O envio do PLS 232 para a Câmara dos Deputados foi mais um passo no processo de modernização do setor elétrico. Entre os termos, que ainda precisam ser avaliados, está a proposta de abertura total do mercado. Nesse sentido, o ponto mais sensível é o do tratamento que será dado aos contratos legados. Essa é a avaliação da Thymos Energia.

Essa questão deve-se ao fato de que no país ainda há esses acordos de longo prazo porque o modelo de abertura que o Brasil adotou é o misto com a existência dos dois ambientes de contratação convivendo ao mesmo tempo. O sócio e diretor da consultoria, Alexandre Viana, destacou que em outros países essa questão foi mais rapidamente tratada pelo fato de que a abertura ocorreu de forma mais rápida do que por aqui.

O ponto negativo é que esses acordos são indexados e que com o passar do tempo fica cada vez mais cara a tarifa. Esse fator eleva a atratividade do ACL e, consequentemente, aumenta a perspectiva de um sistema regulado sobrecontratado. Situação que é vista atualmente por conta da queda da demanda ocasionada pela covid-19.

Mas, avalia que há pontos positivos no formato adotado localmente. Entre eles está o de que foi possível criar “a cultura da comercialização”. Ou seja, estimular o surgimento de players nesse mercado. “Em outros mercados temos não mais de cinco agentes, no máximo chegam a 20 comercializadores, aqui temos um número muito maior, alguns não atuantes, mas o Brasil e um país com uma grande diversidade de players”, destacou ele em live que a empresa realizou para apresentar seu novo produto, o Thymos Research.

Apesar disso, Viana lembra que a expansão do mercado livre continuará. Destacou que há diversos aspectos que devem ser tratados além dos legados, mas que a questão desses acordos firmados para o ACR é a ponta mais importante.

Para a Thymos não é necessário que haja a troca dos medidores dos 87 milhões de consumidores no país. A empresa destaca que há exemplos no mundo em que não foi necessária a medida. Apesar de serem favoráveis ao incremento da tecnologia, com smart metering, que favorece a introdução de novos serviços, não é um ponto que impediria o avanço ao mercado da baixa tensão.

“Se não tivermos essa reforma oficial, a mudança ocorrerá pelo mercado mesmo pela diferença de preços. Todos que podem recorrer a alternativas para sair do mercado regulado convencional o farão. Do ponto de vista social é perverso, pois aloca o custo todo para aqueles que ficam e quem fica é quem não tem condição financeira. Ou teremos sobrecontratação ou aporte do Tesouro para honrar o contrato legado”, avaliou ele.

Para Viana, o avanço passa ainda pela queda de preços de baterias e sistemas de geração distribuída. Que aumentarão ainda mais as alternativas aos consumidores finais. A estimativa apresentada por ele é de que no mundo esses dispositivos já poderão estar viabilizados economicamente em 2025 a 2026, no Brasil entre 2029 e 2030.

“Mas como as previsões relacionadas a tecnologia dão errado, acredito que antes disso o usuário final possa utilizar o armazenamento”, acrescentou ele ao avaliar as perspectivas para a indústria da geração e óleo nos próximos anos como uma forma de backup. Para ele essa fonte ficará mais restrita e a limitada a emergências.

Para o presidente da Thymos, João Carlos Mello, o modelo de transição deverá ficar com o gás natural ante o potencial que o Brasil possui com o pré-sal. Segundo ele, o preço competitivo no país está no segmento de renováveis, mas temos um dilema que é a complementação de térmicas e UHEs e seus múltiplos usos.

Viana lembrou ainda que a questão dos contratos legados tratada de forma equilibrada poderá levar a um mercado de capacidade comportado. E que o poder de mercado faz o resto em relação aos preços. Então ele concluiu que a segurança de suprimento deveria olhar o médio e o longo prazo.