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Realizado na manhã desta quinta-feira, 30 de setembro, o Leilão A-5 terminou com 151 MW médios negociados ao preço médio de R$ 238,37/MWh e deságio de 17,48%. Entre os destaques a biomassa foi a fonte mais contratada, totalizando 301,2 MW de capacidade e vendendo 53,1 MW médios entre seis usinas de bagaço de cana de açúcar e uma a cavaco de madeira. O preço ficou em R$ 271,26 MWh e o desconto em 25,68%.
O resultado representou 35,2% do volume negociado e surpreendeu o presidente da Cogen, Newton Duarte, que salientou a competitividade da fonte com valores inferiores às médias observadas nos leilões anteriores a partir da resiliência, potência e previsibilidade dos projetos justamente no período de seca para o setor elétrico, apesar da questão da entressafra em outros meses.
“Uma energia distribuída perto de cargas de pequenas cidades no Centro-Sul e poupando reservatórios, tudo que o setor quer no momento”, afirma Duarte, que tem visto leilões cada vez menores mesmo com o aumento da demanda no país.
Fonte: Cogen
Para ele as distribuidoras estão reticentes em comprar energia, pois estão vendo o mercado livre em ascensão. Logo, o receio da sobrecontratação faz as empresas serem extremamente cautelosas na definição de suas necessidades energéticas. “O volume de 150 MW é, em tese, um suspiro de uma indústria siderúrgica, então realmente o leilão foi pífio, mas fico feliz que tenham entrado essas sete usinas”, conclui.
As atenções da entidade agora ficam voltadas para o leilão de potência no final do ano, destinado ao atendimento a partir de 2026. “Esperamos poder contar com a participação também dos empreendimentos existentes, os quais deverão ter seus contratos com vencimentos até 2025 e poderão contribuir quando o atendimento à potência se torna mais crítico, especialmente durante os dias mais quentes”, finaliza o presidente executivo da Cogen.
Primeira WTE do Brasil
O certame de hoje também foi marcado pela estreia da contratação de energia a partir de resíduos sólidos urbanos (RSU), com a efetivação da primeira usina desse tipo no país. O projeto foi vencido pela Orizon Valorização de Resíduos e será implantado em Barueri (SP), pela controlada URE-BA, com a construção da primeira Unidade de Recuperação Energética da América Latina, no modelo Waste to Energy – WTE.
O certame permitirá a empresa fechar um contrato de venda pelo prazo de 20 anos no valor atual de R$ 1,2 bilhão, que garantirá a principal receita do projeto de R$ 500 milhões, dando sustentabilidade econômica ao investimento. Segundo a companhia, o ativo terá 20 MW e geração de 140,1 GWh ao ano, equivalente ao consumo de 320 mil pessoas e utilizando 300 mil toneladas lixo por ano.
Para o CEO da Orizon, Milton Pilão, a agenda do governo pode ampliar em até 5% a utilização da fonte, que hoje não chega a 0,5% e que representa uma contribuição importante no cenário de crise, já que se encontra próxima aos grandes centros urbanos. “Será a primeira unidade do país a cumprir as premissas da nossa Política Nacional de Resíduos Sólidos, complementando todo um processo de reciclagem”, afirma.
A Orizon foi a única vencedora entre os dozes projetos WTE cadastrados na disputa e que totalizavam 315 MW, sendo que nesta licitação a empresa URE Barueri vendeu 12 MW, ou seja, 75% de sua capacidade total ofertada. O custo marginal de referência foi de R$ 639,00/MWh e a URE Barueri fechou o valor em R$ 549,35 MWh. O fornecimento iniciará em 1º de janeiro de 2026.
O presidente da Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren), Yuri Schmitke, comemorou a entrada do empreendimento, mas ficou desapontado com a não efetivação de outros dois, uma usina de 80 MW do Grupo Lara em Mauá (SP) e outra de 30 MW da Ciclus em Seropédica (RJ).
