesquisa é marcar e soltar os peixes em locais distintos, como nas prainhas, no corpo principal ou, até mesmo, no Rio Paraná, a jusante da barragem, para avaliarmos o comportamento dos peixes soltos em cada local.

Em setembro de 2019, por exemplo, foram soltos pacus marcados no balneário de Itaipulândia. De lá para cá, foram recapturados 17% de todas as marcas, o que mostrou um padrão da movimentação dos peixes que se concentraram em áreas próximas ao local da soltura. Agora, com a pesquisa feita no corpo principal do reservatório, será possível avaliar se esse padrão de dispersão da espécie se mantém ou se é um efeito da alta pressão de pesca no local.

O acompanhamento da movimentação dos peixes é possível graças a dois marcadores, um chip eletrônico e outra marca externa. Caso o animal passe pelo Canal da Piracema de Itaipu ou no sistema de transposição de peixes de Porto Primavera (410 km acima), as antenas irão captar a presença do chip eletrônico. Além disso, se o peixe for pescado em outro local, o pescador é orientado a devolver a marcação externa, apontando onde ele foi capturado. Com esses dados, é feito o monitoramento da circulação dos peixes.

O gerente da Divisão de Reservatório, Irineu Motter, cota que o estudo está baseado na técnica de marcação e recaptura e, portanto, depende da participação ativa da comunidade de pescadores, informando o momento e o local de recaptura de exemplares marcado. Segundo ele, o objetivo é continuar a campanha de marcação e soltura durante o período da Piracema, que vai até 28 de fevereiro. Em 2020 foram soltos 1.706 exemplares de pacu em cinco campanhas nos meses de junho, outubro e dezembro. Os peixes são provenientes de pesquisas feitas pela Divisão de Reservatório e parceiros, utilizando protocolos de reprodução induzida de espécies nativas, cultivo de formas jovens em sistema bioflocos e engorda em sistema de tanques-rede. Desde 2016, já foram marcados e soltos 3.700 peixes nativos criados em cativeiro.

Os estudos da migração de peixes no Rio Paraná começaram em 1997, com o objetivo de verificar como os peixes de espécies migratórias que precisam percorrer centenas de quilômetros para completar seu ciclo reprodutivo estariam se adaptando à condição criada pela construção da barragem de Itaipu e seu reservatório. No total, foram marcados mais de 54 mil peixes com foco em 28 espécies que realizam migrações de longas distâncias.

Desde o início, o projeto contempla um trecho extenso da bacia do médio e do alto Paraná, compreendido entre as usinas hidrelétricas de Yacyretá (Paraguai-Argentina) e a de Porto Primavera (SP). O trecho de marcação de peixes é, portanto, de 1.425 km no Rio Paraná, incluindo três reservatórios (Yacyretá, Itaipu e Porto Primavera) em três países: Brasil, Paraguai e Argentina.