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O mercado global já escolheu, o gás natural é o combustível da transição energética. A afirmação já é conhecida do setor elétrico e parece ser óbvia, mas isso até “página 2”. A questão aparenta ser mais complexa quando se busca contratar térmicas para operação na base como forma de suportar as renováveis no Brasil. Essa é a opinião dos especialistas que participaram do primeiro painel desta sexta-feira, 15 de outubro, último dia da 18ª edição do Enase, o principal evento político regulatório do país, realizado pelo Grupo CanalEnergia, by Informa Markets e copromovido por 22 associações do setor.
Segundo os especialistas, a transição energética que o gás pode viabilizar traz um problema quando a contratação é feita por meio da imposição de uma lei como ocorre com a determinação do leilão de capacidade. Segundo o CEO da Gás Energy, Rivaldo Moreira Neto, o caminho deveria ser da diversificação de fontes e sua capacidade para que a transição aconteça e os custos não saiam do controle.
“Da forma que estamos o caminho escolhido aponta para o aumento da tarifa, a conta de energia fica mais cara”, afirmou ele em sua participação no Enase.
O executivo disse que colocar uma Medida Provisória ou lei para forçar uma transição energética acabam somente forçando uma tarifa adicional ao consumidor final. Ele afirmou que para que a matriz elétrica seja diversificada e alcance a descarbonização é necessário um custo que a sociedade possa pagar. Sendo assim, é necessário abrir os mecanismos de contratação e novas possibilidades de planejamento.
Essa avaliação é compartilhada pelo presidente da Tradener, Walfrido Ávila. Segundo ele, a competição é que traz o preço mais baixo. Em sua análise, qualquer outro produto que se enquadre na liberdade de mercado será mais competitivo. “Limitar contratação no ACR vai apenas aumentar a tarifa”, comentou.
Ávila, que esteve presente no painel dedicado a discutir o papel do gás natural na transição energética, destacou ainda que o sistema brasileiro ainda é hidrotérmico, apesar das novas fontes que estão aumentando sua participação no país, como a eólica e a solar. E defendeu ainda que as térmicas deveriam operar na base para que o país possa replecionar os reservatórios das hidrelétricas, evitando assim o que chamou de solavancos no PLD como os que têm ocorrido atualmente.
“Hoje o mercado livre está pagando um adicional de R$ 75 por MWh na energia em outubro, são coisas como essa que deveríamos evitar com planejamento pro meio do desenvolvimento no mercado de gás”, apontou o executivo fundador da Tradener.
Neto acrescentou ainda que o ideal seria o de aumentar o preço médio para evitar picos de preços de energia. “A transição a mão de ferro não acontecerá por conta dos custos”, avaliou.
Um dos destaques que mostram que o Brasil ainda precisa rever a questão do gás é que a escolha econômica para o insumo tem se dado pela reinjeção nos poços de petróleo. Esse é o ponto ressaltado pelo sócio líder da Alvarez & Marsal, Marcos Ganut. Ele lembrou que essa ação representa uma grande perda de oportunidade para melhor utilizar o combustível que é o escolhido para a transição de uma matriz com emissões para uma com menor nível gases de efeito estufa. E em sua análise o Brasil está em uma das posições mais privilegiadas em todo o mundo.
“Estamos entre os mais bem posicionados, temos o gás do pré-sal com eólica e solar, bem como as demais fontes ainda inexploradas como a eólica offshore que pode estar viável daqui a uma década. O problema está em não olhar pelo lado da competição entre as fontes e sim focar como uma medida de segurança”, acrescentou.
Bernardo Sicsú, diretor de Energia e Gás Natural da Abraceel, foi o moderador do painel e em sua avaliação, a questão do modelo regulatório deve ser sim revista para que as ações relacionadas à transição energética tenha espaço. Entre elas a abertura do mercado. Lembrou que esses projetos estão há muito tempo no Congresso Nacional apesar dos recentes avanços.
Ainda no painel, o presidente Abiogás, Alessandro Gardeman, lembrou por sua vez que o próprio biogás é uma oportunidade para o setor, uma vez que a falta de política leva ao desperdício de cerca de 100 milhões de metros cúbicos ao dia desse insumo. Esse é o volume estimado do potencial diário no país, o chamado ‘pré-sal caipira’, por conta de sua origem nas fazendas do interior do país. “É como se tivéssemos um poço vazando diariamente”, comparou.
Da mesma forma que a imposição na contratação de capacidade por meio de térmicas a gás para a transição estão as regras colocadas para usinas dessa natureza na lei que permitiu a privatização da Eletrobras. Neto, da Gás Energy, destaca que o mercado não aconteceu por falta de transporte, que é o básico no país. Ele lembrou que o número de gasodutos no país é limitado e mesmo assim está ociosa a capacidade de transporte.