“O problema é que no Brasil se contrata por preço e não por sistemas de capacidade. Hoje não vai faltar energia mas carga, o que pode causar apagões”, comentou Yuri, que lembra de um projeto de lei que responsabilizava as distribuidoras por essa questão e que foi arquivado em 2018 pela Aneel.
Para o executivo a iniciação de um mercado não pode acontecer sem a contratação de pelo menos três projetos e 130 MW, visando criar um ambiente de preços melhores no futuro. Ele também destacou o alto fator de capacidade das WTEs no centro das cidades, entre outros atributos que devem ser considerados num próximo certame.
“Nossa questão não é demanda de energia mas sim de saneamento, uma solução importante para a sociedade e que o setor elétrico preciso entender. É preciso olhar para saúde pública e quantas pessoas podem deixar de morrer por conta dos lixões e aterros sanitários, além da redução dos gases do efeito estufa”, avalia.
Os esforços da Associação inclusive estão direcionados a convencer o Ministério de Minas e Energia a realizar um leilão dedicado ao RSU. A questão também está sendo buscada via projeto de lei, desvinculando a tecnologia do planejamento de expansão do setor elétrico e passando para a visão de um mercado sustentável, com preço justo e que ajuda a sociedade.
Eólica e solar com poucos projetos
Outro ponto do leilão A-5 foi a menor participação de projetos eólicos, cerca de 18,4%, ainda que a fonte siga apresentando menores custos, destacou em nota a Associação Brasileira de Energia Eólica. “Vendemos menos do que costumamos vender em leilões regulados, mas já esperávamos que seria um leilão pequeno. Considerando o cenário de uma demanda baixa aguardada, avalio que tivemos um bom resultado”, escreveu Elbia Gannoum, presidente da entidade.
Foram 11 novos projetos comercializados, somando 161,3 MW de potência entre os estados da Bahia, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Os investimentos são de aproximadamente R$ 633 milhões, em contratos de 15 anos e entregas previstas para 2026.
Com um deságio de 12,63% em relação ao preço inicial de R$ 191,00/MWh, a fonte solar atingiu um preço médio de venda de energia elétrica de R$ 166,89/MWh (equivalente a US$ 30,90/MWh). Em média 47% da energia elétrica das usinas serão destinadas aos consumidores cativos das distribuidoras no ambiente de contratação regulada (ACR). O restante da energia será comercializado no ambiente de contratação livre (ACL).
Já na avaliação da Associação Brasileira da Energia Solar Fotovoltaica, apesar da presença, o volume arrematado de fontes mais caras, citando diretamente a biomassa, ainda foi maior no certame. Essa condição, aponta, traz um sinal de alerta para o Governo Federal e para os consumidores.
Em nota o presidente executivo da entidade, Rodrigo Sauaia, afirma que os resultados do certame reforçam a competitividade da fonte solar fotovoltaica, bem como sinalizam um norte de planejamento com este aumento da participação nos montantes negociados pela fonte. Porém o volume contratado foi considerado baixo.
“O setor solar ofertou mais de 800 projetos, porém o volume muito pequeno contratado da fonte frente a essa oferta desapontou o mercado e os investidores. Perde-se a oportunidade de dar um final claro à sociedade de expansão das renováveis no País, especialmente da solar fotovoltaica, uma das mais competitivas do País”, criticou ele.
A entidade reforçou seu posicionamento ao lembrar que a potência instalada das grandes usinas solares fotovoltaicas conectadas ao SIN acaba de ultrapassar a soma das usinas termelétricas fósseis à carvão mineral que somam 3,6 GW. De acordo com mapeamento da Absolar, são 3,8 GW de potência instalada da fonte solar.
E ainda, aponta que desde 2012, as grandes usinas solares já trouxeram ao Brasil mais de R$ 20,5 bilhões em novos investimentos e mais de 114 mil empregos acumulados, além de proporcionarem uma arrecadação de R$ 6,3 bilhões aos cofres públicos.
(Nota da Redação: reportagem atualizada em 30 de setembro de 2021 às 18h para inclusão de informações complementares da Cogen)