O presidente do Conselho de Administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, Rui Altieri Silva, defende que a série histórica deveria ser revisada. Ao invés de 91 anos poderia ter uma série com um período de menor amplitude mas que trouxesse mais confiança nas medições. Apesar disso, ele reforça que o período que vivemos nos últimos sete anos tem sido de escassez hídrica, mas não atribui esses efeito às mudanças climáticas, justamente por falta de referências do passado.
“Temos sete anos de hidrologia desfavorável, esse ano é o pior deles sem dúvida. Mas nem mesmo o Cemaden pode afirmar que deve-se às mudanças climáticas, é difícil demais dizer”, comentou o executivo em sua participação no CanalEnergia Entrevista, realizado na sexta-feira, 2 de julho.
Rui destacou que a série iniciada na década de 1940 não é confiável pela falta de recursos e da forma que eram analisadas as vazões dos rios e pela quantidade de bacias monitoradas. E descartou a possibilidade de um apagão ou racionamento de energia neste ano. Ele concorda que a operação deverá receber atenção redobrada, mas que as medidas mais extremas não serão necessárias e que o abastecimento será atendido.
Entre os motivos para essa avaliação está a robustez do setor elétrico que nas últimas duas décadas passou por uma grande expansão. Isso permite a transferência de blocos de energia para todo o país um fator que não era possível naquela período. E exemplificou que no Norte o racionamento demorou 5 meses para chegar porque a região se aproveitou da hidrologia de Tucuruí que sobrava por lá.
Além disso, ele ressaltou os investimentos em novas capacidades de geração que chegam a 10 GW de energia nova em 2021 considerando o mercado livre e o regulado. Um volume que aumenta bem mais que a demanda.
Agora, um efeito do qual o país não poderá fugir é do GSF que será muito baixo por conta da hidrologia reduzida. A CCEE estima para este ano um fator de ajuste do MRE na casa de 75%. Esse dado é revisão constantemente, comentou ele, mas disse que não deve sair desse patamar em função do cenário de geração térmica que está no máximo para reduzir o uso das UHEs.
O executivo destacou que não teme uma judicialização do setor, até porque, lembrou que esse é o risco do negócio do gerador hidrelétrico. “O produtor independente de energia opera por conta e risco, isso é inerente à sua atividade, as questões externas que não estão sob sua gestão não pode ser imputado”, disse. “Mas o risco hidrológico é do gerador e não pode ser transferido ao consumidor”, acrescentou.
“O risco hidrológico é do gerador e não pode ser transferido ao consumidor”, Rui Altieri Silva, da CCEE
Falando de GSF, o presidente do Conselho da CCEE lembrou que 70% do passivo que estava em aberto para a liquidação financeira do mercado de curto prazo já foi adiantado pelos agentes. E isso ainda sem um acordo homologado oficialmente pela Aneel. A operação que ocorre nesta semana era apontada como a que marcaria o final das disputas que duram cerca de 5 anos. Contudo, ainda há a necessidade de que a agência reguladora dê seu aval em reunião da diretoria.
“Não fecharemos ainda por falta de homologação por recursos de agentes colocados. Mas é questão de calendário, por isso não estou preocupado mais, a antecipação demonstra que teremos a adesão à medida, o valor restante será muito baixo para o parcelamento”, avaliou. “Só não é pagina virada por falta da homologação ainda”, acrescentou.
Os recursos em aberto não deverão mudar, disse ele. Isso porque os recursos colocados junto à Aneel tratam de prazo de extensão de outorga de usinas que, inclusive, já repactuaram valores.
Altieri Silva abordou na entrevista diversos pontos de atuação da CCEE para o ano de 2021, inclusive os cinco temas que a chamada “Casa da Energia” trouxe para o período. A maioria destes já encaminhados. Um deles é a questão do leilão de capacidade. O segundo tema é a segurança de mercado, cujas consultas públicas referentes às Notas Técnicas deverão ser abertas em breve. O terceiro tema aprimoramento do PLD está no final das discussões. O quarto é a abertura de mercado, e ele estima que a CCEE deverá entregar o estudo com proposta antes do prazo final que é de 31 de janeiro de 2022. O quinto é a modernização do ambiente de contratação regulada. A proposta será apresentada em breve.
“Hoje são 27 mecanismos de compensação de sobras e déficits e MVE aliviando a sobrecontratração das distribuidoras, então há espaço para se trabalhar”, sugeriu.
Já sobre o excesso de contratos ele comentou que mesmo com o aumento do consumo as concessionárias permanecem com mais compromissos do que seu mercado até 2025. “Comparando com 2019 o mercado como um todo cresceu 7,6% ante 2020. Mas ante 2019, um ano normal, cresceu 1,6%. O ACR ante 2020 apresentou crescimento de 2,6% e quando comparado a 2019 reduziu 4%. Então até 2025 não mudará muito a situação da sobrecontratação”, apontou.
Falamos ainda de comercializador varejista e a expansão dos pedidos de habilitação, sobre o papel da CCEE no âmbito da crise hídrica, a aplicação do preço horário no primeiro semestre de 2021 no âmbito da câmara, a revisão de garantia física de usinas hidrelétricas, entre outros temas.
A entrevista completa com o presidente do Conselho de Administração da CCEE, Rui Altieri Silva, está disponível para todos os internautas. Para acessar e ver na íntegra clique aqui e acesse nosso canal no You Tube, TV CanalEnergia. Aproveite inscreva-se e ative as notificações para ser avisado de todas as atualizações.