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Depois que o governo anunciou a criação da Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (Creg) com poderes de ações emergenciais em resposta à pior crise hídrica da história, diversas entidades que representam os geradores de energia aprovaram a medida e já se mobilizam para dar suporte no momento mais crítico.
O presidente da Associação Brasileira de Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape), Mário Menel, avalia que as medidas tomadas pelo governo são corretas, mas o Brasil está numa espécie de voo cego em que não é possível ter previsões assertivas se o país dará conta da demanda de carga.
“Temos recursos energéticos no sistema pelo menos no papel. Porém muito desses recursos acabam não estando disponíveis. Você tem garantia física de usinas que não estão performando essa garantia, térmicas que estão sendo chamadas a despachar e não estão disponíveis, tem restrições ambientais para uso múltiplo da água”, diz Menel.
Tal situação teve impacto direto sobre a bandeira tarifária e já ameaça até a retomada do crescimento. O diretor-presidente da Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas (Abraget), Xisto Vieira Filho, avalia que as térmicas estarão mais presentes na matriz e operando na base. “As térmicas num sistema predominantemente hidrelétrico elas não operam na base, operam com cerca de 50% do tempo e só as gerações de custo variável mais baixo”.
Na Associação Brasileira de Geradores de Energia Limpa (Abragel), o presidente executivo Charles Lenzi elogiou as medidas que o ministério adotou. De acordo com ele, a criação da Creg mostra que o governo está organizado para o enfrentamento da crise. “A iniciativa é importante, porque escala em termos de importância um grupo dentro do governo que vai focar em um assunto extremamente relevante para o país”, afirma. Entretanto, Lenzi chama a atenção para o alto número de emendas que a MP que trata do assunto recebeu dos parlamentares, o que vai demandar avaliações e desdobramentos. Segundo ele, é preciso aguardar as ações que serão propostas pela Creg.
Sugestões e propostas
O governo espera um compromisso voluntário dos grandes consumidores industriais de energia elétrica, a partir de um programa de racionalização que reduza as pressões pelo lado da demanda no momento mais crítico da crise hídrica e alguns setores até já demonstraram interesse na adesão, todavia a proposta precisa de simplificação.
O Ministério de Minas e Energia (MME) vem recebendo uma série de sugestões de enfrentamento da crise. O Fórum das Associações do Setor Elétrico (Fase), que é presidido por Mário Menel, enviou algumas propostas e sugestões ao Ministério de Minas e Energia (MME) a fim de adaptar as regras à necessidade atual. “Fizemos uma proposta inicial com diretrizes, porque o programa que está instalado é muito complexo e tem que ter algumas simplificações”, diz. Ele acrescenta que é preciso haver uma premiação adequada a esse momento de crise e que essa resposta pelo lado da demanda viria com o melhor entendimento dos interessados.
Da mesma maneira, a Absolar também apresentou ao MME propostas para aliviar crise hídrica. Entre as demandas está a redução na burocracia para projetos fotovoltaicos em residências e empresas e aumento de contratação da fonte nos leilões de energia do Governo Federal
O que os agentes aguardam é que o ministro Bento Albuquerque convoque todos os envolvidos do setor para discutir a crise hídrica e colher mais sugestões. Na Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), também houve aprovação para a MP, todavia o presidente do Conselho da associação, Guilherme Chrispim, aguarda mais definições sobre a autonomia da Creg.
Para ele, deve-se questionar por que a situação hídrica chegou a esse ponto, uma vez que sinais vinham sendo emitidos ao longo do tempo. “Talvez estejamos olhando para essa problemática um pouco atrasados”, avisa.
Caso os prazos estabelecidos nas regras atuais estivessem sendo cumpridos pelas distribuidoras, a contribuição da GD poderia ser ainda maior para o sistema nesse momento de crise. Segundo Chrispim, muitos projetos de GD entre 1 MW e 2 MW estão parados há meses por conta da demora na ação das distribuidoras. “Projetos estão parados por questões burocráticas”, alerta.
Energia nova
Na análise de Xisto Vieira, da Abraget, essa é uma situação que poderia ter sido melhor equacionada no passado, já que crises, como a que estamos vivendo, vêm se repetindo no contexto brasileiro, como em 2001, 2008, 2014 e agora. Na avaliação do executivo, isso exigirá a necessidade de um montante maior de geração térmica para o futuro. “Mas isso foi reconhecido pelo governo através da MP da Eletrobras quanto ao estabelecimento do leilão de capacidade”, diz ao se referir aos 8 GW de térmicas a gás da MP que deverão substituir usinas mais caras.
Xisto lembra que a geração térmica hoje está cerca de ¼ do reservatório de maior porte do Sudeste, o equivalente a um armazenamento de 53 GW/mês e por isso o consumidor vai ter que conviver com uma tarifa um pouco maior. “Se tivéssemos para operar em base uma porção de térmicas de Custo Variável Unitário (CVU) baixo, como as que estão sendo preconizadas, nós teríamos um custo menor”, diz.
O alento é que no período seco que se inicia também a safra dos ventos e a geração eólica pode dar um sopro de esperança. Nas crises passadas, como em 2012, por exemplo, as eólicas já estavam presentes na realidade brasileira, mas o gargalo era nas linhas de transmissão e elas puderam contribuir pouco.
A presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum, diz que no atual contexto a possibilidade de racionamento é baixa porque a matriz está mais diversificada e grande parte dessa diversificação está associada a eólicas, que respondem por 10% da energia gerada.
“No segundo semestre, principalmente setembro e outubro, essa quantidade de geração aumenta e nós vamos chegar a atender 20% do Sistema Interligado Nacional (SIN)”, calcula. Gannoum acrescenta que hoje a fonte não tem mais problema com transmissão, já que todos os parques eólicos disponíveis têm linha e podem ajudar mais o sistema.
“Quando os técnicos sentam para conversar sobre a capacidade de atender o sistema, são três requisitos principais: chamar todas as térmicas para gerar, rezar para todas as eólicas gerarem bem e fazer a gestão do reservatório”, diz. Como São Pedro não tem colaborado com os reservatórios, as preces da executiva estão indo bem e ela espera que esse ano o Brasil saia dessa crise.
Uma outra fonte que poderia entrar no jogo e pender a balança para o lado da recuperação do sistema é a geração a partir de biomassa. Um levantamento feito pela Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen) e a União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica) mostrou que as usinas de cogeração a biomassa têm capacidade de gerar uma produção adicional de energia a curto prazo de 1,8 mil GWh ainda esse ano além dos contratos vigentes nos mercados regulado e livre.
Os dados apontam que essa energia adicional poderia vir de pelo menos 100 empreendimentos. “Só em 2022, poderíamos gerar o equivalente a uma hidrelétrica de 800 MW em capacidade instalada”, diz o presidente executivo da Cogen, Newton Duarte.
2022
Para o ano que vem é preciso trabalhar para que os reservatórios não cheguem tão deplecionados em novembro, quando entra o período chuvoso. Soma-se que as estimativas positivas de crescimento do PIB colocam o Brasil de frente para um cenário de possível aumento da demanda energética.
“Temos que nos preocupar com o ano que vem também porque se o verão não vier forte e a gente entrar com os níveis de reservatórios como a gente está prevendo que vão deteriorar até novembro, a gente terá muita dificuldade em 2022. Aí, sim, teremos um problema grande, porque vai pegar a indústria em pleno desenvolvimento e sem energia”, diz Mario Menel.