A discussão acerca da revisão da geração distribuída precisa retornar à área técnica do setor elétrico. Essa é a avaliação do diretor presidente da MC&E, José Marangon, que por mais de 20 anos foi docente em uma das mais reconhecidas escolas da engenharia elétrica do país, a Unifei de Itajubá. Segundo ele, vivemos em uma época de ruptura energética de grande proporção e é necessário que especialistas do setor atuem de forma a não deixar com que versões parciais de qualquer um dos lados prevaleça.

Marangon afirmou durante entrevista ao CanalEnergia Live desta sexta-feira, 16 de abril, que ambos os lados estão certos em suas demandas. O problema é a generalização, que no caso da geração distribuída não é saudável adotar.

Ele defendeu que a alteração das regras deva ser feita com seletividade. Isso porque o tema é complexo e tem rendido importantes polêmicas. Segundo sua análise, a geração distribuída usa apenas a rede local, ajuda a reduzir perdas, baixar o custo da geração térmica. Mas, também é devido o pagamento da rede de distribuição e transmissão a depender dos casos, horários de geração.

Ou seja, há argumentos de ambos os lados que fazem parte desse intrincado tabuleiro de xadrez que se tornou a discussão, que se arrasta desde 2018 em diversos movimentos, o mais recente, retomado com a publicação da NT 030 da Aneel em 30 de março, atendendo a uma determinação do TCU pela alternativa 5.

“Eu diria o seguinte, os dois lados estão certos. Há benefícios e custos de ambos os lados.  Por isso, não podemos generalizar, temos que sentar e analisar de forma técnica, o Brasil tem ótimos profissionais que podem conduzir essa discussão sem as emoções que temos visto”, José Marangon, da MC&E Consultoria

O consultor destacou que dentre as opções disponíveis acredita que a proposta do PL 5829 que tramita na Câmara dos Deputados contém razoabilidade para o assunto. Mas pincela que o prazo de transição de 10 anos colocado ali para o pagamento da TUSD-fio B pode ser demasiado extensão e, portanto, poderia ser negociado e reduzido.

Essa questão, no entanto, não é trivial. Isso porque depende da região onde o sistema de GD está instalado, sua potência, se usa rede de distribuição e em casos como o do norte de Minas Gerais, de transmissão. Se há vizinhos, seu elétron é utilizado localmente e reduz perdas. Já a geração remota onde não há vizinhos acaba por usar a baixa tensão e até a alta tensão.

“Então em casos como do norte de Minas deveria ser pago a transmissão”, defende. “Temos que ter coerência, olhar fio B, Fio A, capacidade de geração, olhar para uma série de pontos”, destacou ele.

Uma saída seria a cobrança em menor volume para a GD local, a GD remota pagaria mais. Mas ainda tem a questão locacional que também ganham importância. Por isso, ele afirma que o estabelecimento de gatilhos seria uma ferramenta importante para que haja uma cobrança mais ágil. Até porque em sua opinião, discutir o futuro é uma tarefa complexa, ainda mais como avanço da tecnologia. Marangon considera leviano discutir um futuro de 30 anos quando, ao se olhar para daqui a cinco anos, não se sabe como estaremos, haja vista a velocidade com que avança o setor.

“Precisamos levar o tema de forma completa às pessoas que têm que saber do que se trata o assunto. O consumidor precisa entender o assunto que é de alta complexidade. Os detalhamentos a gente deixa para os computadores que podem criar algoritmos para que todos ganhem nesse processo”, finalizou ele.

Essa foi a última entrevista da série sobre o tema. Procuramos abordar as diferentes frentes que apresentaram suas versões e argumentos acerca da revisão das regras para a geração distribuída. Tanto esse quanto os demais episódios podem ser acessados em nosso canal do You Tube – TV CanalEnergia.