A privatização da CEA (AP), que deve ocorrer no fim do primeiro semestre, é considerada pelo Ministério de Minas e Energia uma das prioridades da pasta. Na audiência pública para a desestatização realizada nesta segunda-feira, 29 de março, o diretor de programas da Secretaria Executiva do Ministério de Minas e Energia, Anderson Marcio de Oliveira, enfatizou o interesse da pasta. “Faz parte da nossa carteira promover de fato essas desestatizações, o setor de distribuição é maduro e já consegue atrair investimento privado”, explica

Ainda segundo o membro do MME, quem assumir a CEA terá parâmetros fiscais a seguir, já que o endividamento da empresa, que paira os R$ 2 bilhões, é um dos motivos para a sua privatização. “É para evitar que empresas do setor se endividem muito”, avisa. Leonardo Mandelblatt, chefe da área de Estruturação de Empresas e Desinvestimento do BNDES, lembrou que o endividamento da concessionária é ao mesmo tempo causa e a consequência dos problemas que ela enfrenta. “É uma companhia que não tem capacidade de investimento, acaba prestando um serviço ruim  exatamente por ter uma dívida desse tamanho”, aponta.

A dívida da CEA supera o seu valor de avaliação. Segundo Mandelblatt, a dívida pode ficar inviável mesmo com esforço de credores e privatização, o que justifica a desestatização em junho. Elias de Souza, sócio da Deloitte, que faz parte do consórcio Nova CEA, que atuou nos estudos para o BNDES, disse na audiência que o valor operacional estimado da concessionária chega a R$ 1,2 bilhão, porém as dívidas alcançariam R$ 2,2 bilhões.

Nos últimos anos a distribuidora ampliou o prejuízo acumulado, sendo que nos últimos três anos aumentou mais de R$ 750 milhões. O investimento realizado caiu R$ 90 milhões, em contraponto ao número de habitantes do estado, que vem crescendo.

De acordo com o secretário de planejamento do estado do Amapá, Eduardo Tavares, a liquidação da CEA – que pode acontecer caso a privatização não se realize – traria um caos financeiro para o estado. Com um orçamento anual de R$ 6 bilhões, a dívida da distribuidora é maior que toda a dívida contratada do estado. “É algo impensável, justifica o esforço dos governos estaduais e federais. [A privatização] previne que o estado seja obrigado a administrar uma dívida desse tamanho todo”, frisa.