Com o baixo volume de chuvas comprometendo a geração hidroelétrica do país e aumentando o custo de operação do sistema com o acionamento de mais termelétricas, a Aneel projeta um reajuste tarifário de 9% para esse ano após as oito medidas técnicas tomadas, indicando também um cenário preliminar de 16,68% em incremento no valor das tarifas para o ano que vem.

A perspectiva foi apresentada pelo Superintendente de Gestão Tarifária da Aneel, Davi Antunes Lima, durante um debate na Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados na última segunda-feira, 16 de agosto, que avaliou ainda que novas ações projetadas pela Aneel, como a antecipação de recursos decorrentes da privatização da Eletrobras, consigam reunir R$ 8,5 bilhões e reduzir ainda mais o reajuste.

“Com essas medidas adicionais em vez dos 16,68% previstos podemos ter reajuste de 10,73%, mas estamos ainda estudando alternativas”, comentou.

O superintendente explicou que os fatores que mais pressionam o preço da energia produzida no Brasil nesse momento: o dólar, que influencia no valor da energia de Itaipu; a variação do IGP-M, índice que regula contratos de 17 distribuidoras; e o agravamento do pior cenário hidrológico desde o início da série histórica do ONS, de 1931.

Davi Lima, da Aneel, tem estudado medidas para diminuir repasses ao consumidor (Agência Câmara)

Entre os debatedores ouvidos ontem um tom uníssono é de que os sucessivos aumentos na conta de luz dos brasileiros não decorrem da falta de chuvas, mas de má gestão dos reservatórios das hidrelétricas, além de considerarem que a atual política energética privilegia a distribuição de lucros para empresários e acionistas do setor elétrico, mesmo em tempos de pandemia.

Para o ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, o Operador deveria ter acionado as termelétricas mais cedo, a fim de reduzir os impactos da falta de chuva nos reservatórios.

“O ONS aumentou sistematicamente a geração hidráulica mesmo as chuvas não chegando e reduziu de maneira irresponsável a geração térmica, provocando artificialmente um esvaziamento dos reservatórios”, observou.

Representando os trabalhadores do setor elétrico, Gustavo Teixeira, do Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), destacou uma política que privilegia ganhos de empresários e acionistas do setor.

“Ao mesmo tempo em que o consumidor brasileiro paga uma das tarifas mais caras do mundo, o setor elétrico é um dos que mais paga dividendos”, declarou, afirmando que de 2011 a 2020 foram pagos mais de R$ 112 bilhões em dividendos a acionistas, sendo R$ 14 bilhões no ano inicial da pandemia.

Com informações da Agência Câmara