Em entrevista ao CanalEnergia Live, o presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) e diretor de Marketing e Sustentabilidade da BYD, Adalberto Maluf, disse estar pessimista em relação à política industrial do Brasil para carros elétricos.
A fala do executivo vem um dia depois de a Agência Internacional de Energia (AIE) anunciar que o mundo vive uma forte transição para mobilidade elétrica sustentável, enquanto o Brasil está estagnado. “No ano passado, nós vendemos 50% a menos de carros elétricos a bateria do que a Colômbia que tem um mercado 10 vezes menor do que o Brasil”, diz.
Maluf afirma que o Brasil está perdendo exportação para Colômbia, Chile e América do Sul como um todo porque esses países estão importando veículos elétricos de melhor tecnologia ao passo que o Brasil se fechou num parque produtivo obsoleto. “Estamos vivendo a maior desindustrialização da história. Caiu de 35% para 11% do PIB”.
Política de estado
Enquanto muitos governos locais estão engajados em promover agendas de eletrificação das frotas com políticas para fomentar o uso de veículos elétricos e metas de eletrificação para o transporte coletivo, o Brasil não debate uma política de estado voltada para elétricos. Ele destacou que o Brasil precisa de uma política industrial e de metas de eficiência energética.
Ele lembrou que o presidente americano, Joe Biden, anunciou um pacote de US$ 2 trilhões, sendo US$ 620 bilhões para planejar a infraestrutura de carros elétricos. Já o Brasil segue pela contramão. Um carro flex 1.0 a combustão paga 7% de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), mas a maioria dos veículos elétricos ou híbridos pagam entre 8 e 18%.
“O planejamento da mobilidade do Brasil é do século passado e não tem nada a ver com o que o mundo está planejando hoje”.
Política para pesados
Maluf defende uma política para veículos pesados, já que boa parte ainda é movida a diesel. O executivo diz que o Brasil perdeu a liderança em vários mercados na exportação de ônibus, mas nos últimos anos vem perdendo competitividade.
“Argentina e Uruguai nunca tinham importado um ônibus que não fosse do Brasil, mas nos últimos dois anos eles importaram ônibus elétricos chineses”.
Segundo ele, o Rota 2030 criou um modelo em que as metas só entrarão em vigor a partir de 2027 até 2030 e isso impõe um risco à sobrevivência do parque produtivo brasileiro na medida com que todos esses grandes países do mundo já colocaram metas de eficiência energética e prazos finais para venda de veículos pesados, como caminhões de ônibus de baixa emissão.
“A Agência Internacional de Energia (AIE) prevê que em 2050 o mundo inteiro vai estar entre 65% e 85% de veículos elétricos, enquanto a Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) diz que o Brasil vai ter entre 10% e 15%. Estamos num descompasso”, diz.