A PSR deve lançar em breve estudo em parceria com o BBCE mostrando que com o mesmo grau de exposição é possível operar um volume de recursos no mercado de derivativos três vezes maior que no mercado físico. O trabalho trata da questão do limite de crédito nos dois ambientes.
Isso acontece porque a exposição principal, em caso de calote, está no físico. Se é o vendedor que toma o default do comprador, ele perde todo o volume de energia entregue e deixa de receber o pagamento. Se é o comprador que não recebe a energia pela qual já pagou, ele perde não apenas o dinheiro, mas ainda tem que correr atrás de outro contrato, para não tomar penalidade por ausência de lastro na CCEE, explica Edmundo Grune, sócio da consultoria. Há ainda a possibilidade de que esse agente nem consiga comprar energia para recompor o contrato, o que torna a situação ainda pior.
No contrato financeiro, o risco de perda é menor, porque as partes só estão expostas ao resultado daquela operação, arcando com o que seria a diferença entre o preço de liquidação e o preço pelo qual o agente entrou no contrato.
A questão dos derivativos de energia foi tema de workshop da BBCE, no terceiro dia do Encontro Nacional de Agentes do Setor Elétrico. O presidente da instituição, Carlos Ratto, destacou durante o debate que estudo recente da BBCE já tinha mostrado que o custo de operação de derivativos é 23% mais barato que a operação física de venda de energia.
Rodrigo Violaro, sócio fundador da Stima Energia, disse, por sua vez, que o mercado físico é muito mais adequado para consumidor e gerador que para comercializador. “A gente vê como vantagem nesse mercado [de derivativos] a questão de não ter entrega física propriamente dita. Simplifica muito o operacional das comercializadoras não ter que ficar se zerando em lastro no final do mês, comprando a ágio ou tendo que vender a PLD menos no mercado.”
Do ponto de vista de prêmio, por não precisar de comprovação de lastro, há uma menor exposição a credito no sentido de que não existe risco de quebra de contrato, acrescentou o executivo durante o evento. Outro beneficio é que a liquidação financeira já vem com o encontro de contas pronto, e o volume movimentado entre as partes é menor.
Segundo Violaro, o produto financeiro está cada vez mais migrando para um requerimento de credito maior, e por conta de “abaixar a régua” para migração de consumidores para o ambiente livre, a questão de crédito do varejista vai se tornar muito proeminente e os agentes precisarão de mais recursos para operar.
“A gente vê a função do mercado como natural, você precisando de mais crédito para entrar nesse mercado para se estruturar, e para poder fazer frente, inclusive, a chamadas de margem, numa eventual existência de clearing.”
Sérgio Romani, sócio do Grupo Genial, apontou que o maior gargalo da expansão do mercado vai ser a questão do crédito, principalmente com a entrada do segmento varejista. “Vejo o derivativo como um solução superparcial da parte do crédito” disse Romani.
Ele acredita que esse mecanismo já está pronto e destacou o ganho de custos. “E o maior ganho para mim é o custo que você não consegue medir, que é do crédito.”
Grune, da PSR, lembrou que o mercado avançou de forma mais ou menos gradual, dependendo do país. Em 2020, o volume negociado em derivativos de eletricidade na European Energy Exchange, a maior bolsa de negociação de energia da Europa, foi de 7,6 vezes o volume negociado no mercado físico.
Na Alemanha, o volume negociado foi de 8,5 vezes a demanda interna. No Brasil, essa transição pode andar um pouco mais rápido com o aprendizado da experiência de outros países e pela própria expertise do mercado financeiro nacional.