O discurso de diversas nações em todo o mundo foi semelhante na Cúpula do Clima, realizada no primeiro semestre e capitaneada pelos Estados Unidos. Países, entre eles o Brasil, afirmaram que têm a meta de ser carbono neutro até 2050. Mas, a realização desse desafio só será possível caso haja a introdução de um mecanismo de precificação de carbono. Por isso, este é um dos principais pontos a serem discutidos na COP-26, em Glasgow. O setor de geração do Brasil acompanha com atenção, até porque pode ser um dos grandes impulsionadores desse caminho.
Segundo a presidente executiva da Associação Brasileira da Energia Eólica, Élbia Gannoum, sem esse instrumento financeiro dificilmente a meta será alcançada. “Não chegaremos ao Net Zero sem mecanismos como o crédito de carbono, o artigo 6° está em discussão na COP-26, a precificação é a única saída para que esse mercado funcione de maneira adequada. Essa é atualmente a forma mais eficiente para que os agentes econômicos ajam da maneira necessária”, declarou a executiva durante a soft opening do Brazil Windpower, evento realizado pelo CanalEnergia, by Informa Markets, ABEEólica e GWEC, nesta sexta-feira, 29 de outubro.
Élbia está na capital da Escócia para participar das discussões. Lembrou que a indústria eólica lançou recentemente um manifesto para o evento global onde aponta a necessidade de que o investimento em geração limpa por meio da força dos ventos precisa quadruplicar quando comparado aos 93 GW de 2020 para que a meta possa ser alcançada.
Um desafio apontado pela presidente da ABEEólica é a governança global associada a questão política e de governos. Para ela, é necessário muita vontade política para que a transição energética seja colocada em marcha e o Net Zero seja um objetivo alcançado.
A questão de recursos e investidores interessados não é o problema. Cita que há abundância de capital que não está restrito, pensando em Brasil, apenas ao BNDES, BNB ou outras instituições públicas. Ela destaca a participação de fundos de investimento globais que têm na agenda ESG (acrônimo para meio ambiente, social e governança) como driver para direcionar os aportes.
“A precificação é a única saída para que esse mercado funcione de maneira adequada. Essa é atualmente a forma mais eficiente para que os agentes econômicos ajam da maneira necessária”, Élbia Gannoum, da ABEEólica
Inclusive, o Brasil pode assumir a liderança no processo de transição energética que visa a descarbonização da matriz elétrica pois há recursos naturais por aqui. Por isso, avalia que a expectativa do que o país pode fazer pelos próximos anos no mercado mundial de energia, é grande. Até porque com o potencial de renováveis e a perspectiva de que o mundo está saindo da era do petróleo para o hidrogênio, principalmente o verde, o país pode ter um grande benefício ser um ofertador de recursos naturais para a economia global de baixo carbono.
“O Brasil possui muitos recursos naturais para a produção de energia renovável, temos vantagens nesse processo”, acrescenta.
Nesse sentido, afirma que é importante modernizar o setor elétrico. E destaca que essa discussão não é de hoje, ainda mais com a perspectiva de abertura do mercado. Em sua opinião o país já possui um mercado com dinâmica para que o ACL seja maior do que é atualmente. E essa importância está no fato de que no passado o suprimento estava associada à oferta e com o governo sendo o responsável pela contratação. Agora, a demanda tem um papel fundamental e o modelo regulatório não tem essa capacidade de gerenciamento.
Élbia destaca que o papel do governo nesse processo é de ser o organizador do ambiente apenas. Os investimentos são feitos pela iniciativa privada. Citou como exemplos bem sucedidos por conta do interesse de investidores os leilões de geração de energia nova e de transmissão com seus altos deságios, reflexo da concorrência proporcionada nesses certames.
Futuro
O futuro é o horizonte a se olhar, nessa estrada até o net zero novas tecnologias estão no foco e se tornarão protagonistas. No Brasil o destaque está para a eólica offshore e para o já citado hidrogênio verde.
A executiva aponta que o investimento em usinas que utiliza a força dos ventos no mar é uma das formas de diversificação da matriz. E que o licenciamento é atualmente o desafio para seu estabelecimento. Lembrou ainda que o MME deverá publicar um decreto com as diretrizes para a fonte, cuja tecnologia está bem desenvolvida em função da aplicação que existe, principalmente na Europa.
Tecnologia Offshore ajudará a diversificar a matriz elétrica brasileira e ajudará a impulsionar o H2 Verde
Além disso, os parques híbridos são vistos como uma forma interessante de expansão e um ambiente que pode promover a integração com baterias. Segundo a ABEEólica, esse futuro, inclusive, não parece estar tão longe, pois em 2025 há a perspectiva de já ser viável do ponto de vista econômico.
Todos esses temas, diz, e muito mais, serão alvo de discussões mais profundas ao longo dos três dias do Brazil Windpower 2021, que continuar a ser 100% digital neste ano e ocorrerá nos dias 10, 11 e 12 de novembro de 2021.