O aumento no preço da energia levará a uma queda de 0,11% no Produto Interno Bruto esse ano, o equivalente a R$ 8,2 bilhões, a preços de 2020. É o que mostra estudo sobre o impacto econômico do preço da energia elétrica, divulgado pela Confederação Nacional da Indústria. O documento conclui que a perda do PIB pode chegar a 0,19% em 2022, ou R$ 14,2 bilhões, e aponta outros impactos, como redução do emprego, do consumo das famílias e das exportações, além do aumento da inflação.
As projeções consideram cenários conservadores, fazendo com que o impacto estimado no estudo seja o mínimo que a economia brasileira sofrerá em decorrência da crise energética, destaca a CNI. Segundo a entidade, o PIB industrial, que contempla indústria extrativa, indústria de transformação, serviços industriais de utilidade pública e construção terá contração de R$2,2 bilhões em 2021.
O consumo das famílias deverá ser reduzido em R$ 7 bilhões com o aumento de 0,16% na inflação, as exportações terão perdas de R$ 2,9 bilhões e 166 mil postos de trabalho serão perdidos.
Com a retração projetada para o ano que vem, o produto industrial de 2022 deve ter redução de R$ 3,8 bilhões a preços de 2020, considerando o que ocorreria em um cenário diferente da crise atual. É esperada uma perda de cerca de 290 mil empregos, queda no consumo das famílias de R$ 12,1 bilhões e redução nas exportações em torno de R$ 5,2 bilhões. Já o impacto inflacionário do custo da energia será de 0,41%.
“É preciso ressaltar que a elevação nos índices de preços às famílias, diante de um cenário em que os preços às famílias já vêm pressionados por elevações nos preços dos alimentos e dos combustíveis, desvia a inflação ainda mais da meta”, alerta o estudo. O documento lembra que nesse cenário o Banco Central também é forçado a elevar mais a taxa de juros, reduzindo o crescimento econômico.
Consumidor
O trabalho também faz uma análise dos efeitos da crise hídrica e energética para consumidores dos mercados cativo e livre. Para o consumidor do mercado regulado, a CNI projeta um aumento médio no preço da energia, em decorrência da correção do valor das bandeiras, de 6,77% em 2021.
Para 2022, o aumento real da energia dos consumidores cativos é calculado em 13,18%. Somado aos 5,62% pelo período de incidência da bandeira escassez hídrica (de janeiro a abril), o aumento médio anual ficará em 18,80%.
Nesse ano, o reajuste das bandeiras já é de 127,5% considerando o aumento do valor da vermelha patamar 2 e a criação da bandeira escassez hídrica em setembro. O peso desse adicional tarifário equivale a 13,23% do total da fatura, e representa um impacto em 16,87% na conta de luz das famílias em relação ao valor inicial da bandeira vermelha patamar 2.
Para os consumidores livres é mais difícil estabelecer um percentual de aumento do custo da energia, mas ainda assim é possível considerar os eventuais impactos a partir da variação do IPCA e do IGP-M, que são os indexadores geralmente usados na correção anual dos preços desses contratos. Em 2021, a inflação medida pelo IPCA está em 8,99% no acumulado de 12 meses até julho, enquanto o IGP-M, acumula alta de 31,12% até agosto.
Numa avaliação de impacto conservadora, levando em conta apenas os desvios do IPCA em relação à meta de inflação, de 3,75%, o percentual é de 5,24% em 2021. Pelas projeções do Boletim Focus do Banco Central, que mede as expectativas de mercado para o ano corrente e para os anos seguintes, a inflação em 2022 é de 4,10%, para uma meta de inflação de 3,5%, com desvio de 0,6% .
Segundo o estudo, os setores de energia elétrica, gás natural e outras utilidades são os que mais sofrem retração, em razão da queda do consumo com os aumentos acentuados nos preços da energia. O setor de alojamento (hospedagem) é o segundo mais afetado, uma vez que a energia representa 11% do consumo intermediário da atividade. A grande presença desse segmento no mercado cativo também explica o impacto maior.
O ranking dos mais afetados tem ainda metalurgia de metais não ferrosos, fabricação de peças e acessórios para veículos automotores, siderurgia e produtos de madeira, que são intensivos no consumo de energia e têm grande participação no mercado livre. Já atividades de comercio e serviços são relativamente menos atingidas que a indústria, conclui o estudo.