Os mecanismos de financiamento dos projetos de renováveis estão se diversificando ao longo dos últimos anos. Em painel do Agenda Setorial 2021 realizado nesta quarta-feira, 28 de abril, a Managing Director da Clean Energy Latin America, Camila Ramos, ressaltou que durante muito tempo, BNDES e BNB concentraram a concessão do crédito no setor, mas que nos últimos anos as debêntures incentivadas, bancos privados e financiamentos internacionais estão ocupando bastante espaço. “Isso tende a aumentar, já está diversificando”, explica. Ainda segundo Camila Ramos, projeção da BNEF sinaliza que cerca de US$ 182 bilhões serão investidos em renováveis entre 2020 e 2050.
De acordo com ela, o BNDES mudou o papel de ser o protagonista no financiamento da infraestrutura do país, decidindo por taxas não tão competitivas como antes. Projetos de Geração Distribuída, que vem experimentando forte crescimento, ainda não podem ser enquadrados nas debêntures de infraestrutura. Mesmo assim a diretora da Cela revela que outros mecanismos estão sendo criados e detectados, como os CRIs a as debêntures tradicionais.
O vice-presidente da Associação Braseira de Energia Solar Fotovoltaica, Marcio Trannin, considera o setor atrativo, com muitos investidores locais e de fora do país querendo entrar, motivados pela estabilidade regulatória e respeito aos contratos. Porém o câmbio ainda se apresenta como um entrave. Para ele, durante muito tempo os projetos no Brasil ficaram atrelados ao BNDES, mas ele também vê uma mudança nos mecanismos, liderada por projetos destinados ao mercado livre. Para ele, é fundamental que os agentes saiam da dicotomia BNDES/BNB e procurem novas formas de crédito. “Há formas diferentes, inovadoras e interessantes de se financiar e de poder alavancar os projetos” , afirma.
A energia vinda de resíduos sólidos urbanos poderá participar de leilão de energia de setembro este ano. Os três projetos somam 130 MW de capacidade. A tecnologia Waste to Energy pode atender até 3% da demanda nacional, consideradas as grandes cidades do país. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos, Yuri Schmitke, a falta de organização no setor de saneamento na questão de contratos acabava por impedir que projetos fossem financiados. O novo marco traz ordenamentos que vão permitir receitas adicionais.
Segundo ele, a integração com o setor elétrico é importante para o RSU, já que o país tem liderança em biomassa e a descarbonização avança cada vez mais. O presidente da Abren lembrou que o potencial de investimento da fonte é de R$ 75 bilhões. Ele falou ainda do componente ambiental proporcionado pelo RSU. O país gasta R$ 5,4 bilhões no tratamento de saúde de pessoas que tiveram contato inadequado com lixo urbano.
O presidente da Associação Brasileira dos Geradores de Energia Limpa, Charles Lenzi, vê o setor passando por uma revolução similar à da inserção da eletricidade na sociedade. Segundo ele, no horizonte até 2050 a matriz brasileira continua limpa e renovável, mas que ela será composta por até 40% de fontes variáveis, o que leva a necessidade de garantia de segurança ao sistema. “Isso não é ruim, é bom, mas temos que continuar focados na confiabilidade e na segurança do sistema”, observa.