O BNDES lançou durante a semana um programa que contempla diversas soluções financeiras para estimular investimentos em gás natural e biogás. Ele é composto por linhas de crédito voltadas à ampliação da infraestrutura e da oferta de gás, do uso industrial e termelétrico do produto e da utilização em veículos pesados.
O Programa BNDES Gás é bastante abrangente, mas a ideia é de que o banco não seja o único provedor de financiamento. “Nos grandes projetos, a gente deve fazer uma sindicalização para não arcarmos sozinhos com esses investimentos”, explicou Andre Pompeo, gerente do Departamento de Gás, Petróleo e Navegação do banco, durante evento na quinta-feira, 25 de fevereiro.
Segundo Pompeo, o programa não se resume às linhas de crédito, estendendo o apoio ao lançamento de debentures de infraestrutura para financiamento dos projetos.
A parte voltada para a geração termelétrica a gás natural inclui financiamento a projetos greenfield, com valor mínimo de R$ 40 milhões, participação de até 80% do BNDES no total, limitada a 100% dos itens financiáveis, e com prazo máximo de amortização de 24 anos.
O banco também divulgou o segundo relatório do Programa Gás para o Desenvolvimento, apontando que a oferta doméstica de gás natural apresenta grande potencial de crescimento a partir da exploração e produção de novos campos do pré-sal. A projeção de oferta, considerando os campos atuais e potenciais, deve atingir o pico em 2033, com 124 milhões de metros cúbicos por dia.
A industria é vista como a principal ancora de demanda firme, e tem tendo demonstrado interesse em duplicar o consumo atual de gás até 2030, disse Camila Lima, gerente da Área de Governo e Relacionamento Institucional do BNDES. O consumo previsto pelo setor industrial para o final da década é superior a 70 milhões de m³/dia.
Os investimentos necessários em nova plantas, expansões, adaptações e modernizações são estimados em R$ 35 bilhões. Da demanda mapeada da indústria, 85% vem de empresas com interesse em firmar contratos de longo prazo (maior ou igual a dez anos). O levantamento do BNDES junto à indústria mostra ainda que 79% das empresas que responderam a pesquisa do banco pretendem ser consumidores livres.
O relatório também conclui que as termelétricas poderão ter papel relevante na demanda de gás, sobretudo com aprimoramentos regulatórios. Considerando uma demanda de usinas com 80% de despacho e economicamente competitivas, é estimado um consumo entre 12,8 milhões e 17,6 mm³/dia.
O documento destaca que a ampliação da integração do setor elétrico com o mercado de gás natural passa por medidas como flexibilização de regras sobre comprovação de disponibilidade de combustível nos leilões; atualização da Tarifa de Uso do Sistema de Transmissão para contemplar o melhor sinal locacional; aumento do horizonte de contratação termelétricas, com a realização de leilões A-7; aprovação de propostas de modernização do setor elétrico que tratam da contratação de lastro e energia; fim da limitação de inflexibilidade para usinas e adoção de ferramenta integrada de otimização no planejamento de expansão dos setores de gás e energia elétrica.
“Temos 70 milhões m³ de gás em projetos já aprovados. vamos num crescendo, chegando a partir de 2030 a 120 milhões/ m³”, destacou o diretor do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás – IBP, Luiz Costamilan. Ele lembrou durante o evento do BNDES que o setor elétrico está numa corrida tecnológica, e existem alternativas mais competitivas que gerar energia térmica na base.
Costamilan acrescentou que a Empresa de Pesquisa Energética incluiu no último plano decenal um volume gigantesco de capacidade adicional de térmicas, de 12 GW, mas com nível de despacho de menos de 1%. “Esse pessoal é sério”, alertou o executivo, para quem é preciso “ter esse sentido de realidade” em relação às termelétricas inflexíveis.
O executivo também classificou como falácia a questão das térmicas locacionais. “Graças a Deus tiraram do projeto do gás. Queriam fazer uma lá em Rondônia”, disse, acrescentando que é preciso acabar com discurso da universalização do gás. “O pessoal diz que é o mesmo da universalização da energia elétrica. Não é.”
O diretor-presidente da PSR, Luiz Augusto Barroso, disse que setor elétrico hoje está em transição e a palavra-chave é flexibilidade. Ele acredita que tudo depende de preço. Se o gás vier barato, ele terá espaço. Se vier um pouco mais caro, não vai conseguir concorrer com as outras alternativas.