A crise hídrica não era esperada ou não tinha como ser prevista? Foi com essa provocação e afirmando que o risco de apagão nesse ano e em 2022 é “imenso” que o diretor executivo do Instituto Escolhas, Sergio Leitão, iniciou sua apresentação no segundo Warm Up do Enase 2021, na manhã desta quarta-feira, 15 de setembro.

Sem negar que o país já vive um racionamento de energia, Leitão demonstrou preocupação com a lentidão do governo em agir e lançar as medidas de conscientização e contenção do consumo nos diferentes segmentos da economia, numa crise que já se avizinha desde 2012 com a diminuição dos níveis dos reservatórios e com o ápice acontecendo em 2014.

“Já tínhamos uma crise instalada e em dezembro de 2020 o governo deveria ter tido a providência que só fez  agora, de emitir um decreto avisando sobre a emergência hídrica”, pontua o executivo.

Segundo Leitão, o setor precisa aprender a não ter uma rotina de tensões vide os três casos nos últimos 21 anos, entendendo o que aconteceu para sair de uma gestão de crise e passar para uma gestão de risco, avaliando permanentemente a operação e o planejamento do setor elétrico brasileiro.

“Estamos fazendo a mesma coisa que fazemos na crise de 2001, não inovando nada na forma de lidar com essa situação e deixando de atender a questões fundamentais”, avalia, lembrando por exemplo de toda parte de manutenção das térmicas, que foi adiada.

Quanto a gestão de águas no país, ele afirma sua inexistência por não ser possível saber o quanto tem realmente de recurso hídrico nos reservatórios. “A garantia física hoje é uma miragem dada pelo que tem no espelho d’água”, refere.

Outra crítica recai sob a exclusão das agências reguladoras, ANA e Aneel, na composição da Creg (Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética), órgãos criados justamente para serem independentes e fundamentais na defesa do melhor funcionamento de ambos os setores. “Como fazer um comitê sobre crise hídrica sem a ANA?”, questiona.

O diretor do Instituto Escolhas também destacou as Mudanças Climáticas e ações do homem como principal causa para um volume menor de chuvas nos reservatórios, apontando para a necessidade da revisão da série histórica das vazões do ONS em razão dessas alterações e uma leitura que não é mais condizente com os desafios atuais.

“Os ciclos de seca de dez em dez anos encurtaram para sete, o que exige uma requalificação inclusive do sistema operacional que faz os alertas da rede”, atenta o executivo, afirmando ser preciso criar modelos que permitem antecipar o que virá e pedindo a inclusão do tema Mudanças Climáticas na grade curricular dos futuros engenheiros elétricos.